terça-feira, 22 de dezembro de 2009

We are golden!

Há milhões de anos atrás (assim me parece), li um livro, o qual amei!
Eu nem namorava aquele que viria a ser o meu marido, mas em uma conversa que tive com ele à época (paquera pura!), disse a ele que estava lendo esse livro.
Eu o li escondido, porque o livro era da minha mãe e imaginei, naquele momento, que ela não me permitiria lê-lo.
Eu era nova demais!

Aquele que viria a ser o meu marido mostrou-se interessado no livro que eu estava lendo (o que uma paquera não faz!) e eu, após terminar o livro, emprestei-o a ele.

Quando começamos a namorar, algum tempo depois, decidimos, graças ao livro, que nossa filha se chamaria Meggie.

Nunca mais reli esse livro.
Li zilhões de livros depois desse.
Mas nenhum igual a esse.

Casei e tive dois filhos.
Dois meninos.
Ainda falta a Meggie...
Eu nem me lembrava mais do acordo feito sobre o nome da nossa menina, há milhões de anos atrás.

Meu filho mais velho gosta muito de ler e eu gosto muito que ele goste de ler.
Comecei a ir atrás de alguns livros que li durante a minha infância para que ele também pudesse lê-los. Alguns achei em livrarias, outros não.
Portanto comecei a procurá-los em sebos e achei todos eles.
Livros da Stella Carr, em sua maioria. Livros que marcaram minha infância.

Enquanto procurava os livros para o Luigi, tive a idéia de procurar também o meu velho livro.
O exemplar que eu li na minha juventude perdeu-se no tempo. Não sei onde foi parar.
Tive vontade de lê-lo novamente, em um misto de prazer e medo.
Prazer pelo reencontro.
Medo de que o encanto se quebrasse.

Juntamente com os livros para o Luigi, comprei novamente o velho livro.
Comecei a lê-lo.
Nem imaginava que, após tantos anos, essa experiência fosse ser tão marcante.

Conforme fui virando as páginas, as lembranças detalhadas foram tomando corpo na minha mente.
Lembrei-me das frases, e de como as palavras foram colocadas (em uma enorme perfeição). O impacto foi até maior do que me foi aos 14 anos de idade.
E eu era uma menina bem legal aos 14 anos de idade.

Cada palavra ocupa um lugar justo no livro. Cada expressão é perfeita e fez parte da minha história.
Degusto-o novamente. Degusto-o novamente e como se fosse pela primeira vez, de novo, o que é delicioso.
O encanto não se quebrou.

Nada é aleatório. Não acredito em simples coincidências.
Exatamente quando estávamos, eu e aquele que tornou-se meu marido, fazendo planos para a chegada da nossa menina, o velho livro voltou para a minha vida.

Meggie!

Nada é por acaso. O velho livro. Os planos e o acordo feito.


Nós não somos somente o que pensamos ser.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Ninguém é uma ilha...

"Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si só.
Se um pequeno torrão de terra, carregado pelo mar, deixa menor a Europa, também a morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à Humanidade"
John Donne

Tenho pensado bastante.
Pensado no caminho que minha vida tomou, e no quanto participei disso.
Pensado no quanto sonhei para mim e no quanto, apesar de não parecer, eu capitulo.

"Eu queria escrever um livro, eu queria compor uma música."

Dizem que no decorrer da vida, você deve plantar uma árvore e escrever um livro.
Plantei duas sementes nessa vida, duas árvores floridas, dois flamboyants de sombra gigante...e ainda não parei.
Escrevendo estou sempre. Se um dia esses escritos terão capa, não sei.
Nem sei se alguém quer lê-los. Escrevo para mim e quem sabe, para meus pais.
E quando eu não mais estiver por aqui, terei escrito para meus filhos.
Para o Lui, para o Joey e para aquela que está por vir.

Preocupo-me com o que me circunda e com o que eu mostro ser.

Hoje não foi um dia bom.
Tinha tudo para ter sido, mas não foi.
Mas também não foi um dia ruim.
Maluco isso, mas apesar de eu ter até chorado (de raiva!), não foi um dia ruim.
Porque, no meu choro, meus filhos cuidaram de mim.
Eles me acariciaram e ficaram, mais uma vez, do meu lado.
Então acho que não estou fazendo um mal trabalho.

Um dia vou envelhecer. Sou muito nova ainda para pensar sobre isso, mas um dia isso vai começar a acontecer.
Minimamente isso já vem ocorrendo, mas nesse estágio, o envelhecer é altamente relativo, porque só me torna mais sábia, mais segura, mais tranquila e mais bonita.
Um dia, esse envelhecer há de tornar-me mais lenta, mais pensativa, mais velha realmente.

Uma flor branca para minha vó, para a Mina e para a Dindinha.
Uma flor branca para a Marisa.
Um adeus para o Seu Jaime.

Só não quero faltar para alguém.
Quero ter dado a quem eu amo, absolutamente tudo o que eu poderia ter dado enquanto estava viva.
E quando eu passar a viver em outro espaço, em outro céu, só quero ter a tranquilidade de esperar por aqueles a quem eu amo de verdade, sabendo que eles continuaram a viver plenamente, a despeito de minha ausência.

Eu sou só uma mãe. É tudo o que eu quero ser, e tudo o que serei.
E meus filhos cuidam de mim, da mesma forma que eu cuido deles.
Pequenas mãos, me acariciando.

Não estou mais em primeiro lugar.
É uma experiência inigualável saber que você é capaz de dar a sua vida, facilmente, e sem hesitar, por outras pessoas.
Saber que você morreria, sem pensar duas vezes, por outras pessoas, que no fundo, são a melhor parte de você mesma.
Por eles preciso perdoar.

E os psicólogos dirão que isso não é saudável. E os terapeutas dirão que isso não é correto. E os psicanalistas tentarão descobrir algo nas entrelinhas.
Mas a verdade é que, a partir do momento que pari pela primeira vez, minha própria felicidade, da forma como costumava ser, é de menor valia.
Minha felicidade é a felicidade dessas duas pequenas almas que moram comigo.
Por elas, eu perdôo qualquer coisa.
Relevo qualquer coisa, para tornar suas vidas mais coloridas.

Mas o mais importante, além de perdoar, é esquecer.
Ainda sou uma aprendiz na arte do esquecimento.
Jamais esqueço...jamais!
Mas sou boa em perdoar.
E vou aprendendo afinal, estou só começando.

Ninguém é uma ilha.
Eu, certamente, não sou. Tenho dois braços fortes, feitos de terra firme, meus filhos, a me prender.
E meu coração, graças a eles, passa a ser um continente.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O lado esquerdo do peito

Hoje o dia amanheceu cinza e chuvoso. Após dias de calor extremo, o dia de hoje amanheceu frio, o que não acontecia há muito tempo.
Portanto, para uma amante do verão, o dia de hoje não tinha nada de especial.

Quando voltei do meu almoço, havia um envelope branco sobre minha mesa de trabalho, com meu nome escrito nele...somente o meu nome.
Perguntei quem havia colocado aquilo ali e me disseram que um motoboy havia trazido aquele envelope, endereçado a mim.

Dentro dele encontrei duas fotos. A primeira mostrava minha turma de colégio, no dia de nossa festa de formatura de 8ª série. Junto comigo na foto havia um monte de gente, alguns que eu vejo a toda hora porque carreguei comigo durante todo esse tempo e outros que não vejo há muitos, muitos anos.
Na outra foto estavam somente eu e duas grandes amigas. Elas estão lindas e delicadas, vestidas de branco. Eu estou de jaco preto e cabelo nos olhos. Minha fase rock and roll estava só começando...

Fiquei maravilhada; por alguns segundos, faltou-me o fôlego.
Degustei todos os detalhes.
Estou tão ali como hoje sinto-me aqui.

Me perguntei quem teria me mandado aquilo. Quem poderia ter tido o desprendimento de perder alguns momentos de seu dia, em um lugar tão caótico quanto São Paulo em uma sexta feira, só para me fazer feliz.

Sempre amei meu colégio. Os anos lá vividos estão entre os mais importantes da minha vida, no tocante à formação da pessoa que sou.
Portanto, amo tudo o que se refere a ele ou às pessoas que fizeram parte dessa história.

Sempre mantive contato com muitos dos meus amigos daquela época, mas depois de um tempo, perdi o contato com alguns que me eram muito importantes. Fiquei assim por muito tempo.
Um dia, há 5 anos atrás, comecei a me lembrar dessas pessoas e me surpreendi por não saber onde estavam. Como pude permitir que pessoas tão queridas se perdessem de mim?
Tive um trabalho danado mas, com a ajuda de algumas pessoas, consegui localizar todas elas e fizemos uma grande festa, a primeira de algumas que viriam.
Criamos um grupo na internet e nos falamos sempre.
Sei onde elas estão e isso, por si só, me faz feliz.

Hoje, ao abrir o envelope e ver as fotos, tive vontade de abraçar os meus amigos.

Quem teria tido o cuidado de fazer uma cópia dessas fotos e me mandá-las, justamente nesse dia cinzento?

E então, depois de várias horas, percebi que havia um pequeno bilhete dentro do envelope. Eu não o havia notado.
E pude saber quem havia me enviado as fotos.
E o bilhete dizia algo sobre a foto mostrar há quanto tempo estamos juntas (e é verdade). E dizia algo sobre o fato de termos, algumas vezes, não estado tão próximas, mas de sempre termos estado no coração uma da outra.

Essa minha amiga não tem a menor noção do quanto me fez feliz. Ela me fez muito mais feliz do que imagina ter feito.
Me fez feliz pelas fotos, pela bilhete adorável e pela constatação de carinho mútuo.
Pelo tempo dedicado a mim e à nossa amizade.
Pelos anos vividos e pelos que ainda vamos viver.
Pela cumplicidade, que só a amizade desenvolvida ao longo de uma existência é capaz de proporcionar.

Eu só agradeço, porque hoje, esse dia cinzento, foi um dia especial.

domingo, 29 de novembro de 2009

The ladder

Acordei bem cedo hoje. Os meninos também, mas eu acordei antes que todo mundo.
Na falta do que fazer, em um dia chuvoso que impediu nosso programa de ir correr e andar de bike no Villa Lobos, vim para o computador baixar música.
Como sempre, fiquei oscilando entre baixar coisas novas e minha infinita vontade de voltar a ouvir aquilo que há muito não ouço.

Depois de um certo tempo, digitei Prince no buscador. Volta e meia baixo algo dele, apesar de ter tudo em CD. Quero tê-lo também no meu Ipod.
Se tem algo que reflete quem eu sou, são as músicas dele.

Entre seus grandes sucessos e outros nem tanto, conheço tudo.
E entre tudo o que conheço existe um disco em especial, que me é marcante.
Não é meu disco favorito dele, mas sim o que mais gosto.
Como assim?

O disco data de 1985 e foi lançado logo após o estouro da trilha sonora do filme Purple Rain. Chama-se "Around the world in a day" e seu lançamento foi, lembro-me bem, sem publicidade alguma.
Fui uma das primeiras pessoas a tê-lo, tenho certeza. Mesmo antes do disco ser lançado no Brasil, algum irmão meu conseguiu gravá-lo em uma fita K7 para mim.
Compartilhei suas músicas e minhas impressões com uma amiga em especial, milhares, milhões de vezes.

Era inverno e fazia muito frio em Pirassununga.
Eu contava os minutos para minhas aulas acabarem, chegava em casa e deitava no chão do meu quarto, banhado com a luz do sol do inverno do interior, colocava minha fita K7 no meu rádio, fechava os olhos e era tomada por aquelas músicas, que me levavam a lugares inacreditáveis.
Eu tinha 15 anos e viajei o mundo com aquele disco.
Around the world in a day, sim!

Quando o disco foi lançado no Brasil, eu já sabia cada nuance de suas músicas de cor.
Ganhei-o de algum outro irmão, logo no seu lançamento.

E a capa...milhares de pequenos detalhes, degustados, em infinitos tons de azul.
E finalmente, as letras.
Pequenos trechos que eu não conseguia entender foram-me desvendados em cada audição detalhada.

Foi tão marcante e tão intenso como só se consegue ser aos 15 anos.

É por isso que só temos 15 anos uma única vez na vida.
Meu coração provavelmente não aguentaria tamanha intensidade novamente.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O carrosel

Gostei desse negócio de escrever enquanto ouço música.
Exatamente agora estou ouvindo "Watching the wheels" do Lennon.

Sou muito boa em algumas coisas, não tão boas em outras. É natural.
Sou boa em ter filhos. Literalmente, em tê-los: meus partos são rápidos, naturais e quase indolores.
Acho-me uma boa mãe. Acho que ser mãe é o que sei fazer de melhor no mundo.

Sou boa amiga e sou boa filha.
Nunca abandono meus amigos, e nunca vou abandonar meus pais, da mesma forma que eles nunca me abandonaram.

Sou boa com música e com as palavras.
Tenho um ouvido mega musical. Até eu me surpreendo com a capacidade dele.

Sou muito boa com bebês. Eles gostam de mim e eu sempre, sempre, gosto deles.
Sou boa em cuidar deles.

Sou boa com crianças de maneira geral, principalmente se elas não tem uma mãe chata, que tem medo de mim. As crianças costumam gostar de mim mais do que suas mães gostam, o que não me importa nem um pouco, uma vez que eu também gosto mais delas do que de suas mães.

Sou uma boa tia para as minhas sobrinhas e uma boa irmã para meus irmãos e irmãs.

Acho que sou uma boa mulher para meu marido.

Sou boa com meu passado, com meu presente e com meu futuro. Não exijo muito do meu futuro e nem me cobro muito quanto ao meu passado.
E o meu presente, eu vivo.
Tenho dois corações infantis pulsando aqui do meu lado, todos os dias, então eu só vivo para eles. Eu vou vivendo, e vou fazendo, e vou corrigindo a rota, e vou alimentando esse dois pequenos corações.
E só.

Me preparo para o próximo coração infantil que, em breve, vai morar nessa casa.
Um coração de menina (assim quer o Klauter, e eu aceito). Estamos escolhendo o nome dela e eu já a imagino.
Não vou "pegar" uma bebê para criar. Não vou pegar ninguém. Eu só vou buscá-la, quando ela chegar, porque ela já é minha e não se "pega" aquilo que já é seu.
Eu só tenho que ir buscá-la, e eu vou.
Minha pequena.
Sou boa nisso também.

Sou boa em gostar de gente.
Não costumo julgar, apenas gosto.
E gosto de uma imensidão de gente, uma mar de gente.
E sempre tem gente entrando nesse mar.

Sou boa em dançar, em correr, em amar.
Faço as três atividades com todo o meu coração.

Sou boa em lembrar, sou boa em não esquecer.

Nunca fui boa com plantas.
Apesar de ter sido criada, e ter sido a queridinha de uma mãe muito boa com plantas, eu nunca fui boa com elas.
Talvez por falta de empenho da minha parte, as poucas plantas que tive sempre morreram, mais cedo ou mais tarde, na minha mão.
E se não morreram, sobreviveram por mérito unicamente delas. Foram sobreviventes.

Cresci vendo minha mãe cuidar de seus jardins incrivelmente bonitos e floridos e tenho fincado em mim o cheiro do chão do quintal da minha casa ao ser molhado pela água que minha mãe usava para regar suas plantas.
O jardim da minha mãe sempre foi, e é, um espetáculo.

Comecei a pensar que eu gostaria de deixar um pouco dessa memória também para meus filhos.
Se não um quintal, ao menos uma varanda com flores.

Agora elas estão lá, na minha varanda. Não são mais meramente sobreviventes.
Eu as rego, coloco ou tiro do sol, alimento os passarinhos que invadem a varanda com néctar fresco e assim vou, torcendo para que não morram.

O Klauter trouxe, há algum tempo, um vaso de orquídeas maravilhoso para casa. Enquanto estava florido, o vaso ficou na sala.
Depois foi morar na varanda.

Minha mãe me disse que as orquídeas não gostam de água em excesso e nem de luz do sol direta sobre ela.

O vaso está lá, só com as folhas. Mas não morreu.
Eu cuido dele e o rego com parcimônia (as orquídeas não gostam de água em excesso, lembre-se) e o protejo da luz do sol direta.

Hoje caiu uma chuva muito forte. Fiquei na varanda, enquanto a chuva invadia o chão e molhava meus pés.
À minha direita estava o vaso.
E então, ao olhar para ele, percebi que está cheio, lotado de botões.
Outras orquídeas vão nascer em breve. Várias delas.
Fiquei muito feliz. Pelas flores e por mim.

Aos 39 anos, eu ainda estou crescendo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

He´s still around

Durante os últimos dias, ou semanas, passei por aquilo que defino como "fortes emoções".
Como sempre, as alimentei.

Vi pessoas que não via há anos, tive saudade de tempos que eram bons demais.
Pensei na menina que eu era, e na mulher que sou e de como nós duas ainda somos parecidas, se não quase idênticas.
Ainda sou eu mesma.

A minha saudade sempre dói.

Minha amiga está grávida. Depois de tantos anos, ela engravidou de novo. A minha querida amiga está tão feliz, e é tudo tão novo, de novo, para ela.
Lembro de quando eu morava com ela, na república, e fazíamos faculdade, e tudo era tão descompromissado. Éramos quase malucas, e ríamos...ainda rimos tanto, e ainda somos, juntas, um pouco malucas, e é por isso que gosto tanto dela.
E ela está tão feliz.

Fui ao shopping dia desses e estava tocando, no som ambiente de uma loja, a música dos meus 16 anos. Não é a música típica de se tocar em uma rádio, então foi um presente de Deus para mim : "But the side of you they'll never see, is when you're left alone with the memories, that hold your life together like glue".
Parei o que estava fazendo, fiquei em pé no meio do saguão, fechei os olhos e ouvi. Ouvi até o último acorde; era só o que eu poderia fazer, a música tocava para mim.

Tenho ouvido "Charlotte Sometimes".
É, eu alimento.

Meu amigo me escreveu um email. Quase nunca nos falamos, por algumas razões que fogem ao meu controle, mas ainda assim, somos grandes amigos.
Eu tinha certeza que ele me escreveria e ele me escreveu.
Carinho sempre.
Ainda sou eu mesma.

Meu outro amigo me escreveu outro email, dentre os vários que ele sempre me escreve. E ele me conta que sua filha está engatinhando e que ele está feliz. E que ele está com saudades.
Nos falamos sempre e somos grandes amigos. Os melhores amigos.
Carinho sempre.
Ainda sou eu mesma.

Ontem, um amigo meu morreu.
Eu nem sabia que ele estava doente, acho que foi tudo muito rápido e só fiquei sabendo, assim de sopetão, que ele havia morrido.
Mal digeri a notícia ontem. Sou assim, algumas vezes esse tipo de coisa bate em mim "atrasado".
Só fiquei pensando no meu amigo.

Hoje chorei.
Pensei em quantas lutas do Mike Tyson assistimos juntos. Em quantas cervejas tomamos juntos, em quantas gargalhadas partilhamos.
Ele era um bom amigo, um amigo querido. E sempre me respeitou.
Fez parte da minha vida, durante muitos anos.
Isso não se esquece.

Ele gostava de mim e principalmente, ele gostava do Klauter.
E o Klauter gostava dele, e eu também gostava dele.
E ele gostava da gente.

Vou sentir saudades dele, muito mais do que estou sentindo agora.
Não existem muitas pessoas a quem podemos chamar de amigo, de verdade, nessa vida. Que gostem da gente de verdade.
Que gostem de quem a gente gosta.
Pois ele gostava.

Mais do que gostar de mim, ele gostava de quem eu gosto.
Sou agradecida por isso, porque sei que era de verdade.

A saudade vem das lembranças que temos.
Dos momentos bons que vivemos em algum lugar de nossas vidas.
Esses momentos estão no passado, porém as lembranças estão no presente.
Elas são fruto da recordação presente que temos do passado.
Então as lembranças estão aqui.
As lembranças do meu amigo estão aqui.
Portanto ele está presente.

Meu amigo ainda está por aqui.



(Texto escrito ao som de "This is the day" - The the)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O "cara" de nossas vidas.

"Life´s a gas, life´s a gas, life´s a gas

So don´t be sad, cause I
I´ll be there
Don´t be sad at all

Life´s a gas, life´s a gas, life´s a gas

Life´s the gas, oh yeah"

Lovely, lovely JOEY RAMONE.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Anger is an energy!!!

Gritar a frase acima me poupa, ainda, anos de terapia.

Colocar o velho disco para rodar, a capa branca, onde se lê somente "PIL", me joga de volta nos anos 80 e o grito de Sir John ecoa muito atual : "Anger is an energy!" (1).

Sou amante confessa do rock and roll. Provavelmente dentre as maiores amantes que o rock and roll já teve.
Não vivo dele, mas sinceramente, vivo também por ele.
E ele, o rock and roll, certamente vive também para mim e em mim.

Foi o rock and roll que me jogou na parte mais perigosa da vida.
Foi ele que me apresentou todas as contravenções ("Hey baby, take a walk on the wild side" (2)) por ele atravessei o lado perigoso, e passeei por lá e lá senti-me, inúmeras vezes, confortável.

Foi o rock and roll que embalou as minhas noites, inicialmente no quintal da minha casa, dançando sozinha no meio da noite, nas noites estreladas de Pirassununga ("...so if I´m gonna die, I´m gonna listen to my body tonight!"(3)).

Foi ele que, posteriormente, inundou a minha noite, bebendo e dançando nos sábados, junto do meu namorado e dos meus amigos ("Chasing the night, it will be allright!"(4)).

Foi ele que me acompanhou a vida inteira ("Let the children lose it, let the children use it, let all the children boogie"(5)).

Ele foi minha irmã ("In the event, that this fantastic voyage..."(6)), ele foi meu irmão ("...despite all the computations, you could just dance to a rock 'n ' roll station and knew it was alright"(7)).

Ele foi minha dança ("Psycho Killer, qu'est-ce que c'est?"(8)) e minha tristeza ("Don´t tell me how to love my baby...he belongs to me!"(9)).

Foi meu desespero ("but from my head to my toes, from my knees to my eyes, everytime I watch the sky, for these last few days leave me alone, but for these last few days leave me alone"(10)) e minha alegria suprema ("Remember, I'm the one who loves you, you can always give me a call, turn to me, turn to me, baby turn to me"(11)).

Foi ainda a minha felicidade mais simples ("Your eyes are burning holes through me..."(12)).

Ele é minha pura juventude ("Into the sea, you and me, all these years and no one heard..." (13)) .
Por ele, esperei a música toda somente para ouvir a frase final (Ha, gitalong, gitalong, working for the Clampdown!"(14))

Foi ele quem me apresentou o perigo, embalou minha vida no limite do fogo e me salvou.
Ele me salvou ("Hey!, been trying to meet you..."(15)) e me apaixonou novamente ("You can't crucify yourself, no, that takes two, maybe you could use some help, and if you do, just say you do."(16)).

Ele me fez chorar em finais de filmes ("Listen to the girl, as she takes on half the world, moving up and so alive, in her honey dripping beehive, beehive it's good, so good, it's so good...So good"(17)).

Ele ainda me trouxe, depois de tantos anos, a mais crua adrenalina (" I miss the last bus, we take the next train, I try but you see, it's hard to explain" (18))

O rock and roll batizou meus filhos...

A ele devo toda a minha energia.
Ele é o sangue das minhas veias.

Ele sou eu e eu sou ele.




Citações :
1 - PIL - Rise
2 - Lou Reed - Walk on the wild side
2 - Prince - 1999
4 - Ramones - Chasing the night
5 - Bowie - Starman
6 - Bowie - Fantastic Voyage
7 - Lou Reed - Rock and roll
8 - Talking Heads - Psycho Killer
9 - Ramones - She belongs to me
10 - New Order - Leave me alone
11 - Lou Reed - Turn to me
12 - REM - Electrolite
13 - The Cure - The Lovecats
14 - The Clash - Clampdown
15 - Pixies - Hey!
16 - Frank Black - Can`t crucify yourself
17 - Jesus and Mary Chain - Just like honey
18 - Strokes - Hard to explain

domingo, 18 de outubro de 2009

Marcel...burn it down!

Fui ao cinema.
Ir ao cinema é um mega programa para mim, porque amo tudo o que diz respeito a isso. A escolha do filme, as leituras das críticas que antecedem a escolha do filme, comprar ingressos, a sala escura, os traillers, o filme e o pós filme.
Aquela sensação de ter vivido outra vida, uma outra história, sempre me invade após um bom filme.

Pois então, fui ao cinema.
Fui assistir "Bastardos Inglórios", último filme de Quentin Tarantino.
Porrada!

Vivi realmente, durante as quase três horas de projeção, outra realidade, outras vidas.

O filme é tipicamente Tarantino, cheio de violência e sangue, mas também cheio de situações tragicamente cômicas.
Um mega filme.
Me pegou em cheio, pelo assunto que aborda e pelo ponto de vista sobre o assunto.

Já relatei aqui que fui criada por pais que tem verdadeiro horror aos sistemas totalitários.
Fui criada também em uma família cheia de misturas étnicas, sendo eu uma salada composta por sangue português, mouro, índio, negro e holandês.
Dessa forma, pelo horror ao totalitarismo e por ser eu totalmente miscigenada, reprovo todo e qualquer tipo de preconceito.
Tenho amigos negros, brancos e orientais, ricos e pobres, judeus, católicos, espíritas, agnósticos, homossexuais e heterossexuais.
Tenho amigos, simplesmente.

Sempre que ouço falar de alguma ação preconceituosa, ela parece-me totalmente estúpida.
As ações preconceituosas me causam repulsa e me policio para nunca, mesmo que inconscientemente, cometê-las.

O filme de Tarantino se passa no Terceiro Reich, na época da dominação nazista na Europa.
Os Bastardos Inglórios eram um grupo de pessoas que combatia o nazismo, exatamente da mesma forma que o nazismo tentava se projetar, ou seja, através da violência absoluta.
De uma forma emblemática, Tarantino mostra o que a maioria de nós sempre quis ver, o movimento nazista ser combatido com seu próprio veneno composto de terror, violência e maldade.
E o filme é isso, a vingança judia tomando corpo e chegando ao sucesso.
O doce sabor da vingança.

Parece-me contraditório, da minha parte, ter tido tanto prazer em ver essa vingança, ainda que somente em um filme.
A vingança foi soberbamente violenta e eu, sendo contrária ao totalitarismo, devo colocar-me contra os atos violentos também.
Mas, pelo horror que o nazismo sempre me causou e ainda, como um reconhecimento às minhas amigas judias, devo assumir que adorei ver tal vingança.

O melhor seria que o Terceiro Reich nunca tivesse ocorrido.
Mas, já que ele ocorreu e eu nada posso fazer para mudar a história, repito com prazer :

"Marcel...burn it down!"

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O começo, o meio e o sim!

Sou uma mulher de muita fé.
Fui criada para tê-la.
A mim, é importante tê-la.

Sou uma mulher que acredita, piamente, na existência Divina, no Criador, Aquele que tudo sabe, que tudo vê.
Portanto, acredito em vida após a morte. Não tenho dúvidas sobre isso.
Como prová-la? Não sei, ninguém sabe.
Mas para quem tem fé, o que importa é saber. E eu sei...

Nunca pensei que a vida terminaria aqui. Nunca pude acreditar que pessoas como meus pais acabariam no momento de suas mortes.

Após o nascimento de meus filhos, tive a plena certeza que eles, meus filhos, assim como meus pais, continuarão.
Portanto, eu continuarei.
Me é inconcebível a idéia de que seres tão maravilhosos quanto os meus filhos podem, simplesmente, "acabar". Isso nunca!
Tenho a certeza absoluta que eles continuarão.

Há algum tempo atrás, ouvi: "A vida não acaba na morte, e outra recomeça. A vida simplesmente não acaba. Após a morte, a vida que teremos é a mesma vida que temos até agora, é a mesma vida, porque a vida NÃO TEM FIM".

Sendo assim ( e eu acredito nisso), eu continuarei, durante toda a minha vida, agora ou após a minha morte, a ser quem eu sou. Serei portanto, a pessoa que sou hoje, vivenciando todas as experiências que eu mesma escolhi para mim.

E quantas vidas eu tiver, e sabendo ser sempre a mesma vida, eu serei eu mesma, e farei as mesmas escolhas.

Eu serei a filha do Dácio e da Carolina, sempre!
Eu serei a caçula, a mais nova depois daqueles 8 barulhentos. Eu serei a irmã dos meus irmãos e a irmã das minhas irmãs.
Eu serei a neta da Maria.

Eu serei a vizinha da Alessandra, eu serei a sua amiga eterna, eu serei a terça parte da irmandade formada por nós três, por mim, pela Lê e pela Paty.
Eu as escolherei para serem minhas irmãs.

Eu serei a menina do Kennedy, eu serei a boa aluna, que gosta de estudar, a aluna levada e risonha. Eu serei a amiga de todos.
Eu serei a confidente da Fer, eu a escolherei para ser a minha.

Eu serei a corredora, a bailarina.
Eu serei aquela que escreve.
Eu serei aquela que chora de tanta felicidade, e também de tanto medo.

Eu serei aquela que tem Bowie como trilha sonora da vida.
Eu serei aquela que dança ao ouvir o primeiro acorde de qualquer música do Prince.
Eu serei aquela que tem na boca o gosto da infância e da adolescência ao ouvir Lou Reed.
Eu serei aquela que sela novamente seus laços de matrimônio, a cada vez que ouve Ramones.
Eu serei aquela que, a cada música do Frank Black, se sente mais e mais apaixonada pelos homens da minha vida.

Eu serei, sempre, a namorada do Klauter, a mulher dele, a quem ele escolheu para dividir a vida. Eu serei aquela que foi agraciada em tê-lo por perto.
Eu serei aquela a quem ele abraça durante a noite.
Eu serei, sempre, a mãe dos seus filhos.

Eu serei, sempre, a mãe dos meus filhos.

Eu serei aquela que acorda de noite para cobrí-los. Eu serei aquela que se emociona com gestos, desenhos e lições de casa.
Eu serei aquela que se emociona com pés que crescem sem parar, com corpos em mutação. Corpos por mim gerados e por mim, diariamente, alimentados.

Eu serei a mulher que sou hoje, com as escolhas que fiz, e que me fazem confortável.
Nada foi ao acaso. Eu escolhi tudo o que está ao meu redor.

E escolhi inclusive as saudades. Eu escolhi ter saudades, porque escolhi não esquecer. E só tem saudades quem se nega a esquecer.

Eu serei o que sempre fui, e o que sempre serei. Com todas as minhas escolhas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Algodão Doce!

Quando engravidei do meu primeiro filho, fiquei muito ansiosa com "como seria"...com quem ele ficaria quando eu voltasse a trabalhar, e quem cuidaria dele na minha ausência, e a quem eu o confiaria...
Minha mãe, do alto de sua experiência de "criadora" de 9 filhos me disse : "Pessoas boas encontram boas pessoas no decorrer de suas vidas."

E assim foi.
Não sei se sou uma pessoa boa, mas não sou má. Me esforço para ser boa, e tenho consciência do caminha longo que tenho pela frente...mas não sou, definitivamente, má.

E no meu caminho, Deus colocou, verdadeiramente, pessoas boas.

Quando estava me preparando para voltar a trabalhar, o que é um martírio para qualquer mãe (ao menos para mim foi), saí conhecendo várias escolinhas na região de Pinheiros, onde moro.

Uma delas foi a "Algodão Doce Colorido".
Quem meu recebeu foi a Tucha, a dona da escola.
Mal sabia eu que, aquela mulher loira, olhos claros, viria a fazer parte, tão fortemente, dessa família morena que é a minha.

O Luigi foi para lá com 4 meses de idade.
Com o passar do tempo, tive a certeza absoluta de ter feito a escolha certa.
A Tucha se tornou nome constante em nossa casa, presença certeira em nossas vidas.

Logo depois, o Joey foi para lá também, aos 5 meses de idade.
Eu só sofria de saudade, mas sabia que, na minha ausência, não existiam pessoas melhores para ficar com ele.

A Tucha tem 2 filhas, a Fernanda e a Claudinha. As duas são peças imprescindíveis para essa coisa maravilhosa que é o Algodão Doce Colorido.

O Luigi cresceu e assim, foi estudar em outra escola.
Ano que vem é a vez do Joey.

Sei que nunca vou encontrar, em lugar nenhum, o que encontrei lá.
Sei que nunca terei, em lugar nenhum, a tia Tucha, que mesmo brava, em algum momento, com meus meninos, nunca deixou de amá-los.
Sei que nunca terei, em nenhuma outra escola, a tia Fernanda, para conversar no portão, e rir de experiências mútuas.
Sei que nunca mais terei, em nenhum lugar, a tia Claudinha, para rir de pequenas bobagens.

Vai me doer muito não ter mais filhos no Algodão Doce.
Mas sei também que essa é uma dor momentânea, porque nosso terceiro filho (ou filha) chegará um dia (em breve, espero!), e é para lá que ele, ou ela, vai.

Vai para o colo da tia Tucha.

Prometo a mim mesma que, enquanto isso, eu vou continuar indo lá, dar um beijo nelas.
Eu quero continuar indo às suas festas juninas, tomar chopp e comer churrasquinho.
Quero agradecer a elas, sobretudo...

Queridas, obrigada pelo Algodão Doce Colorido e por todos esses anos maravilhosos, partilhados.
Vocês são mais que coloridas...vocês são um arco-iris.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Contadoras de histórias

Até mais ou menos o final de minha adolescência, eu tive duas casas.
Uma delas, obviamente, era a casa de meus pais, onde fui criada. Até hoje, a casa de meus pais é meu porto seguro e minha base afetiva.

A minha segunda casa foi a casa da minha vó.
Eu era frequentadora assídua da casa da minha vó.
Passei manhãs, tardes e noites na casa da minha vó.
Eu podia ir sozinha, porque não precisava andar na rua para chegar até lá.
Meu pai construiu um portão que dava acesso à casa dela, por nosso quintal.

Eu gostava do cheiro da casa e gostava de ver a Bíblia Ilustrada descansando sobre a mesa, de frente à porta de entrada.
Eu gostava de ver o galinho português. Gostava sobretudo de estar perto delas, da minha vó Maria, da Dindinha e da Mina.
Mesmo quando tornei-me adolescente, não me distanciei. Continuei indo lá todos os dias, para conversar, ver novelas, tomar sopa, comer macarrão e cuzcuz e chupar balas de mel.

Lembro-me que uma das coisas que eu mais fazia, ao visitar minha vó, a Mina e a Dindinha, era ver o álbum de fotografias delas.
Era um álbum antigo, de capa de couro e com aquelas folhas de seda rugosa separando as páginas das fotos.
Cada foto era pregada no álbum por quatro pequenos triangulos de papelão rígido, que seguravam as fotos pelos seus ângulos.
Vi esse álbum inúmeras vezes.

Lá havia fotos da minha mãe, das minhas tias e do meu tio quando crianças.
Havia fotos de pessoas que eu nunca conheci, mas cresci ouvindo seus nomes.
Lá havia fotos de meu avô Antônio, pai da minha mãe, que ela mal conheceu, porque ele morreu muito cedo...nós não o conhecemos, mas carregamos suas sobrancelhas.

Graças às fotos, pude ter na minha mente a fisionomia de meu avô. Ele é pai da minha mãe, portanto, como eu poderia ignorar seu rosto?
Meu avô português que nos deixou de herança esse sangue mouro, que todos nós carregamos.

Gosto de fotos desde sempre.
Adoro vê-las, vasculhar caixas ou álbuns antigos, recheados delas.
Não me canso de olhá-las.
Na minha bolsa, sempre há uma máquina fotográfica.
Um dos meus grandes prazeres é fotografar.

Fotografo os meus filhos fazendo tudo e qualquer coisa. Adoro registrar seus rostinhos.
Também gosto de fotografar momentos especiais com meus pais. Quero guardar meus pais para sempre. As fotos, de alguma forma, me permitirão isso.

Gosto de fotografar Pirassununga. Gosto de tornar perene a imagem de seus ipês, suas sibipirunas, suas casas antigas e prédios de época.
Gosto de fotografar suas ruas.
Ando sozinha pela cidade e vou fotografando. Varandas de casas, calçadas repletas de floradas que despencaram das árvores, suas crianças que podem brincar na rua...fotografo tudo, orgulhosamente.

A fotografia tem alma e conta uma história, para quem se interessar em ouví-la.
Foi um prazer que consegui identificar há pouco.
Nunca pensei que pudesse ter tanto prazer em algo tão simples.

Mas eu adoro. Saio pelas ruas e vou fotografando. Tudo pode ser interessante, só depende dos olhos de quem enxerga.
Vou fotografando e entendendo.

Entendendo porque aquela menininha de 7 anos, que eu fui um dia, sentava-se na sala da casa da minha vó, com os pés mal encostando no chão, segurava o velho álbum de fotos e pela enésima vez, sentia-se feliz com aquilo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As mães e seus filhos...os filhos e suas mães

Hoje trabalhei até tarde. Bem mais tarde do que de costume.
Monitorei a vida dos meus filhos no período...remotamente, mas monitorei.

Quando finalmente terminei minha jornada de hoje já era noite. Liguei meu celular a vi que havia 6 novas mensagens em minha caixa postal.

Comecei a ouvir as mensagens e eram todas do Joey, meu filho caçula.
Ele tem 6 anos.
Comecei a ouvir os recados, meio que sorrindo enquanto me arrumava para ir embora.
Parei de me arrumar para prestar a atenção devida aos recados do Joey.
Eram todos, sem exceção, no mesmo tom, relatando pequenas sacanagens (que ele assim julgava) que o irmão mais velho estava fazendo com ele e que ele queria me relatar para que "eu desse um jeito" quando chegasse em casa.

Um dos recados começava assim : "Mamanhê, desculpe o "chateamento", de te ligar tantas vezes, mas é que eu gosto muito de você..."

Nada mais me importa...ele gosta muito de mim!

Até bem pouco tempo atrás, eles me davam um mega trabalho operacional. Recolhe roupa, arruma bagunça, almoço, janta, calça que rasga na primeira vez que usa, homeopatia a cada meia hora, briguinhas, choro e manha.
Eles ainda me dão esse mesmo trabalho, mas aos poucos, outro tipo de trabalho foi sendo inserido em minha vida.
O trabalho de me preocupar com suas ações, com o tipo de homem que eles serão.

Meu filho mais velho tem 9 anos e já é, em vários sentidos, um pequeno rapaz. Ele tem testado o meu limite e testado seus próprios limites.
Ele me preocupa por seu comportamento na escola, por seu modo "ativo demais" de ser, por sua curiosidade e questionamento excessivos (assim eu acho).

Tenho brigado muito com ele...mas também tenho conversado muito, aconselhado, dado exemplos, contado histórias (ele ama histórias).
O que mais posso fazer? O que mais posso dizer a não ser a verdade?
"Não importa o quanto você erre...vou estar sempre aqui.
Só não quero que você se afaste de mim."

Venho tentando, arduamente, ser uma boa mãe. Cometo erros, aos milhões, mas peço desculpas e começo tudo de novo.
Tenho certeza que quando eles forem adultos, olharão para trás, para suas infâncias, e se lembrarão de mim como uma boa mãe.
Tenho certeza disso.

Porque eu sou, durante todo o tempo que respiro, mãe deles.
Não há um único momento em minha vida que eu queira me libertar disso.

Sei que estou só começando. Mal sei o que me espera, mas imagino.

Sonho que cresçam, e que assumam papéis que os façam felizes. Que encontrem mulheres que os amem, que tenham filhos, que sejam homens do bem, honestos e decentes.
Que sejam saudáveis e tenham amigos verdadeiros.
Desejo tudo isso a eles.

Mas suas almas estarão sempre comigo. Eu sou mãe, e isso é o que de mais importante um ser humano pode ser na vida.
Eu sou mãe, e a alma de meus filhos pertence sim, a mim.

sábado, 12 de setembro de 2009

Princípios para a ação

Nasci e cresci em uma família bastante "politizada". A verdade é que nós, lá em casa, sempre temos opinião sobre os mais diversos assuntos, e gostamos de conversar sobre tudo.

Nasci em 1970, na parte "dura" da ditadura militar.
Um dos meus irmãos nasceu em 1964, bem quando ocorreu o golpe militar.
Vivi meus primeiros 18 anos em Pirassununga, onde existe um grande regimento do quartel e a AFA - Academia da Força Aérea (graças ao céu de Pirassununga, indiscutivelmente o céu mais bonito do mundo).
Sendo assim, Pirassununga viveu muito a "era dos militares".

Meus pais não eram militares. Realmente não, de forma alguma.
Meus pais eram professores. Partidários da informação, do poder da informação.

Cresci ouvindo meus pais contarem sobre a ditadura militar. Sempre interessei-me muitíssimo pelo assunto.
O golpe, a morte do estudante, a missa na Candelária, os padres protegendo os participantes, a luta armada, o DOI-CODI, as torturas, o exílio...enfim, eu sempre quis saber de tudo e meus pais sempre me deram as respostas.

Meu pai teve muito receio de ser preso quando ocorreu o golpe, unicamente porque ele era professor e como professor, seria visto como "comunista" e sendo assim, inimigo do "estado".
Meu pai nunca foi comunista, mas ele realmente era contra, fortemente, àquilo tudo que estava acontecendo naquela época.
Ele tinha 8 filhos para criar (eu ainda não havia nascido) e acho que isso o impediu de ir às ruas, gritar contra o golpe.
Mas ele passou à cada um dos seus filhos o horror à ditadura, aos sistemas totalitários, ao poder imposto.
Ele fez, portanto, muito mais do que ir às ruas...ele perpetuou o nojo ao totalitarismo, através de seus filhos.

Durante minha adolescência, li tudo o que achei sobre a ditadura militar. Em especial, li um livro chamado "1968 - o ano que não terminou" do Zuenir Ventura.
Li esse livro mais de uma vez.

Sei muito do que ocorreu naquela época.
Sei muito mais do que as pessoas da minha idade geralmente sabem.

Certa vez, quando eu era adolescente, meu pai me contou que, no auge da ditadura, vários livros foram proibidos e quem os tivesse em casa correria grande risco de se meter em sérios problemas.
Ele me disse que as pessoas costumavam fazer fogueiras em seus quintais para queimar os livros que eram proibidos e, dessa forma, se houvesse uma invasão às suas casas, nada seria encontrado.

Minha casa tinha um quintal grande, onde certamente meu pai poderia ter feito sua fogueira e queimado seus livros proibidos.
Na minha casa certamente havia fogo, para queimar a fogueira.

Mas para meus pais, livros são para ser lidos, e não queimados.
Meu pai não queimou um livro sequer...
Ele os enterrou.

E o quintal que serviria de casa para a fogueira destruidora, serviu de abrigo aos livros proibidos, guardando-os em um buraco fundo, feito pelo meu pai, enquanto a ignorância governava o país.

Ele me contou essa história muitos anos depois, quando os livros já estavam todos desenterrados.
Eu ouvi, maravilhada!

E vários anos depois, enquanto conversava com ele, ele abriu uma gaveta e me deu, de presente, um desses livros. O livro se chama "Princípios para a ação". Foi talvez o maior presente que alguém me deu na vida.
Nunca me esqueci, e o livro está do lado da minha cama.
E foi meu pai que me deu.
Ele o guardou, o enterrou, o desenterrou e o deu para mim!

É um livro lindo, que vai ficar comigo para sempre.
Assim como os exemplos de meus pais.
Assim como a coragem de meus pais, e a fidelidade aos princípios.
Nossa alma não tem preço, nossa alma não se compra!

(Texto escrito ao som de "Spirit on the water" de Bob Dylan)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Cora!

"Todas as Vidas"

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado, acocorada
ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de São-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha, e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida - a vida mera das obscuras!

Cora Coralina - 1889/1985

("Cora Coralina - Coração do Brasil" - exposição a partir de 29/9 no Museu da Língua Portuguesa)

Eu só me atrevo a citá-la porque minha admiração é imensa!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A fotografia

Eu, mais uma vez, estive em Pirassununga esse final de semana.
Tenho a impressão que, conforme os dias passam, eu me torno cada vez mais, pirassununguense.

Eu, mais uma vez, tive a felicidade de poder estar no lugar que mais amo no mundo e de poder fazer as coisas que mais gosto : desfrutar de meus pais, visitar a Lelê, correr nas ruas amadas, cedinho, ver meus filhos se divertirem no grande quintal de seus avós.

Meus pais tem, na minha casa de Pirassununga (eles dizem que a casa é minha também, então eu acredito e me aposso mesmo!), uma parede repleta de fotografias.
E eu amo fotografias.
A cada vez que vou lá (e eu vou com muita frequência, graças a Deus), tem uma foto nova, adornando a parede de fotografia de meus pais.
Meus pais são pessoas maravilhosas e eu tenho a impressão que eles fizeram essa parede só para meu deleite.

Quando cheguei em Pirassununga, nesse último final de semana, e entrei em casa, notei que havia outra foto, uma foto nova, mas não na parede de fotografias, e sim em outra parede. A foto estava em "destaque".
Cheguei perto para ver e meu coração ficou muito pequeno.
Muito pequeno, apertado, mesmo!

A nova foto mostrava a fachada da casa velha, da qual tanto já falei.
E a foto me hipnotizou.
Não consegui parar de olhá-la.

Que linda ela era, a minha casa velha!
Quantas vezes atravessei seu jardim, correndo, para abrir o portãozinho e entrar no carro do meu namorado.
Quantas vezes esperei meu namorado chegar, sentada no degrau que antecedia a calçada.
Quantas vezes postei-me na sacada, reclamando internamente da monotonia da cidade pequena.

Quantas vezes senti-me orgulhosa, por dizer que eu morava lá...

Porém agora eu pude ver, e não somente imaginar...eu pude ver, realmente eu pude ver o gramado do jardim, a escadinha do terraço, o portão, o portãozinho, a primavera despencando com o peso de tantas flores, a sacada, a rampa da garagem.
Eu pude ver de novo a minha casa...aquela que não existe mais, a não ser dentro de mim.
E desejei ter olhado mais para ela, ter guardado mais cada detalhe, cada pedacinho dela.

E pensando bem, acho que posso entender o porque desse meu sentimento.

Inúmeras vezes me perguntei porque meus irmãos não sentem a saudade que sinto da casa velha (ou se sentem não dizem).
E acho que percebi porque.

Aos 18 anos eu saí de Pirassununga, mas eu nunca deixei Pirassununga, não de verdade.
Por muitos anos, eu voltei todo final de semana, porque meu namorado estava lá.
Depois, eu voltei sempre, se não a cada final de semana, ao menos a cada 15 dias, porque meus pais estavam e estão lá.
E eu gosto de estar lá, mais do que de estar em qualquer outro lugar que não seja a minha casa. E meus pais sempre me dizem que lá também é a minha casa. E eu acredito!

Então, Pirassununga nunca saiu de mim e eu nunca sai de Pirassununga.

Algumas pessoas dizem que são cidadãos do mundo. Acho isso muito bonito e chego a invejar quem consegue não ter raízes.
Mas eu não sou assim.
Eu sou cidadã pirassununguense e isso se reflete no que senti quando vi a fotografia da fachada da minha casa velha.

Eu senti saudades, saudades da minha história, saudades de mim mesma, da minha meninice, da minha juventude tão sem responsabilidades.
Saudades de tanta coisa que não consigo nominar.
Saudades da segurança de ser cuidada, de ser filha.

Senti saudade daquela casa que não existe mais, a não ser dentro de mim.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A vida sem ela

Acho que todas as meninas, em um determinado ponto de suas infâncias, adotam um modelo de pessoa, na qual se inspiram, à qual admiram.
Ao menos comigo foi assim.

Eu tive esse modelo.
Era uma menina, mais velha que eu uns 5 anos, linda, doce, amável, adorável.
Ela era namorada de um dos meus irmãos. No início do namoro, eu dizia não gostar dela (êta possessividade!), mas ela foi, com seu jeitinho, me conquistando.
Ela se tornou uma das pessoas que mais amei na vida.

O nome dela era Marisa, ou Má, para mim.
Ela era tão doce, tão franca, tão presente que ouso dizer que ela me amou também.

Ela namorou meu irmão bastante tempo. Ao menos para mim, na minha cabeça de menina de 11, 12 anos, foi bastante tempo. Foram alguns anos, disso tenho certeza.
Eu sempre estava por ali, rodeando os dois, porque queria ficar perto dela.
Meu irmão ficava bravo, mas ela não.
Ela me chamava, e conversava comigo e a voz dela... a voz dela!!!

Mesmo depois do fim do namoro, continuamos muito próximas. Eu já era uma mocinha e ela nunca me abandonou.
Ela me telefonava, e se preocupava comigo, e respondia às minhas inúmeras cartas, e me comprava pequenos presentes e mandava entregar, tímida como ela só, para não ter que ligar em casa e correr o risco de meu irmão atender ao telefone.

Ela me levava para tomar sorvete, mesmo quando ela estava de regime (ela era linda, irretocável!!), ela me ouvia e ouvia todas as minha bobagens sem desmerecer nenhuma delas.

Como um anjo, ela ficou pouco comigo.
Ela foi embora quando eu tinha 16 anos.
Eu queria mais dias, mais meses, mais anos com ela.
Mas a verdade é que, de verdade, os anos que tive com ela foram suficientes...suficientes para que ela me mudasse, inexoravelmente. Foram suficientes para que ela me moldasse, inexoravelmente.

E a voz dela...

Às vezes, tenho que me esforçar para lembrar-me da textura do cabelo dela, ou da cor da pele morena dela, ou ainda dos detalhes do seu rosto...mas a voz dela permanece como rocha, como alma dentro de mim...a voz dela era puro veludo.

Eu chorei, gritei, achei que fosse morrer, e depois me culpei por ter continuado a viver, e a ser feliz, apesar da perda dela.
Quem pode me culpar? Eu era só uma menina!!!

Com o passar dos anos, volta e meia eu sonhava com ela. Era natural, afinal, ela era parte da minha vida e eu nunca deixei de pensar nela, de sentir a falta dela, muito.

Alguns anos após ela ter partido, eu tive um sonho diferente com minha amiga. E isso aconteceu há muitos anos atrás.
Sonhei que eu estava andando em uma rua e ela parou do meu lado. Eu a vi, sorri, disse que estava com saudades e a abracei.
Ela me abraçou de volta e disse :
"Eu vim para te dizer uma coisa : pare de pensar tanto em mim e procure fazer novas amizades!"

Depois disso, eu nunca mais sonhei com a Marisa.
Então eu acredito que foi ela mesma quem veio e percebendo minha saudade, me deu esse conselho.
Ela ainda estava cuidando de mim.
E ela estava cuidando de mim porque também me amava, o mesmo amor que eu sentia por ela.

Incrível como nada disso ficou no passado.

Eu penso nela com muita frequência, mas não conto para ninguém.
Eu choro, às vezes, de saudade dela, mas não conto para ninguém.
São 22 anos sem ela. E nada ficou no passado.
Gostaria que ela me visitasse de novo...

Eu peço a ela que cuide dos meus filhos, assim como sei que ela cuida de mim.

domingo, 16 de agosto de 2009

E o rei se foi...

"Just pretend,
I'm holding you
And whispering things
soft and low

And think of me,
how it's gonna be,
Just pretend
I didn't go

When I walked away,
I heard you say
If you need me,
you know what to do

I knew it then,
I'd be back again
Just pretend
I'm right there with you

And I'll come flying to you, again
All the crying is true
Oh, I will hold you and love you again
But until then, we'll just pretend

Oh, it's funny
but I can't recall
the things we said
or why you're crying

But now I know
it was wrong to go
I belong
here by your side

Yes I'll come flying to you, again
All the crying is true
Oh, I will hold you and love you again
But until then,
we'll just pretend

Oh, I will hold you and love you again
But until then, we'll just pretend"

32 anos sem Elvis...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Tetererê tetê!

Sou uma pessoa criada nos anos 80.
Nasci em 1970, mas sou verdadeiramente, fruto dos anos 80.
Flashdance. Footloose. Tem tudo a ver comigo.
Sou puro fruto das academias de aeróbica dos anos 80.
Fui praticante assídua da aeróbica de alto impacto, a chamada ginástica aeróbica esportiva.
Milhões de aulas, algumas lesões, suor, som alto, saltos, giros...é disso que eu gosto.
Energia e dança, malhação e dança, mescladas em uma mesma aula.

Um dia, já há bastante tempo, não me lembro bem quando, assisti a um programa de TV onde uma mulher era entrevistada. Ela era professora de dança, mas totalmente diferente do que vira até então.
Ela era pura energia, energia crua. Tudo o que mais gosto.
Ela estava dizendo algo sobre dançar, e suas crenças sobre o dançar e ainda, a felicidade obtida ao dançar.
Só pensei : "Eu preciso fazer aula com essa mulher!"

A entrevista só dizia o nome dela.
Na internet, tentei descobrir onde ela poderia dar aula.
Minha ansiedade dizia que, morando em uma cidade do tamanho de São Paulo, a probabilidade dela dar suas aulas do outro lado da cidade era imensa, o que me impediria completamente de ser sua aluna.
Ainda assim pesquisei, e pesquisando achei. Ela era dona de uma academia de dança, e essa academia ficava a exatos dois quarteirões da minha casa!!!!!

Estava escrito em minha história, só pode ser!
Tetererê tetê!

Em Fevereiro de 2003 matriculei-me para ser sua aluna. Eu tinha um filho de 2 anos e um bebê de 2 meses.
Eu amamentei e corri para a minha primeira aula com ela.

Entrei na sala, ela sorriu (ela sempre sorri) e perguntou meu nome e se eu já havia dançado antes.
Eu nasci dançando!!

Contei a ela dos inúmeros anos submersa no ritmo alucinante da aeróbica. Contei a ela dos inúmeros anos de treino sentada em frente ao piano.
Contei a ela que a música é minha irmã e o movimento, meu irmão.

Fiz a primeira aula, e soube, sem perceber à época, que não seria mais capaz de viver sem.
Lembro-me bem que, ao término da aula, tão diferente das minhas aulas de aeróbica, mas ainda assim tão igual, ela me segurou pelo braço, à saída da sala, e disse sorrindo : "Gostei!"

A partir desse dia, já se somam 7 anos dançando com a Helô.
Nesse Dezembro próximo, serão 7 espetáculos nos quais me apresento, com nosso grupo de dança.
Não abro mãos das minhas aulas por nada desse mundo.

Minha professora tem um ouvido apuradíssimo, o que para mim é essencial.
Minha professora trabalha minha musculatura, o que para mim é essencial.
Minha professora verdadeiramente se preocupa com seus alunos e os trata, independente de quem são, com o mesmo carinho e atenção, o mesmo desvelo.
Da melhor aluna à iniciante, todas para ela, sem exceção, tem a mesma importância.

Minha professora é engraçada, o que é, sem dúvida, a qualidade que mais admiro nas pessoas.

Ritmo no ritmo, sua aula parece ser montada sobre uma partitura, tamanha a perfeição melódica e rítmica sobre a qual é construída.
E quando a coreografia exige 6 tempos ela solta seu indefectível : "Tetererê tetê!".

Tops, calças, sapatilhas, tênis de dança, figurinos, barras...tudo isso voltou a fazer parte da minha vida, há 7 anos.

Eu nunca falto.
Sou 100% CDF, como ela mesma já me disse.

As aulas da Helô fazem bem ao meu espírito.
Mais do que trabalharem as minhas pernas, ou meu abdômen, ou meus braços, ou minha lombar, ou minha postura, as aulas da Helô trabalham minha alma.
E ela sabe disso, e assume integralmente a responsabilidade sobre isso.

E quando eu volto das aulas, quando entro na minha casa, eu me sinto sempre, e cada vez mais, um pouco mais mulher.
E é sempre bom ser um pouco mais, e cada vez mais, mulher.

E eu sei que estava escrito, no meu destino, ser aluna dela.
Porque eu nasci para ser feliz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Rock and run

Eu sei bem quem eu sou.
Sei bem as coisas das quais gosto e o tipo de pessoa com quem dou-me bem.

Gosto da energia do corpo. Gosto de suar.
Gosto de sentir-me dona do meu corpo. Gosto de comandar pernas e braços
Gosto do movimento do corpo, da força muscular.
Gosto do exercício do corpo, da habilidade corporal.
Gosto de sentir-me forte, saudável.

Vivo descobrindo novos prazeres.
Dentre eles, um dos maiores que descobri, já há vários anos, é o prazer de correr.
Gosto de correr pelo correr. Deslocar-me rapidamente sem precisar de nada além das minhas próprias pernas.
Sentir-me dona do meu corpo, rainha da minha vontade. Contra o cansaço, mais um pouco de energia.

Eu treino. Mas não gosto muito de treinar. Treino somente para poder correr mais e melhor.
Eu gosto mesmo é de correr.
Livre, no compasso.
Na minha respiração e com a minha transpiração.

Adoro participar de corridas de rua. Coloco o meu Ipod e me perco entre os corredores, tão diferentes e tão iguais.
Sábado à noite, domingo cedinho...somos tão diferentes, nós os corredores, mas também tão iguais. Porque só nós sabemos o prazer imenso disso...

Mas o que eu amo mesmo é correr em Pirassununga.
Lá eu corro faça sol ou faça chuva.
É como um rito sagrado. Nada me impede e a rua me chama.
Eu corro em adoração às ruas amadas da minha cidade. E vou agradecendo...

Saio de casa, ligo meu Ipod e vou, com meu rock and roll, me aquecendo Joaquim Procópio abaixo. Passo em frente à casa velha, acaricio os portões, respiro fundo e preparo-me para subir a 13 de Maio. Batimentos cardíacos em crescente, subo até o final de minha cidade, entro nas ruas da Cidade Jardim, respiro, transpiro e acho o meu Nirvana pessoal.
Nessa hora não tem mais dor, nem mais respiração ofegante. Sou só eu, a música e as minhas pernas.
Run, run, run...
E eu acho que posso atingir o ponto mais distante do mundo, só correndo, como Forrest Gump.
Run Forrest, run!!

Quando estou bem longe de casa, reverto o movimento e começo as passadas de volta. E refaço o caminho, por outro caminho, de volta à minha casa. Eu, minha música e minhas pernas.
E quando chego, após meus 10 quilômetros, já quero sair de novo.
Run, run, run...

Não sei bem como a corrida entrou na minha vida. Mas é um vício assumido.
Da minha vida esse vício não sai mais.

E as ruas de Pirassununga me esperam. Amanhã estarei lá e assim que chegar, vou correr.
E eu só vou agradecendo...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Carpe diem

Ter 39 anos e a certeza que ainda nem cheguei lá...
Ver meu Joey fazer o sinal de positivo e dar seu sorrisinho lindo a cada foto que vou tirar dele.
Ver no meu Luigi sinais inequívocos de "criança grande", mas ainda vê-lo, inúmeras vezes, reagir como meu eterno bebê.
Perceber neles os meus olhos, ou os olhos do Klau, ou o humor do meu irmão, ou a obstinação do meu cunhado.
Meus cachos nos cachos do Luigi.
A boca do Klau na boca do Joey.

Ter já alguma serenidade, e por tantas vezes, não ter serenidade alguma.
Fazer planos e saber, na tranquilidade, que nem todos vão se concretizar.
Dormir bem, beber bem, comer bem. E bem acompanhada.
Fazer promessas e escorregar às vezes.
Pedir desculpas, e mais desculpas, e mais e mais...e ser desculpada.

Correr cedinho, com meu Ipod e minhas músicas. Rasgar o vento, correr até doer.
Descobrir novos prazeres.
Fazer planos para um curso de fotografia no futuro.
Fazer planos para cozinhar no final de semana. Escolher as receitas.
Dançar. Dançar na aula, dançar conforme manda a Helô. Descobrir minhas próprias formas, minhas próprias fórmulas.
Descobrir a dança. E dançar!

Fazer amigos.
Retomar antigas e grandes amizades. Ter a certeza que o tempo, para nós, não passou.
Ver minhas amigas.
Ser capaz de ver nas minhas grandes amigas os meus próprios traços.
Após tantos anos, somos como irmãs.
Somos cúmplices e não falhamos.
Somos cúmplices e não falamos. Apenas sabemos.

De repente, ter algo também para ensinar, além de tudo a aprender.
Ser dona do meu nariz.
Ser ouvida.
Ser essencial para alguém.
Não ser a pessoa mais importante do mundo, nem para mim mesma.

Fazer planos de ter uma cachorrinha. Escolher o nome.
Pensar em como o Joey vai ficar feliz.
Pensar na proteção, no carinho, na ternura...para ela também.
Mais alguém na nossa casa.

Ganhar um beijo, ou dois, ou três, quando chego em casa.
Ser a confidente dele.
Confidenciar para ele.
Saber quando ele está de mau humor.
Saber quando eu estou de mau humor.
Rir das percepções.
Não levar as brigas a diante. Só um pouquinho...

Ouvir : "Mamanhê!"

Ir ao cinema, sair para dançar, tomar cerveja com os amigos, tomar vinho lendo o jornal na sexta feira à noite.
Viajar.
Antecipar o verão. Sentir saudade do verão em pleno Julho.
Pegar um bronzeado e usar biquini o dia todo.
Tomar suco bem gelado.
Passar o dia todo no clube.
Passar o dia todo na piscina do meu pai.
Nadar!
Ver o mar!
Respirar!

Encontrar os meus irmãos.
Ser quem eu sou.
Estar com meus pais.

Compartilhar livros.
Baixar músicas. Comprar cds.
Ouvir Bowie, ouvir Prince, ouvir Ramones, ouvir Lou Reed, ouvir Frank Black. Ouvir Caetano.
Ir à um espetáculo da Deborah Colker.

Gostar de trabalhar.
Gostar de acordar cedo e respirar fundo.
Sentir minha musculatura. Sentir-me 100%.
Morar em São Paulo. E adorar!

Ter a sorte de um amor tranquilo. Imprevisível e tranquilo.
Saber-me amada. Saber amar.

O melhor lugar é aqui e é agora.
O melhor lugar é ser feliz.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Terceiro

Sou mãe de dois filhos.
Eles são tudo o que eu tenho.

Sempre quis ser mãe. Nunca me passou pela cabeça não sê-lo. Os dias de nascimento dos meus filhos foram os momentos mais felizes da minha vida.
Não gosto quando eles não estão comigo, preocupo-me e não sossego enquanto eles não estão de volta à onde sempre deveriam estar...sob minha asa.
Meus filhos são como milagres para mim. Agradeço todos os dias a alegria suprema e o privilégio imenso de tê-los.

Após o nascimento do Joey, meu caçula, nunca considerei que meu papel, quanto a "ter filhos", estivesse concluído.
Sempre quis ter mais um.
Sempre achei que 3 é um número bem legal.

Minha vida é bem simples. Não almejo grandes posses, sinceramente.
Moro em uma casa legal, mas sem luxo algum.
O lugar que eu mais amo no mundo é Pirassununga, que fica só a 2 horas de viagem daqui.
Não preciso de nada, além de um bom tênis, para fazer uma das coisas que mais gosto na vida, que é correr.
As minhas aulas de ballet são o único "luxo" que tenho.
A comida que eu mais gosto é arroz e feijão. Qualquer coisa, com eles, para mim está ótimo.
Tenho tudo o que preciso.

Meus filhos vivem assim como eu. Não são crianças cheias de vontade, e quando as tem, eu os desencentivo a tê-las.
Apenas faço questão de que eles estudem em uma escola de 1ª linha.
E eles estudam em uma escola excelente...excelente e muito cara.

Atualmente, não temos condição, aqui em casa, de ter um terceiro filho e manter o mesmo padrão de escola para os meninos. E fazemos questão da excelência do ensino.
Tenho 39 anos e não tenho muito mais tempo para engravidar...portanto, durante um período, achei que teria meus 2 filhos somente, a despeito de ver-me, sempre, como uma mãe de 3 filhos.

No último Dia das Mães fiquei, como sempre, emocionada com as propagandas a respeito do Dia e com as fotos de mães segurando seus bebês. Fiquei triste imaginando que nunca mais seguraria no colo um bebê que fosse meu, justamente eu, cujo colo serviu de cama, inúmeras vezes, para meus filhos (e serve até hoje).

E de repente, tive uma idéia. Acho que a melhor idéia que tive na vida.
Afinal, eu não tenho condições, agora, de ter outro bebê. Mas no futuro terei.
E meu terceiro filho não precisa vir da minha barriga. Ele pode, certamente, vir do meu coração.

E como em um banho quente em um dia de frio extremo, essa idéia tácita invadiu meu pensamento e tornou tudo tranquilo e confortável.
No futuro, quando os meninos estiverem mais crescidos e nossa vida mais estabilizada, meu terceiro filho chegará.
Eu vou achá-lo, com certeza. Vou saber quando ele chegar, e vou buscá-lo, onde ele estiver.
E esse meu colo vai poder matar essa sede imensa...

Não prefiro menina ou menino, branco ou negro...meu bebê já é meu, onde quer que esteja, esperando para, no futuro, nascer.
Gosto de pensar que atualmente ele está no colo da minha vó Maria, no Céu, esperando seu momento de vir para a gente.
Gosto de pensar assim.

Algumas pessoas dizem que eu não vou dar conta de sustentar esse plano; dizem que, com o passar do tempo, à medida que meus meninos crescerem, eu vou ter mais liberdade para cuidar da minha vida e não terei disposição para começar tudo de novo.

Mas isso não vai acontecer.

Sei disso porque não tenho as pretensões que a maioria das pessoas tem.
Eu não quero ter liberdade de ir e vir.
Eu não faço questão de viajar, nem de ir a bons restaurantes, nem de poder dormir até tarde ou sair para dançar.

Meu terceiro filho é muito mais importante que tudo isso.
E eu não vou abrir mão dele.
E minha mãe me disse que eu estou certíssima. E era tudo que eu precisava ouvir.

Agora fico calma e tranquila por saber que tudo está só começando, que à medida que meus meninos crescem, eu só estou, cada vez mais próxima daquele que ainda não conheço, mas já amo.

domingo, 19 de julho de 2009

Canaã na Vila Caiçara

"Comparada aos desertos circundantes, a terra de Canaã era uma terra de fartura, onde havia uvas e outras frutas, azeitonas e mel, daí ter sido vista por Abraão - originário da região do atual Iraque - como a "terra prometida", "onde corre leite e mel".

Eu gosto muito de praia e mar. Sempre gostei. Meu pai também.
Durante toda a minha infância e anteriormente, durante toda a infância dos meus irmãos, tivemos uma casa de praia, mais precisamente na Praia Grande e mais precisamente ainda, na Vila Caiçara.
Íamos sempre que podíamos, o carro lotado de bagagem e obviamente lotado de gente.
Levávamos comida, leite, travesseiros e eu, particularmente, levava a minha imensa vontade de mergulhar naquele marzão.

Naquela época, a Praia Grande não era, de forma alguma, o que é hoje. Poucas casas, ruas de areia e uma vastidão de área vazia, sem pessoas, de frente ao mar.
Naquela época, a viagem por si só era uma grande aventura. Para chegarmos à praia, tínhamos que entrar na cidade de São Paulo, à qual ninguém estava habituado. Meu pai mandava todo mundo calar a boca, desligar o rádio e ler as placas, para que não nos perdêssemos.
E nos perdíamos.

Descíamos a Serra do Mar e, lá pelas tantas meu pai, invariavelmente, dizia : "Ué, acho que os freios não estão funcionando".
Eu amava!

A Praia Grande era nosso destino certo, no verão e no inverno também.
Talvez por isso eu goste tanto de praia, faça calor ou frio. Gosto da umidade grudando na pele, do cheiro da maresia, de pisar na areia e sentir as ondas batendo nas costas.

A Praia Grande era nossa, só nossa.
Nossa e da nossa barraca listrada de vermelho e branco.

Ontem, eu, o Klau e os meninos resolvemos ir para Santos, visitar o Aquário. Descemos pela Anchieta, ao invés de descermos pela Imigrantes.
A pista mais estreita, a proximidade da encosta, me lembrou de alguma forma, das minhas idas à Praia Grande, em minha infância.

Lendo as placas que se sucediam na estrada, perguntei ao Klau se poderíamos passar na Praia Grande para que eu visse, mais uma vez e depois de mais de 15 anos, a nossa antiga casa da praia, que há muito meu pai havia vendido.

Custamos muito a achar a rua, porque eu já não me lembrava ao certo da entrada correta, e estava procurando no lugar errado. Mas perguntando para as pessoas na rua, felizmente citei o nome Vila Caiçara e me informaram que eu deveria seguir adiante, beirando o mar, que chegaria no lugar.
Assim fizemos e após uns 5 quilômetros, avistei a Avenida Maringá, que de avenida não tem nada, sendo uma rua simples.
A rua está agora asfaltada.
O terreno baldio que existia na esquina da minha casa agora abriga uma construção que, ironicamente, já está velha.
Mas a nossa casa está la. Avenida Maringá, 450.
Ela foi reformada pelo meu pai alguns anos antes de ser vendida e está em bom estado de conservação.
E está à venda!

Meus filhos no carro não entendiam porque havíamos desviado de nosso caminho original só para ver a fachada de uma casa.
Acho que tampouco meu marido entendeu. Somos tão diferentes nesse aspecto.
Mas apesar dele não entender, ele sabe dessas minhas necessidades e, mesmo nos perdendo, e tendo que pedir informações na rua, e eu tendo que ligar para meus pais e para minha tia para confirmar o endereço...ele me levou lá.

Enfim, a casa...a casinha da praia.
Desci do carro, tirei fotos, e a umidade grudou novamente na minha pele, e o cheiro da maresia invadiu minhas narinas.
E lembrei-me dos nossos almoços fartos, feitos com a linguiça do sítio, arroz e salada de tomate. Chegávamos da praia esfomeados e nos fartávamos com isso.
Lembrei dos litros e litros de água do mar que engoli, enquanto conversava com quem quer que estivesse ao meu lado, enfrentando as ondas da Praia Grande.
Cheguei a ir para o Hospital, de tanta água do mar que engoli.

E cantei de novo no chuveirinho externo, com porta de madeira pequena.
E comi churros no Centrinho com a Marisa.
E cochilei no sofá de plástico da sala.
E sujei o pé de pixe na areia da praia.
E dormi em beliche.

Na parte superior da fachada da nossa casinha de praia havia uma placa, onde se lia "Canaã".
Pensando hoje, percebo a perfeição desse nome.
Nossa casinha na praia não era grande, ao contrário. Era uma casinha simples, pequena, geminada, onde cabia uma família grande, cheia de crianças.
Nossa casinha na praia não era localizada em praia chique, mas a imensidão de areia que lá existia para corrermos não se encontra em outro lugar.

Canaã quer dizer terra de fartura.
E era isso que tínhamos lá.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Que pena...

Quando muito já foi dito, muito já escrito...fico triste.

Falo para o meu filho que não importa o quanto maluco ele era, não mais.
O quanto não se aceitou, ou o quanto se desbotou...não importa!
Quero dizer para o meu filho que o importante era a música, a voz e a dança...acho que principalmente a dança.
Esqueço de toda a bizarrice...meu filho é pequeno e não quero que se atenha ao superficial, mas sim à dança, à dança dele.

Quero que saiba que aos meus 14 anos, eu gastei todas as minhas meias fazendo moonwalk em todos os lugares... corredores da escola, quintal da minha casa...moonwalk baby!

Quero que saiba que ninguém da minha idade, ninguém no mundo todo, foi indiferente a ele.
Quero evitar que meu filho atenha-se à bizarrice.
Esqueçam o superficial, vamos focar na falta que ele vai fazer.

Eu queria dançar como ele. Aos 14 anos, eu só queria dançar como ele.

Atenção para a arte, ele era um artista, um bailarino. Perfeito.
Respeitem seu talento!

E falam de como estava, de quanto pesava, de seu cabelo, da sua pele, de sua herança, de sua dívida, de seus filhos...
Eu só me interesso por sua dança.
Moonwalk baby!

Quando teremos outro cara como ele? Quantos séculos serão necessários?

O mundo sem ele está estático. O mundo, sem sua dança, está triste.

Keep moonwalking baby.
Moonwalk Michael!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ashes to ashes

Nasci e cresci em uma única casa.
Para quem é canceriano, como eu, isso tem um peso enorme.
A criação de raízes é fator determinante na felicidade e tranquilidade de um canceriano.
Sou nascida em 26 de Junho, o que faz de mim uma canceriana, com toda a necessidade de raízes típica dos meus similares.
Não é fácil nem leve ser assim, mas essa sou eu.
Minha mãe nasceu e cresceu nessa mesma casa.

Nasci e cresci na Rua Joaquim Procópio de Araújo, 1875, em Pirassununga. Essa casa já teve outros números, quando de mudanças de numeração da rua (já foi número 85, presumo, e já foi número 1661, tenho certeza). Mas o número 1875 acompanhou-me por grande parte dos anos da minha vida.
Minha casa era uma construção grande, espaçosa, com inúmeros quartos ( o que sempre foi motivo de piada entre meus amigos, afinal, como abrigar tantos irmãos sem ter inúmeros quartos?), confortável e acolhedora.
Havia um campo de futebol no fundo da casa que, quando eu tinha mais ou menos 9 anos, foi transformado na mais deliciosa piscina, onde pude desenvolver meus laços aquáticos com meu pai nadador.

Havia uma mangueira no centro do quintal, e quando a árvore dava flores, o quintal ficava repleto com a florada dela.
Minhas cachorrinhas eram comedoras de manga, e cada fruta que caía do pé era prontamente devorada por elas, e depois só encontrávamos o caroço.

Minha casa tinha passagens em cantos diferentes, uma para a casa da minha vó e outra para a horta da Mina, que também nos levava à casa de minha tia. Portanto, minha casa tinha passagens para lugares de prazer imenso. Minha casa era um lugar de prazer imenso.

Meu quarto era repleto de fotos de cantores de rock e mesmo depois de adulta, as marcas da fita durex que eu usava para pregar os recortes fixaram-se de tal forma à parede que a lembrança das fotos tornou-as eternas.

Minha casa tinha o quartinho de música, com o piano, o violão, a vitrola (e depois o aparelho de som), a melhor coleção de LPs que já conheci, a máquina de costura de minha mãe e as diversas partituras de clássicos.
Minha casa tinha a figura de todos nós, os filhos, nos exercitando ao piano.
Mais que tudo, minha casa tinha a figura de minha mãe, ao piano, mostrando a todos nós como é que realmente se tocava o instrumento.

Minha casa tinha canteiros maravilhosos, cuidados pela minha mãe, cheios de antúrios e outras flores. Lembro do cheiro da água batendo no calçamento do quintal, quando minha mãe regava as plantas. Lembro do cheiro da água evaporando-se.

Lembro do som do chão pisado, graças ao porão que lá existia. Lembro do telhado, das calhas.
Lembro de tudo.

O quintal me serviu para muitas coisas. Lá joguei vôlei com as minhas amigas, lá joguei futebol com meu irmão, lá vi meus filhos armarem arapucas de papelão para pegar passarinhos...mais recentemente, lá dancei todas as minhas coreografias de ballet.
Lá agradeci, rosto voltado ao sol, as minhas possibilidades.
Eu lembro de tudo.

Nada conseguimos fazer para evitar a construção de dois prédios, um de cada lado de minha casa.
A casa tornou-se gelada, sem o sol entrando nela, e meus pais, mesmo sem querer, se mudaram.

A casa onde meus pais moram hoje fica na mesma rua, e é maravilhosa. Racionalmente é ainda melhor que a "casa velha", porque é mais bem planejada, é mais moderna e é realmente linda.
Estou muito feliz que meus pais estejam lá.
A casa nova também tem uma piscina linda, um jardim florido e um parquinho onde meus filhos se acabam.
Para uma canceriana, lidei muito bem com a mudança. Estava até orgulhosa de mim mesma quanto à isso.

Porém, há algum tempo atrás, cobriram a minha casa velha com tapumes. Mal dava para vê-la por entre eles.
E agora, recentemente, começaram a demolí-la.
Passei muito mal. Assumo, foi uma merda!

Escalei os tapumes e pude ver, através das paredes quebradas, a parede da sala, os corredores laterais, o jardim da piscina...e eu pude ver a parede do meu quarto. E por um instante, achei que tivesse visto as marcas das fitas durex que pregaram, por tantos anos, meus recortes dos cantores de rock and roll na parede.
Chorei, sofri e me senti uma boba.

Porque o que fica são as lembranças.
Meus pais estão vivos e bem, meus irmãos estão vivos e bem.

Mas que saudade da minha casa!

Quando eu morrer, se possível for, quero que alguém cuide para que minhas cinzas ou algo de mim seja depositado na Rua Joaquim Procópio de Araújo, 1875. Não me importa o que lá funcione e nem qual a construção que lá exista na época.
Só peço que alguém faça isso por mim, que deposite algo de mim em frente à minha casa velha.
O vento vai se encarregar de me fazer entrar...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Esse ano vai ser nosso!

1986...
O ano de 1986 foi extremamente marcante em minha vida.
Eu fiz 16 anos em 1986.
Em 1986 eu iniciei o 1º Colegial, eu conheci amigos que se tornariam parte integrante de minha vida até hoje, eu experimentei sensações e porque não, atrações à parte.

Em 1986 eu ganhei o mundo.
Em 1986 eu comecei a gravar meu programa na rádio de Pirassununga (..."this is Rock and Roll Radio, stay tuned for more rock and roll!"), tendo como parceira uma irmã de uma vida. E eram LPs, e fitas K7, e manhãs de sábado dedicadas à gravação do programa.

A cada sábado, às 7 da noite, meu programa ia ao ar. Era a hora que nos arrumávamos para sair.
Meus amigos se arrumavam ouvindo o nosso programa. Era interior, era 1986, 8 horas da noite estávamos na rua. Saíamos cedo e voltávamos tarde.
Era bom demais.

1986 foi o ano que tornei-me mulher, quando descobri meus poderes e o peso deles.

1986 foi o ano que perdi minha vó Maria.
Minhas mais doces lembranças...só mais um prato de sopa com ela, é tudo o que eu pediria.

1986 foi o ano que antecedeu a partida da Marisa. Portanto, 1986 foi meu último ano com a Marisa, o que, por si só, torna 1986 um ano incrivelmente maravilhoso.
Se, por um acaso, eu tivesse tido a possibilidade de saber, eu teria a abraçado mais, telefonado mais, amado mais...isso com certeza teria me matado, mas eu a teria tido mais perto de mim.
O que me consola é que tenho certeza que ela sabe. Minha doce Marisa sabe, e sempre soube.
As duas, minha vó Maria e minha doce Marisa, guardam meu lugar perto delas, disso estou certa. E guardam também o lugar de todos a quem eu amo.

1986 foi o ano da turma "da pesada", uma gang de amigos de fazer tremer a cidade (ao menos eu assim imaginava). Grandes figuras, grandes amigos, grandes aventuras, grandes contravenções...de verdade, éramos "foras da lei".

1986 foi o ano que pixei o muro da minha escola. Apagaram no dia seguinte, mas a mancha ficou lá, ao fundo, por muitos anos.
1986 foi o ano que descobri, de verdade, o prazer em escrever.

1986 foi o ano do Postinho. Para quem lá esteve, a importância disso é gritante.

1986 foi o ano das Brincadeiras do Clube. Dançar em um sábado à noite ao som de Bowie, Cure, Ramones, The the, Siouxsie...realmente!

1986 foi o ano das festas da casa da Fer. As melhores festas da minha vida, rock and roll na veia, puro e simples, grosso e cru.

1986 foi o ano da Aeróbica do Daniel. Malhação pesada, semente plantada, inesquecível. O que sou hoje, no que diz respeito a esportes e à malhação, devo muito a ele.

1986 foi o ano que comecei a namorar o Klau.
Tudo truncado, tudo proibido, mas a gente insistiu.
Ninguém acreditava de verdade, acho que nem mesmo a gente, mas aos 16 anos eu comecei a namorar (escondido!) aquele que viria ser o pai dos meus filhos, o meu melhor amigo (ainda que nossas diferenças sejam imensas, e talvez graças à elas sejamos tão unidos), o amor de toda uma vida.
1986 foi o ano que, mesmo sem perceber, brigamos para ficar juntos, com nossas jaquetas de couro e nossos discos dos Ramones.
Foi o ano que começamos a correr juntos, com a Klein nos acompanhando, e que nossos laços passaram a ser feitos de aço.

10 anos depois nos casamos.
14 anos depois tivemos o Luigi.
16 anos depois tivemos o Joey.

E há exatos 23 anos vamos nos moldando, nos fundindo e nos tornando um só, um só formado por dois seres tão diversos mas tão similares também.
Mas nunca nos esquecemos de quem somos, e de que somos únicos e somos seres com necessidades distintas.
Foi essa percepção que nos uniu.

E vamos assim, fazendo nossos planos e aos poucos, conseguindo tudo o que queremos. Porque o que queremos não é tão complexo.
Nós só queremos saúde para nossos filhos e que eles sejam pessoas do bem.
Nós só queremos ter a oportunidade de ajudar quem está próximo a nós.
Nós só queremos que nossos pais estejam bem e sabemos que quando eles não estiverem bem, é nosso dever e nosso privilégio ajudá-los.

1986 foi o ano que me proporcionou viver, nos tempos modernos, uma verdadeira História de Amor.

domingo, 31 de maio de 2009

O canto alegre de quem espera um novo dia...

Eu gosto muito de ir para Pirassununga. Por inúmeros motivos, eu realmente adoro ir para Pirassununga.
Lá meus filhos se sujam de terra e se acabam na piscina. Lá eu adoro correr na rua, logo cedo; nas ruas tão conhecidas de Pirassununga.
Lá vejo amigos, ouço os CDs da minha mãe, visito a Lelê.

Mas o principal motivo de gostar de ir para Pirassunuga é que lá moram os meus pais e todas as vezes que eu vou para lá, eu aproveito para matar a imensa saudade que sinto deles.
Almoço com eles, converso com eles, assisto TV com eles, leio o jornal com eles.
O que eu mais gosto de fazer em Pirassununga é estar perto dos meus pais.

Tenho achado meu pai triste.
Não sei bem como descrever o que vejo ou o que sinto, mas a verdade é que tenho achado o meu pai triste. Ele anda meio calado demais, cabisbaixo demais, quieto demais. E o meu pai é o inverso de tudo isso.

Meu pai sempre foi um cara muito vigoroso, antenadíssimo a tudo o que ocorria ao redor dele. Sempre foi praticamente impossível enganá-lo e caso eu conseguisse, o risco dele descobrir era imenso e, caso ele viesse a descobrir, o risco que eu corria era maior ainda.
Meu pai sempre foi o chefe da casa.

Mas de uns tempos para cá, tenho achado meu pai triste.
Acho que sei porque, e não acho que seja por um motivo específico, mas uma série de motivos que o tem deixado triste.

Eu adoro o meu pai. De verdade mesmo, eu o adoro, intensamente.
Não estou acostumada a vê-lo triste. Já o vi bravo diversas vezes (e foram, todas elas, inesquecíveis, pela intensidade da coisa em si), já o vi cansado outras tantas, mas não triste.

Essa tristeza vem rasgando o meu coração. Não sei bem o que fazer para ajudá-lo, mas faria, de bom grado, qualquer coisa para ver meu pai feliz de novo.

Fui uma adolescente bem chata e voluntariosa. Dei bastante trabalho para o meu pai. Fui uma típica adolescente, cheia de idéias bobas e achando-me sabedora de tudo.
Meu pai teve muitas razões para se preocupar comigo, pelas madrugadas na rua, pelo namoro precoce, pelas roupas pretas, pela postura arrogante.
Ele ficava muito bravo e eu, apesar da minha postura arrogante, morria de medo.
Nunca vou me esquecer das broncas que tomei. Vi-o bravo várias vezes.
Porém nunca o vi triste.

Mas depois das incríveis broncas, quando o sol nascia de novo, lá estava ele, assobiando, cantarolando, como quem espera um novo dia, um bom novo dia.

Não tenho visto meu pai cantarolar e nem assobiar como ele sempre fez. E eu preciso disso de novo.
Eu não sei viver sem isso.

Faço qualquer coisa para ver meu pai cantarolar de novo, aquele seu canto alegre de quem espera um novo dia.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

I´m just a rock and roll heart!

I don’t like opera and I don’t like ballet
And new wave french movies, they just drive me away
I guess I’m just dumb, ’cause I know that I ain’t smart
But deep down inside, I got a rock ’n’ roll heart
Yeah-yeah-yeah, deep down inside I got a rock ’n’ roll heart
Oh, rock ’n’ roll heart
Lookin’ for a good time
Just a rock ’n’ roll heart, roll heart, roll heart
Lookin’ for a good time

I don’t like massages or something meant to say
And I wish people like that would just go away
I guess I’m just dumb, ’cause I know I’m not smart
But deep down inside, I got a rock ’n’ roll heart
Yeah-yeah-yeah, deep down inside
I got a rock ’n’ roll heart
Yeah, rock ’n’ roll heart
Searchin’ for a good time
Just a rock ’n’ roll heart, roll heart, roll heart
Lookin’ for a good time

Yeah, just a rock ’n’ roll heart
Lookin’ for a good time
Just a rock ’n’ roll heart, roll heart, yeah, roll heart
Lookin’ for a good time, yeah, now

Yeah, got a rock ’n’ roll heart
Searchin’ for a good time
Got a rock ’n’ roll heart
Searchin’ for a good time"

Lou Reed - Rock and roll heart

Putz, como eu queria ter escrito essa música!!!!!! Anyway, thanks Lou!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

The guardians...

Além de 2 irmãs, como já mencionei, eu tenho 6 irmãos.
É isso aí, eu tenho 6 irmãos.
É incrível que seja assim, não conheço outra mulher que tenha tantos irmãos (homens) assim.
Pois eu os tenho...graças a Deus!

Cada irmão meu representa algo de diferente em minha vida.
Cada um deles conta uma história única em minha existência, em tempos diferentes, com gostos e cores diferentes.

Meu irmão mais velho, o Dacinho, é meu segundo pai.
Ele tem cheiro de chocolate e de novidade.
Ele me batizou...ele me mimou imensamente na minha infância.
Ele me trazia presentes (ele os traz até hoje). Ele me enchia de atenção, e de histórias incríveis. Ele me levava ao Playcenter e me dava os discos da Rita Lee.
Ele criava personagens assustadores dos quais ele mesmo ria.
Ele é ponta firme e sei que ele me ama.
E, incrivelmente, hoje, ele faz aos meus filhos tudo o que fazia comigo. Ele sabe que, assim, continua me mimando.

Meu irmão Celso foi um enigma na minha vida por muito tempo. Ele era inteligente demais...
Eu o achava tão lindo quando eu era criança, que chegava a temê-lo.
Ele casou cedo e foi embora, viver a vida dele, mas voltava sempre...mas eu sempre o achei indecifrável.
Já há muitos anos meu irmão Celso voltou a habitar fortemente a minha vida. Sua presença constante foi um dos maiores presente que recebi.
Meu irmão Celso é doce, é sincero e sua presença é constante.
Ele é só carinho. Ele é só ternura. Nossos jantares são tudo de bom, nossos jantares são só risos e amor.

Meu irmão Vianey foi sempre o meu irmão Vianey. Aquele me nunca ficou bravo comigo. Aquele que cuidava de mim, e me dava banho, e me trocava sem nunca, mas nunca mesmo, perder a paciência.
Meu irmão Vianey, que tomava uma colherada de Óleo de Fígado de Bacalhau só para me estimular a tomar também.
Meu irmão Vianey, que morando no Rio de Janeiro, ao voltar para Pirassununga, enchia a minha cama de bonequinhas de borracha, de livrinhos e de pequenas lembranças. E eu, ao acordar, ia me deitar com ele na cama dele...nesses momentos eu era pura alegria, porque meu irmão Vianey estava ali. E ele, mesmo cansado da viagem, sorria ao me ver ali, e juntos, nossos cabelos cacheados enchiam o travesseiro.
Meu irmão Vianey, que me apresentou Lou Reed.

Meu irmão Carlos foi, em muito, responsável pela minha intelectualização. Meu irmão Carlos, que mesmo sem nunca admitir, morria de ciúmes de mim.
Meu irmão Carlos que foi o primeiro homem a dizer, quando eu ainda era bem pequena, que eu seria uma mulher linda quando crescesse.
Meu irmão Carlos, que me apresentou livros, filmes e discos.
Meu irmão Carlos, cujas namoradas eu nunca aprovei, por puro ciúmes.
Meu irmão e eu somos tão diferentes e somos tão próximos.
Nos falamos sempre e somos tão próximos. Fico feliz em sermos próximos assim, apesar de tão diferentes.
Ele batizou meu filho mais velho e ele realmente gosta de meus meninos.
E comigo eu sei que ele é, quem ele é realmente.
Meu irmão Carlos, o cara da Unicamp, o gatíssimo cabeludo de Pirassununga.
Eu e ele sabemos.

Meu irmão Fernando foi o cara barulhento, paquerador e engraçado. Sempre rodeado de amigos, craque no futebol de salão, briguento e aguerrido.
Baladeiro, eu voltava para casa com mil recados das meninas de Pirassununga para ele. Todas pagavam pau para ele.
Meu irmão Fernando hoje é um cara muito sereno, quieto e um pouco na dele demais.
Não o vejo com a frequencia que gostaria.
Sinto saudades dele.
Ele sabe onde eu estou e eu sei onde ele está e quando nos falamos, eu guardo em meu coração o tom da sua voz.
Tenho certeza que no futuro eu vou vê-lo mais e vou conviver mais com ele.
Meu irmão Fernando está no seu caminho e eu sei que meu caminha vai cruzar com o dele em breve. Eu sei, preciso dessa certeza.

E finalmente vem o Dudu. Meu irmão Eduardo é minha irmã gêmea.
Dele nada preciso falar, a ele nada preciso dizer.
Nos entendemos pelo olhar. Ele é a pessoa que mais me faz rir nessa vida.
A nossa relação é pura intimidade, é pura devoção.
Meu irmão Dudu é perfeito como irmão, é maravilhoso como pessoa, é divino como amigo.
Ele é só coração.
É meu parceiro no futebol de botão, é meu comparsa no Vertiplano.
Entre nós dois não há problema.
Nossa convivência vem de outras vidas.
Para ele, eu sou o "Jack", ele é o "Ben".

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Offer

Acabei de assistir a um vídeo, que meu marido me mandou, chamado Offer, da Allanis.
Ele me mandou porque me conhece bem, sabe o quanto o que o vídeo retrata me toca, sabe que, depois dos meus filhos, o que mais me preocupa na vida são crianças que não tem a chance de ser crianças...crianças famintas, crianças com medo, crianças no abandono, crianças sem esperança.

Sei que já falei sobre isso aqui, mas falarei de novo, e quantas vezes for preciso : Façam algo!!!!!!!!

Eu não suporto mais a injustiça social. Mas, mais do que isso, eu não suporto mais ver meus semelhantes não fazerem nada por essas crianças.
Eu não suporto mais ver as pessoas gastando tanto dinheiro em carros, roupas, viagens, enquanto pequenas crianças tem apenas pele e osso.

Sobretudo, eu não suporto mais me ver derrapando em meus próprios ideais, e me pegar errando, e sendo perdulária, e sendo inconsequente, enquanto essas crianças morrem de fome.

Eu não suporto mais pensar que um vestido do meu guarda roupa alimentaria uma família toda.
Que direito eu tenho de ter um vestido tão caro?
Não acho que eu tenha esse direito.

Não espero que alguém concorde comigo, ou me entenda.
Caso alguém ainda não tenha percebido, esse blog é de mim para mim mesma. Não escrevo para ninguém, eu escrevo para mim.
Escrevo para lembrar-me de quem eu sou, e quais são meus deveres.

É meu dever ajudar as crianças que precisam de mim.
É meu dever ajudar essas crianças a serem alimentadas.
É meu dever não deixá-las com frio.
É meu dever não deixá-las no escuro.
É meu dever fazer com que se sintam amadas.
É meu dever zelar pela saúde delas.
É meu dever lembrar que eu não preciso de mais um casaco, ou de mais um vestido.
É meu dever doar, e repartir, e partilhar...
É meu dever ensinar aos meus filhos que esses deveres também são deles!
É meu dever não deixar que essas crianças sintam medo.
É meu dever não me esquecer...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Maria, Maria

Tenho duas irmãs.
São elas Rita e Raquel.

Quando eu era bem pequena, nas brincadeiras de infância, minhas amigas sempre escolhiam nomes das atrizes de novela para encarnarem um personagem na brincadeira, ou uma cantora famosa...
Eu não! Eu sempre fui Rita ou Raquel.

Sempre tive adoração pelas minhas irmãs.
Elas sempre foram, para mim, as moças mais bonitas, mais inteligentes, mais interessantes de todo o mundo.
Sempre as achei lindas!
Sempre invejei a cumplicidade que há entre elas. Elas tem, entre suas idades, somente 11 meses de diferença. Eu sou 15 anos mais nova que a Rita e 14 anos mais nova que a Raquel.
Sempre quis ser uma delas.

Minha irmã Rita é a pessoa mais engraçada que eu conheço. Ela não pretende sê-lo, o que torna tudo melhor ainda.
A Rita me faz rir, pela sua maneira de ser, pelo seu jeito de falar, pelo seu raciocínio rápido.
A Rita é guerreira!
A Rita recebe a mim, a meu marido e a meus filhos, todo Julho, em sua casa em Goiás, como se fôssemos visitantes especiais. Ela nos acolhe, nos insere em sua vida, e com ela tenho momentos que posso dizer como dentre os mais prazeirosos de minha história.
A Rita é das mulheres mais charmosas que conheço.
A Rita, assim como eu, é mãe de filhos homens e nela espelho-me, porque admiro o tipo de mãe que ela é. Quero, no futuro, ter com meus filhos a relação que ela construiu com os filhos dela.
Ela é minha madrinha de batismo e de casamento. Ela batizou meu filho caçula.
Se algo me acontecer nessa vida, é a ela que confio os meus meninos.

Minha irmã Raquel é a pessoa mais generosa que conheço. Ela me deu teto quando eu não o tinha, ela me deu um emprego que eu amo e pelo qual sou bem remunerada, ela me deu um trabalho íntegro, honesto, que me faz aprender dia a dia e me faz crescer.
A Raquel é justa, direta, transparente. Ela é dona do riso solto que eu tanto gosto. Com ela exercito meu humor mais negro, mas isso fica sempre entre nós (entre nós três, porque também o dividimos com a Rita. Deus é tão sábio que deu a nós três o mesmo tipo de humor).
A Raquel me deu a possibilidade de ter a minha casa.
A Raquel me deu uma adolescência resplandescente, só pela possibilidade de ser minha amiga. Quando nenhuma das minhas amigas tinha uma irmã mais velha como ela, a Raquel me aconselhava, me ensinava, me contava bobagens e me ensinava a tocar Fantastic Voyage no violão.
Enquanto elas não tinham ninguém, eu tinha a Raquel.
E era o máximo ter a Raquel.
É o máximo ter a Raquel até hoje.
A Raquel é uma das melhores amigas que os meus filhos tem.

Em um mundo como o de hoje, onde muitos irmãos não se reconhecem, eu tenho em meus irmãos um porto seguro.
Tenho nas minhas irmãs a certeza de ser amada, de ser especial, de ser decente.

Devo ter feito algo muito bom nessa vida, para ser merecedora de tamanha dádiva.
Minhas irmãs são um presente.
Minhas irmãs me lembram de meu passado, não me deixam desviar de meu presente e são uma fonte constante e prazeirosa das possibilidades de meu futuro.

Minhas queridas, guardem um lugar para mim, na casa de vocês.

domingo, 12 de abril de 2009

Joeyzinho meu coração!

Palhaço!
P-A PA!, L-H-A LHA!, Ç-O ÇO!

Meu bebê tem 6 anos. Meu bebê soletra o tempo todo!
Meu bebê é fodido! Ele tem só 6 anos, mas é dono de uma força de vontade animalesca. Meu bebê vai chegar onde quiser chegar, porque meu bebê é o máximo!

Há 02 meses atrás o Joey, meu bebê, estava com medo de não ser capaz de aprender a ler. Ele estava inseguro, porque não sabia se seria capaz de juntar consoantes e vogais, formar sílabas, criar palavras...
E eu peguei meu bebê no colo, beijei sua pele lisinha e disse : "Bebê, você pode tudo!"
E a partir de então, meu bebê não só aprendeu a ler, e a escrever, como virou o maior soletrador da família. E em seu soletrar, ele passa a mim e, mais importante, a ele mesmo, a seguinte mensagem :
" Eu tudo posso, naquele que me fortalece!"

Porque meus filhos são entregues a Deus e nas mãos de Nossa Senhora eu deposito a vida de meus meninos. Porque sei que ela não me faltará, portanto nas mãos dela coloco minhas únicas riquezas...

Meu bebê já soletra, e como soletra bem!
O meu bebê, que eu tanto sofri para deixar na escola para voltar a trabalhar. Não por falta de segurança na escola, porque a confiança já estava assegurada, mas só porque eu queria ficar com ele...
O meu bebê, que dormiu no meu colo initerruptamente, e mamou no meu peito, e dormiu no meu colo, e mamou no meu peito...meu Jojo!
Meu bebê que nunca me deu um pingo de trabalho.
Meu bebê que só me dá amor!

Quando eu estava grávida do meu bebê, tive um pequeno sangramento no início da gravidez, porque enlouqueci demais, e torci demais, na Copa do Mundo de 2002.
Não havia o menor perigo para a gestação, mas mesmo assim, eu morri de medo. Eu estava grávida de 3 meses.

Fiz promessas mil para que eu não perdesse o bebê.
Fiz orações mil a Nossa Senhora (sempre ela!).

Ouvi de algumas pessoas : "Calma, se algo acontecer, você engravida de novo"
O que essas pessoas não sabiam é que eu não queria engravidar de novo, eu SÓ queria o meu bebê.

E nada aconteceu com o meu bebê. Ele veio perfeito, maravilhoso, soletrador.
E hoje eu penso, que nenhuma outra gravidez me traria ELE. Porque ELE é único e eu sabia disso, e por isso me apeguei tão fortemente à essa gravidez. Porque era a gravidez do meu bebê.

E hoje eu vejo que meu bebê soletrador foi feito para mim e eu , essa mamãe rock and roller, fui feita para ele.
E eu sou tão feliz assim!
Porque tudo é tão perfeito!

domingo, 5 de abril de 2009

And she says: "- You look so much younger..." and he replays : "- Just outside."

"Você está tão mais jovem!"
"Só por fora..."

Eu amo cinema. Sou viciada mesmo, adoro, vou para outra dimensão.
Quando não tinha filhos, ia todos os finais de semana ao cinema, às vezes mais de uma vez. Nunca precisei de companhia para ir ao cinema, se não havia ninguém para ir comigo, eu ia sozinha sem problema algum.

Hoje em dia, chego a tirar férias em períodos particularmente recheados de bons filmes, só para poder assistí-los no cinema.

Ir ao cinema é uma experiência única, que não tem absolutamente nada a ver com assistir a um filme em DVD, por melhor que seja o Home Theater que se tenha em casa.

Meu melhor programa é ir ao cinema com o Klau, assistir a um bom filme. Através dos filmes, revemos nossas próprias trajetórias, ou rimos de nossas próprias falhas.

Sean Penn, Javier Bardem, Daniel Day Lewis, Clint Eastwood me arrastam para o cinema, sempre.

Muitos filmes me despertam emoções fortes, lembranças de algo distante que às vezes nem eu mesma sei nomear.

Alguns poucos filmes instalam-se na minha vida, mudando-a de alguma forma.
Depois deles minha vida adquire uma luz diferente.

O pequeno diálogo que abre essa postagem faz parte de "O Curioso Caso de Benjamin Button".
Mais do que qualquer outro filme, esse me atirou em pensamentos e me tirou dos meus próprios conceitos.

Claro, todo mundo gostou do filme, alguns mais, outros menos, mas todos gostaram. O filme é muitíssimo bem feito, os atores são ótimos, o enredo bem escrito etc.

Mas não, não foi isso que aconteceu comigo. Por algo que nem sei explicar, esse filme explodiu algo em mim.
A história trouxe para a superfície da minha alma alguma luz que há tempos talvez estivesse fraca, ou esgarçou algumas fibras de minha personalidade que talvez eu nem soubesse que tinha.
Não sei, sinceramente não sei.

O que sei é que, conforme o filme se desenrolava na tela, eu, silenciosamente, agradecia por estar ali. Agradecia por ter olhos para assistí-lo, ouvidos para ouví-lo...

E conforme a linha do tempo se mostrava inexorável, eu chorava.
E o tempo, sempre o tempo ("És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho....tempo, tempo, tempo, tempo...não serei nem terás sido, tempo tempo tempo tempo").

E eu precisava assistí-lo novamente, com a minha mãe. Talvez pela proximidade de nossa relação, talvez por ela conhecer-me tão bem , talvez por eu querer que ela me conheça melhor ainda, eu não sosseguei enquanto não assisti novamente ao filme, dessa vez com ela.

Realmente não sei, não há nada que me ajude a explicar.
A verdade é que o filme me emocionou demais.

Talvez, assim como os personagens, eu também viva uma grande história de amor.
E talvez eu fique feliz por eles e fique feliz por nós.

A verdade é que, da mesma forma que aconteceu com Benjamin no final do filme, eu também espero que aconteça comigo e que eu tenha, nos meus últimos momentos, alguém que me embale.