terça-feira, 22 de dezembro de 2009

We are golden!

Há milhões de anos atrás (assim me parece), li um livro, o qual amei!
Eu nem namorava aquele que viria a ser o meu marido, mas em uma conversa que tive com ele à época (paquera pura!), disse a ele que estava lendo esse livro.
Eu o li escondido, porque o livro era da minha mãe e imaginei, naquele momento, que ela não me permitiria lê-lo.
Eu era nova demais!

Aquele que viria a ser o meu marido mostrou-se interessado no livro que eu estava lendo (o que uma paquera não faz!) e eu, após terminar o livro, emprestei-o a ele.

Quando começamos a namorar, algum tempo depois, decidimos, graças ao livro, que nossa filha se chamaria Meggie.

Nunca mais reli esse livro.
Li zilhões de livros depois desse.
Mas nenhum igual a esse.

Casei e tive dois filhos.
Dois meninos.
Ainda falta a Meggie...
Eu nem me lembrava mais do acordo feito sobre o nome da nossa menina, há milhões de anos atrás.

Meu filho mais velho gosta muito de ler e eu gosto muito que ele goste de ler.
Comecei a ir atrás de alguns livros que li durante a minha infância para que ele também pudesse lê-los. Alguns achei em livrarias, outros não.
Portanto comecei a procurá-los em sebos e achei todos eles.
Livros da Stella Carr, em sua maioria. Livros que marcaram minha infância.

Enquanto procurava os livros para o Luigi, tive a idéia de procurar também o meu velho livro.
O exemplar que eu li na minha juventude perdeu-se no tempo. Não sei onde foi parar.
Tive vontade de lê-lo novamente, em um misto de prazer e medo.
Prazer pelo reencontro.
Medo de que o encanto se quebrasse.

Juntamente com os livros para o Luigi, comprei novamente o velho livro.
Comecei a lê-lo.
Nem imaginava que, após tantos anos, essa experiência fosse ser tão marcante.

Conforme fui virando as páginas, as lembranças detalhadas foram tomando corpo na minha mente.
Lembrei-me das frases, e de como as palavras foram colocadas (em uma enorme perfeição). O impacto foi até maior do que me foi aos 14 anos de idade.
E eu era uma menina bem legal aos 14 anos de idade.

Cada palavra ocupa um lugar justo no livro. Cada expressão é perfeita e fez parte da minha história.
Degusto-o novamente. Degusto-o novamente e como se fosse pela primeira vez, de novo, o que é delicioso.
O encanto não se quebrou.

Nada é aleatório. Não acredito em simples coincidências.
Exatamente quando estávamos, eu e aquele que tornou-se meu marido, fazendo planos para a chegada da nossa menina, o velho livro voltou para a minha vida.

Meggie!

Nada é por acaso. O velho livro. Os planos e o acordo feito.


Nós não somos somente o que pensamos ser.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Ninguém é uma ilha...

"Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si só.
Se um pequeno torrão de terra, carregado pelo mar, deixa menor a Europa, também a morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à Humanidade"
John Donne

Tenho pensado bastante.
Pensado no caminho que minha vida tomou, e no quanto participei disso.
Pensado no quanto sonhei para mim e no quanto, apesar de não parecer, eu capitulo.

"Eu queria escrever um livro, eu queria compor uma música."

Dizem que no decorrer da vida, você deve plantar uma árvore e escrever um livro.
Plantei duas sementes nessa vida, duas árvores floridas, dois flamboyants de sombra gigante...e ainda não parei.
Escrevendo estou sempre. Se um dia esses escritos terão capa, não sei.
Nem sei se alguém quer lê-los. Escrevo para mim e quem sabe, para meus pais.
E quando eu não mais estiver por aqui, terei escrito para meus filhos.
Para o Lui, para o Joey e para aquela que está por vir.

Preocupo-me com o que me circunda e com o que eu mostro ser.

Hoje não foi um dia bom.
Tinha tudo para ter sido, mas não foi.
Mas também não foi um dia ruim.
Maluco isso, mas apesar de eu ter até chorado (de raiva!), não foi um dia ruim.
Porque, no meu choro, meus filhos cuidaram de mim.
Eles me acariciaram e ficaram, mais uma vez, do meu lado.
Então acho que não estou fazendo um mal trabalho.

Um dia vou envelhecer. Sou muito nova ainda para pensar sobre isso, mas um dia isso vai começar a acontecer.
Minimamente isso já vem ocorrendo, mas nesse estágio, o envelhecer é altamente relativo, porque só me torna mais sábia, mais segura, mais tranquila e mais bonita.
Um dia, esse envelhecer há de tornar-me mais lenta, mais pensativa, mais velha realmente.

Uma flor branca para minha vó, para a Mina e para a Dindinha.
Uma flor branca para a Marisa.
Um adeus para o Seu Jaime.

Só não quero faltar para alguém.
Quero ter dado a quem eu amo, absolutamente tudo o que eu poderia ter dado enquanto estava viva.
E quando eu passar a viver em outro espaço, em outro céu, só quero ter a tranquilidade de esperar por aqueles a quem eu amo de verdade, sabendo que eles continuaram a viver plenamente, a despeito de minha ausência.

Eu sou só uma mãe. É tudo o que eu quero ser, e tudo o que serei.
E meus filhos cuidam de mim, da mesma forma que eu cuido deles.
Pequenas mãos, me acariciando.

Não estou mais em primeiro lugar.
É uma experiência inigualável saber que você é capaz de dar a sua vida, facilmente, e sem hesitar, por outras pessoas.
Saber que você morreria, sem pensar duas vezes, por outras pessoas, que no fundo, são a melhor parte de você mesma.
Por eles preciso perdoar.

E os psicólogos dirão que isso não é saudável. E os terapeutas dirão que isso não é correto. E os psicanalistas tentarão descobrir algo nas entrelinhas.
Mas a verdade é que, a partir do momento que pari pela primeira vez, minha própria felicidade, da forma como costumava ser, é de menor valia.
Minha felicidade é a felicidade dessas duas pequenas almas que moram comigo.
Por elas, eu perdôo qualquer coisa.
Relevo qualquer coisa, para tornar suas vidas mais coloridas.

Mas o mais importante, além de perdoar, é esquecer.
Ainda sou uma aprendiz na arte do esquecimento.
Jamais esqueço...jamais!
Mas sou boa em perdoar.
E vou aprendendo afinal, estou só começando.

Ninguém é uma ilha.
Eu, certamente, não sou. Tenho dois braços fortes, feitos de terra firme, meus filhos, a me prender.
E meu coração, graças a eles, passa a ser um continente.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O lado esquerdo do peito

Hoje o dia amanheceu cinza e chuvoso. Após dias de calor extremo, o dia de hoje amanheceu frio, o que não acontecia há muito tempo.
Portanto, para uma amante do verão, o dia de hoje não tinha nada de especial.

Quando voltei do meu almoço, havia um envelope branco sobre minha mesa de trabalho, com meu nome escrito nele...somente o meu nome.
Perguntei quem havia colocado aquilo ali e me disseram que um motoboy havia trazido aquele envelope, endereçado a mim.

Dentro dele encontrei duas fotos. A primeira mostrava minha turma de colégio, no dia de nossa festa de formatura de 8ª série. Junto comigo na foto havia um monte de gente, alguns que eu vejo a toda hora porque carreguei comigo durante todo esse tempo e outros que não vejo há muitos, muitos anos.
Na outra foto estavam somente eu e duas grandes amigas. Elas estão lindas e delicadas, vestidas de branco. Eu estou de jaco preto e cabelo nos olhos. Minha fase rock and roll estava só começando...

Fiquei maravilhada; por alguns segundos, faltou-me o fôlego.
Degustei todos os detalhes.
Estou tão ali como hoje sinto-me aqui.

Me perguntei quem teria me mandado aquilo. Quem poderia ter tido o desprendimento de perder alguns momentos de seu dia, em um lugar tão caótico quanto São Paulo em uma sexta feira, só para me fazer feliz.

Sempre amei meu colégio. Os anos lá vividos estão entre os mais importantes da minha vida, no tocante à formação da pessoa que sou.
Portanto, amo tudo o que se refere a ele ou às pessoas que fizeram parte dessa história.

Sempre mantive contato com muitos dos meus amigos daquela época, mas depois de um tempo, perdi o contato com alguns que me eram muito importantes. Fiquei assim por muito tempo.
Um dia, há 5 anos atrás, comecei a me lembrar dessas pessoas e me surpreendi por não saber onde estavam. Como pude permitir que pessoas tão queridas se perdessem de mim?
Tive um trabalho danado mas, com a ajuda de algumas pessoas, consegui localizar todas elas e fizemos uma grande festa, a primeira de algumas que viriam.
Criamos um grupo na internet e nos falamos sempre.
Sei onde elas estão e isso, por si só, me faz feliz.

Hoje, ao abrir o envelope e ver as fotos, tive vontade de abraçar os meus amigos.

Quem teria tido o cuidado de fazer uma cópia dessas fotos e me mandá-las, justamente nesse dia cinzento?

E então, depois de várias horas, percebi que havia um pequeno bilhete dentro do envelope. Eu não o havia notado.
E pude saber quem havia me enviado as fotos.
E o bilhete dizia algo sobre a foto mostrar há quanto tempo estamos juntas (e é verdade). E dizia algo sobre o fato de termos, algumas vezes, não estado tão próximas, mas de sempre termos estado no coração uma da outra.

Essa minha amiga não tem a menor noção do quanto me fez feliz. Ela me fez muito mais feliz do que imagina ter feito.
Me fez feliz pelas fotos, pela bilhete adorável e pela constatação de carinho mútuo.
Pelo tempo dedicado a mim e à nossa amizade.
Pelos anos vividos e pelos que ainda vamos viver.
Pela cumplicidade, que só a amizade desenvolvida ao longo de uma existência é capaz de proporcionar.

Eu só agradeço, porque hoje, esse dia cinzento, foi um dia especial.