sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A vida sem ela

Acho que todas as meninas, em um determinado ponto de suas infâncias, adotam um modelo de pessoa, na qual se inspiram, à qual admiram.
Ao menos comigo foi assim.

Eu tive esse modelo.
Era uma menina, mais velha que eu uns 5 anos, linda, doce, amável, adorável.
Ela era namorada de um dos meus irmãos. No início do namoro, eu dizia não gostar dela (êta possessividade!), mas ela foi, com seu jeitinho, me conquistando.
Ela se tornou uma das pessoas que mais amei na vida.

O nome dela era Marisa, ou Má, para mim.
Ela era tão doce, tão franca, tão presente que ouso dizer que ela me amou também.

Ela namorou meu irmão bastante tempo. Ao menos para mim, na minha cabeça de menina de 11, 12 anos, foi bastante tempo. Foram alguns anos, disso tenho certeza.
Eu sempre estava por ali, rodeando os dois, porque queria ficar perto dela.
Meu irmão ficava bravo, mas ela não.
Ela me chamava, e conversava comigo e a voz dela... a voz dela!!!

Mesmo depois do fim do namoro, continuamos muito próximas. Eu já era uma mocinha e ela nunca me abandonou.
Ela me telefonava, e se preocupava comigo, e respondia às minhas inúmeras cartas, e me comprava pequenos presentes e mandava entregar, tímida como ela só, para não ter que ligar em casa e correr o risco de meu irmão atender ao telefone.

Ela me levava para tomar sorvete, mesmo quando ela estava de regime (ela era linda, irretocável!!), ela me ouvia e ouvia todas as minha bobagens sem desmerecer nenhuma delas.

Como um anjo, ela ficou pouco comigo.
Ela foi embora quando eu tinha 16 anos.
Eu queria mais dias, mais meses, mais anos com ela.
Mas a verdade é que, de verdade, os anos que tive com ela foram suficientes...suficientes para que ela me mudasse, inexoravelmente. Foram suficientes para que ela me moldasse, inexoravelmente.

E a voz dela...

Às vezes, tenho que me esforçar para lembrar-me da textura do cabelo dela, ou da cor da pele morena dela, ou ainda dos detalhes do seu rosto...mas a voz dela permanece como rocha, como alma dentro de mim...a voz dela era puro veludo.

Eu chorei, gritei, achei que fosse morrer, e depois me culpei por ter continuado a viver, e a ser feliz, apesar da perda dela.
Quem pode me culpar? Eu era só uma menina!!!

Com o passar dos anos, volta e meia eu sonhava com ela. Era natural, afinal, ela era parte da minha vida e eu nunca deixei de pensar nela, de sentir a falta dela, muito.

Alguns anos após ela ter partido, eu tive um sonho diferente com minha amiga. E isso aconteceu há muitos anos atrás.
Sonhei que eu estava andando em uma rua e ela parou do meu lado. Eu a vi, sorri, disse que estava com saudades e a abracei.
Ela me abraçou de volta e disse :
"Eu vim para te dizer uma coisa : pare de pensar tanto em mim e procure fazer novas amizades!"

Depois disso, eu nunca mais sonhei com a Marisa.
Então eu acredito que foi ela mesma quem veio e percebendo minha saudade, me deu esse conselho.
Ela ainda estava cuidando de mim.
E ela estava cuidando de mim porque também me amava, o mesmo amor que eu sentia por ela.

Incrível como nada disso ficou no passado.

Eu penso nela com muita frequência, mas não conto para ninguém.
Eu choro, às vezes, de saudade dela, mas não conto para ninguém.
São 22 anos sem ela. E nada ficou no passado.
Gostaria que ela me visitasse de novo...

Eu peço a ela que cuide dos meus filhos, assim como sei que ela cuida de mim.

domingo, 16 de agosto de 2009

E o rei se foi...

"Just pretend,
I'm holding you
And whispering things
soft and low

And think of me,
how it's gonna be,
Just pretend
I didn't go

When I walked away,
I heard you say
If you need me,
you know what to do

I knew it then,
I'd be back again
Just pretend
I'm right there with you

And I'll come flying to you, again
All the crying is true
Oh, I will hold you and love you again
But until then, we'll just pretend

Oh, it's funny
but I can't recall
the things we said
or why you're crying

But now I know
it was wrong to go
I belong
here by your side

Yes I'll come flying to you, again
All the crying is true
Oh, I will hold you and love you again
But until then,
we'll just pretend

Oh, I will hold you and love you again
But until then, we'll just pretend"

32 anos sem Elvis...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Tetererê tetê!

Sou uma pessoa criada nos anos 80.
Nasci em 1970, mas sou verdadeiramente, fruto dos anos 80.
Flashdance. Footloose. Tem tudo a ver comigo.
Sou puro fruto das academias de aeróbica dos anos 80.
Fui praticante assídua da aeróbica de alto impacto, a chamada ginástica aeróbica esportiva.
Milhões de aulas, algumas lesões, suor, som alto, saltos, giros...é disso que eu gosto.
Energia e dança, malhação e dança, mescladas em uma mesma aula.

Um dia, já há bastante tempo, não me lembro bem quando, assisti a um programa de TV onde uma mulher era entrevistada. Ela era professora de dança, mas totalmente diferente do que vira até então.
Ela era pura energia, energia crua. Tudo o que mais gosto.
Ela estava dizendo algo sobre dançar, e suas crenças sobre o dançar e ainda, a felicidade obtida ao dançar.
Só pensei : "Eu preciso fazer aula com essa mulher!"

A entrevista só dizia o nome dela.
Na internet, tentei descobrir onde ela poderia dar aula.
Minha ansiedade dizia que, morando em uma cidade do tamanho de São Paulo, a probabilidade dela dar suas aulas do outro lado da cidade era imensa, o que me impediria completamente de ser sua aluna.
Ainda assim pesquisei, e pesquisando achei. Ela era dona de uma academia de dança, e essa academia ficava a exatos dois quarteirões da minha casa!!!!!

Estava escrito em minha história, só pode ser!
Tetererê tetê!

Em Fevereiro de 2003 matriculei-me para ser sua aluna. Eu tinha um filho de 2 anos e um bebê de 2 meses.
Eu amamentei e corri para a minha primeira aula com ela.

Entrei na sala, ela sorriu (ela sempre sorri) e perguntou meu nome e se eu já havia dançado antes.
Eu nasci dançando!!

Contei a ela dos inúmeros anos submersa no ritmo alucinante da aeróbica. Contei a ela dos inúmeros anos de treino sentada em frente ao piano.
Contei a ela que a música é minha irmã e o movimento, meu irmão.

Fiz a primeira aula, e soube, sem perceber à época, que não seria mais capaz de viver sem.
Lembro-me bem que, ao término da aula, tão diferente das minhas aulas de aeróbica, mas ainda assim tão igual, ela me segurou pelo braço, à saída da sala, e disse sorrindo : "Gostei!"

A partir desse dia, já se somam 7 anos dançando com a Helô.
Nesse Dezembro próximo, serão 7 espetáculos nos quais me apresento, com nosso grupo de dança.
Não abro mãos das minhas aulas por nada desse mundo.

Minha professora tem um ouvido apuradíssimo, o que para mim é essencial.
Minha professora trabalha minha musculatura, o que para mim é essencial.
Minha professora verdadeiramente se preocupa com seus alunos e os trata, independente de quem são, com o mesmo carinho e atenção, o mesmo desvelo.
Da melhor aluna à iniciante, todas para ela, sem exceção, tem a mesma importância.

Minha professora é engraçada, o que é, sem dúvida, a qualidade que mais admiro nas pessoas.

Ritmo no ritmo, sua aula parece ser montada sobre uma partitura, tamanha a perfeição melódica e rítmica sobre a qual é construída.
E quando a coreografia exige 6 tempos ela solta seu indefectível : "Tetererê tetê!".

Tops, calças, sapatilhas, tênis de dança, figurinos, barras...tudo isso voltou a fazer parte da minha vida, há 7 anos.

Eu nunca falto.
Sou 100% CDF, como ela mesma já me disse.

As aulas da Helô fazem bem ao meu espírito.
Mais do que trabalharem as minhas pernas, ou meu abdômen, ou meus braços, ou minha lombar, ou minha postura, as aulas da Helô trabalham minha alma.
E ela sabe disso, e assume integralmente a responsabilidade sobre isso.

E quando eu volto das aulas, quando entro na minha casa, eu me sinto sempre, e cada vez mais, um pouco mais mulher.
E é sempre bom ser um pouco mais, e cada vez mais, mulher.

E eu sei que estava escrito, no meu destino, ser aluna dela.
Porque eu nasci para ser feliz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Rock and run

Eu sei bem quem eu sou.
Sei bem as coisas das quais gosto e o tipo de pessoa com quem dou-me bem.

Gosto da energia do corpo. Gosto de suar.
Gosto de sentir-me dona do meu corpo. Gosto de comandar pernas e braços
Gosto do movimento do corpo, da força muscular.
Gosto do exercício do corpo, da habilidade corporal.
Gosto de sentir-me forte, saudável.

Vivo descobrindo novos prazeres.
Dentre eles, um dos maiores que descobri, já há vários anos, é o prazer de correr.
Gosto de correr pelo correr. Deslocar-me rapidamente sem precisar de nada além das minhas próprias pernas.
Sentir-me dona do meu corpo, rainha da minha vontade. Contra o cansaço, mais um pouco de energia.

Eu treino. Mas não gosto muito de treinar. Treino somente para poder correr mais e melhor.
Eu gosto mesmo é de correr.
Livre, no compasso.
Na minha respiração e com a minha transpiração.

Adoro participar de corridas de rua. Coloco o meu Ipod e me perco entre os corredores, tão diferentes e tão iguais.
Sábado à noite, domingo cedinho...somos tão diferentes, nós os corredores, mas também tão iguais. Porque só nós sabemos o prazer imenso disso...

Mas o que eu amo mesmo é correr em Pirassununga.
Lá eu corro faça sol ou faça chuva.
É como um rito sagrado. Nada me impede e a rua me chama.
Eu corro em adoração às ruas amadas da minha cidade. E vou agradecendo...

Saio de casa, ligo meu Ipod e vou, com meu rock and roll, me aquecendo Joaquim Procópio abaixo. Passo em frente à casa velha, acaricio os portões, respiro fundo e preparo-me para subir a 13 de Maio. Batimentos cardíacos em crescente, subo até o final de minha cidade, entro nas ruas da Cidade Jardim, respiro, transpiro e acho o meu Nirvana pessoal.
Nessa hora não tem mais dor, nem mais respiração ofegante. Sou só eu, a música e as minhas pernas.
Run, run, run...
E eu acho que posso atingir o ponto mais distante do mundo, só correndo, como Forrest Gump.
Run Forrest, run!!

Quando estou bem longe de casa, reverto o movimento e começo as passadas de volta. E refaço o caminho, por outro caminho, de volta à minha casa. Eu, minha música e minhas pernas.
E quando chego, após meus 10 quilômetros, já quero sair de novo.
Run, run, run...

Não sei bem como a corrida entrou na minha vida. Mas é um vício assumido.
Da minha vida esse vício não sai mais.

E as ruas de Pirassununga me esperam. Amanhã estarei lá e assim que chegar, vou correr.
E eu só vou agradecendo...