segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um balanço na mangueira, um disco das Frenéticas e um terraço de chão gelado.



Minha última visão foi um aceno de mão (poderia ser um "tchau", mas eu tenho certeza que foi um "oi") seguido por um beijo mandado pelo ar.
E eu não pude estar presente quando ela disse tchau.
Mas, e se ela, em sua imensa sabedoria, sabia que não precisava dizer tchau?

Fui uma criança de muita sorte, meus vizinhos eram minha segunda família. Uma família muito diferente da minha, mas que o destino julgou certo colocar nas nossas vidas. Essas duas famílias tinham crianças de mesma idade em gerações diferentes, de tal forma que as meninas mais velhas das duas famílias fossem muito amigas, que os meninos do meio das duas famílias fossem muito amigos e ainda, de tal forma que as duas caçulas (e temporonas) das duas famílias fossem criadas como irmãs.
Eu sou uma dessas caçulas.

Aquela que me mandou um beijo pelo ar é a mãe da outra caçula. Ela era um pouco minha mãe também.
Na casa dela sempre me senti em casa. Ao entrar pela cozinha, sempre fui recebida pela dona da casa como se uma filha de verdade estivesse entrando. E eu entrei milhões de vezes por aquela cozinha.
Havia também a possibilidade de entrar pela sala, mas eu sempre preferi entrar pela cozinha e ter a oportunidade de dizer oi para a dona daquela casa. Sempre tive um carinho especial pela dona daquela casa, talvez por ela ter colocado no mundo aquela que sempre foi a minha irmã, mesmo sem nunca termos tido o mesmo sangue.

Naquela casa nunca precisei pedir licença para nada. Naquela casa nunca precisei pedir licença para ser eu mesma.

Nos encontravamos lá. Nós, as crianças, gostavamos de brincar lá. Muito mais do que brincar em qualquer outro lugar, eu gostava de brincar lá, e de balançar naquele balanço fabuloso que havia na mangueira, no fundo daquele quintal enorme. Eu, que sempre fui louca por balanços, encontrei naquela casa o melhor balanço da minha vida.

Naquela casa eu via tudo com olhos de amor.
Naquela casa onde já havia tanta gente, havia sempre espaço prá mim.
Nas milhões de vezes em que abri a porta na cozinha, nunca percebi o menor sinal de que eu não era bem vinda. Ao contrário, era como se me esperassem, sempre.
Mas eu não pude estar lá, para me despedir da dona daquilo tudo, da dona da mangueira, da dona daquela casa.

E por quantas vezes eu e a outra filha caçula ouvimos, com enlouquecedora frequencia, o disco das Frenéticas. E cantamos juntas as músicas, deitadas no chão do terraço, o lugar mais bem habitado do mundo.
Nesse terraço sonhos tomaram forma, nesse terraço giramos nossos corpos até ter ânsia de vômito, nesse terraço brincamos com os ioiôs da Coca Cola, e fizemos planos para o que faríamos após o almoço. E nesse terraço aplaquei o calor gigantesco do verão, ao deitar as costas em seu chão frio.
Eu não precisava pedir licença, eu simplesmente deitava.

Tudo era muito simples, e por isso, tão perfeito.
A dona da casa, a casa, e tudo o que gravitava em torno delas.

E tudo isso era possível, porque a dona da casa permitia que assim fosse.

Hoje eu não consegui me despedir da dona daquela casa.
Não sei se um dia conseguirei pensar nisso sem chorar. Agora não consigo.
Mas sei, tenho certeza, que a dona da casa sabe que eu estava lá. Mesmo não estando fisicamente, não havia outro lugar no mundo onde eu mais quisesse estar.

Não pude me despedir, então decidi que não vou. Simples assim, como tudo sempre foi. Simples e claro.
Eu não vou dizer tchau.
Porque ela me disse oi e me mandou um beijo, flanando no ar.

E a vida, da forma como a conhecemos é só um átomo, um grão de areia.
Nem a dona da casa e nem a sua vida acabam aqui. Elas continuam, as duas!

Muito obrigada, por tudo.
E até logo, dona Dirce.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Se você quiser ter um ceuzinho, não precisa ir longe, é nesse cantinho...



Eu queria ter uma caixinha onde eu pudesse guardar todas as pessoas que me foram caras nesses últimos anos, depois que me tornei mãe.
Pessoas que de, alguma forma, foram importantes prá mim no cuidado, no trato com meus filhos.
Pessoas que gostaram deles.

Tucha, Fernanda e Claudinha, Tio Tucho, Dema, Tereza, Tia Cá, Tio Jalil e Tio Reinaldo, Tia Leleca, Tia Dani, Amanda, Julia de Miranda, Nilda (Tita), Natália, Zilma, Ângela, Aderbal.
Meus pais, meus sogros, meus irmãos e irmãs, meus cunhados, minhas cunhadas...
Seus padrinhos, suas madrinhas...
Meus sobrinhos e minhas sobrinhas...seus primos e primas.

Um tantão de gente que eu queria poder guardar nessa caixinha, queria poder falar com elas sempre que sentisse falta, queria poder agradecer o tempo que dedicaram aos meus filhos.

O Joey ligou prá Tia Cá...respirou fundo, de tão emocionado, e ligou.
Encontrei o Tio Jalil na rua e dei um beijo nele...
Meus meninos foram visitar a Tucha (e ela me ligou, feliz, prá dizer obrigada! Ela me ligou, feliz de verdade! A mesma voz ao telefone, a voz da Tucha, com quem falei por tantos anos, com quem dividi preocupações e alegrias).

E o Joey viu a Dema!
A Tereza está sempre aqui, se transformou em alguém da família.
E os meninos viram a Amanda.

Minha mãe me disse, quando eu estava grávida do Luigi, que eu não deveria preocupar-me, porque pessoas boas encontram boas pessoas na vida.
Nossas vidas foram e são repletas de pessoas boas, que amam meus filhos, pessoas a quem eu devo agradecer.
E eu agradeço!

Eu queria ter essa caixinha, onde poderia guardar todas elas, e delas não me perder jamais!

Acho que essa caixinha existe, e todas elas estão bem guardadinhas dentro dela.
Essa caixinha existe, e seu espaço é infinito.
Essa caixinha se chama coração.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Please welcome...The Pixies!



Lá por 1990 eu morava em Campinas, com uma trupe de amigos em uma república na Rua Barreto Leme.
Nessa época, conheci, através das mãos de um irmão meu, em uma visita a ele em Sampa, uma banda chamada Pixies. No dia que ouvi o disco, de nome "Doolittle", gravei-o numa fitinha K7 e levei prá casa, em Campinas.
Nesse dia mesmo, fizemos nossa roda habitual e ouvimos a fitinha mil vezes. Um dos moradores da república ouviu a música "Hey" por 17 vezes seguidas...(desculpa Fá, só mais uma vez!).

Esse LP marcou minha vida.
Essa banda marcou minha vida.

Desde então, venho cultivando uma paixão platônica pelo compositor, cantor e "frontman" da banda, Mr. Frank Black. Eu o chamo de "O gordo" e nutro uma paixonite por ele.
Ele é gordo, careca e esquisito e eu o acho simplesmente demais!
Essa paixonite foi alimentada pelos poucos e bons discos da banda e depois pelos discos solo do "O gordo". Venho cultivando essa paixão há anos.

Hoje é dia 11 de Outubro de 2010. Há vinte anos atrás ouvi Pixies pela primeira vez.

Hoje é dia 11 de Outubro de 2010. Vou ver, pela primeira vez na vida, um show do Pixies.
Mal me controlo de ansiedade...

Novamente, e como se fosse a primeira vez, vou ouvir ele cantar, e tocar, quase imóvel, seu rock and roll. Cru, seco, paulada e doçura juntas.
Mr. Frank Black, ou para mim, simplesmente "O gordo".

E como quando assiti, pela primeira vez, um show do Bowie, do Lou Reed ou ainda dos Ramones, esse dia entra prá minha história. Um dia a ser lembrado.

"I´m just a rock and roll heart, looking for good time" já dizia Lou Reed.

E "o Gordo" vai estar lá, mais careca, gordo e "weird" do que nunca. "Se a gente se conhecesse a gente ia ser amigo" - como disse uma amiga minha.

Rock and rollers, please welcome - The Pixies!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Up



É sempre um desafio mudar aquilo ao qual estamos habituados. Mas esse período do ano é particularmente convidativo a essa tentativa.
Vou começar me propondo a desviar os olhos do meu próprio umbigo e ao invés de mirar a mim mesma, quero mirar os jacarandás.
Para onde eu olho, aqui em São Paulo, só vejo os jacarandás floridos.

Mas para vê-los, é necessário olhar para cima, ao invés de ter os olhos permanentemente baixos...

domingo, 12 de setembro de 2010

Paz, saúde e harmonia!



Daqui prá frente, quero fazer como eles. Sempre!
Só quero sorrisos na minha vida. Sorrisos quentes e coloridos.

That´s it!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

João e os ipês amarelos


O João vai chegar essa noite.
Ele vai nascer essa madrugada, da barriga da minha amiga mais antiga. Ele vai nascer da barriga de uma pessoa a quem conheço e amo há 38 anos. Uma pessoa a quem eu considero uma irmã. Portanto, é natural que o João seja sentido, por mim, como alguém que é sangue do meu sangue.

O mês de Agosto é um mês bastante especial para mim.
É o mês de aniversário de várias pessoas especiais para mim. É o mês de aniversário do meu casamento.
É também aniversário, inclusive, da mãe do João.
E é também o mês de aniversário da cidade onde nasci.

O mês de Agosto é o mês de florada dos ipês amarelos. São as minhas árvores favoritas. De longe, são as árvores mais bonitas do mundo!
Estive perto de várias delas esses últimos dias.
Estive em Pirassununga, a cidade onde nasci, e ela estava coalhada de ipês amarelos.

Tive a oportunidade e a sorte de aplaudir suas flores maravilhosas, e aplaudi também o espetáculo de cor que, para mim, representa energia e vida. Os ipês amarelos me deixam feliz.

Não há como negar a coincidência. O João vai chegar no mês da florada dos ipês amarelos. Chega a ser emblemático.

Os ipês amarelos vão, daqui em diante, me lembrar da chegada do João.
E a cada Agosto, com sua florada de ipês amarelos, o João vai florescer também, se transformando no menino amado e especial que eu sei que ele será. E depois, no homem amado e especial que eu sei que ele será.

Só tenho amor pelo João e só posso desejar amor para ele.
Que eles sejam feitos só de amor : seus pais, seu irmão e o João, esse ipezinho amarelo.


(Ao João, com amor)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

...prá pensar.


The road is long
A estrada é comprida
With many winding turns
Com muitas curvas difíceis
That leads us to
Que nos leva a
Who knows where, who knows where
Quem sabe onde, quem sabe onde

But I'm strong
Mas eu sou forte
Strong enough to carry him
Forte o bastante para carregá-lo
He ain't heavy, he's my brother
Ele não é um peso para mim, ele é meu irmão

So on we go
E assim continuamos
His welfare is my concern
O bem-estar dele é problema meu
No burden is he to bear
Ele não é nenhuma carga para mim
We'll get there
Nós chegaremos lá

For I know
Pois eu sei
He would not encumber me, oh no.
Ele não seria um estorvo para mim, oh não
He ain't heavy, he's my brother
Ele não é um peso para mim, ele é meu irmão

If I'm laden at all
Agora, se estou realmente sobrecarregado
Then I'm laden with sadness
Então estou sobrecarregado de tristeza
That everyone's heart
(De saber) que o coração de todo mundo
Isn't filled with gladness
Não está cheio de gratidão
Or love for one another
Ou de amor, um pelo outro

It's a long, long road
É uma estrada muito comprida
From which there is no return
Da qual não há retorno
While we're on the way to there
E enquanto estamos indo para lá
Why not share?
Por que não partilhar?

And the load
E a carga (dele)
Doesn't weigh me down at all
Não vai me pesar de jeito algum

He ain't heavy, he's my brother
Ele não é um peso para mim, ele é meu irmão.

Bill Medley - He ain´t heavy, he´s my brother

domingo, 13 de junho de 2010

Brothers and sisters...



Não existe idade para ser feliz...e ninguém é feliz sozinho.
Meu coração só é feliz na coletividade.

Sozinha eu sou ninguém, mas perto de quem eu amo me transformo em multidão.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mar Português


Ah, Portugal...
Quanto da minha nostalgia vem de você?


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 14 de maio de 2010


Era uma vez uma menina, em seus 14, 15 anos. Essa menina tinha uma pulseira preta de rebites. Foi seu primeiro acessório "punk", uma pulseira de rebite.
Essa pulseira chamou a atenção de um menino, pouca coisa mais velho. Eles não se conheciam, mas ele a chamava de "a menina da pulseira".
Inevitavelmente, eles se conheceram. Inevitavelmente, tornaram-se amigos. Inevitavelmente, tornaram-se os melhores amigos.

Fizeram de tudo juntos. Descobriram toda a adolescência juntos.
Dentro do Opala bege do menino, eles se divertiram, e ouviram muito rock and roll.
Dentro do Opala bege do menino, fizeram planos, e falaram mal dos outros, e riram e riram.
Dentro do Opala bege do menino eles ganharam o mundo e mais, ganharam um ao outro.
Eles dançaram, e cantaram, e brigaram, e dançaram de novo...

Os anos passaram e eles cresceram. O menino foi viver sua vida em Londres.
A menina foi despedir-se dele no aeroporto.
(...durante muitos anos ela achou que essa teria sido a última vez que ela havia, realmente, o visto).

Ele viveu a vida dele em Londres.
Ela viveu a vida dela em São Paulo.
Muitos anos se passaram.

De repente, ele ficou doente, lá em Londres.
A menina não sabia o que havia acontecido, mas ele ficou doente.
Ele voltou ao Brasil, muito doente.
Ela não sabia o que ele tinha, o amigo dela.
Mas não era mais ele.
Ao menos, assim ela pensou : "Esse não é o meu amigo".

Ela se sentiu egoísta, mas a verdade é que ela se sentiu sozinha.
"Como assim? O seu amigo voltara, mas não era mais ele!"

E ela guardou aquela imagem do aeroporto como sendo a última vez que vira o seu amigo.
E ela alimentou essa imagem e sentiu saudades daquela risada sarcástica do seu amigo.

O menino e a menina se viam de vez em quando mas, a menina não sabia porque, aquele não era mais ele.
E ela, no seu íntimo, se culpava por não estar lá, do lado dele.
Mas simplesmente, para ela, não era mais ele.

Outros anos se passaram.
Alguma coisa aconteceu de novo.
A menina não sabe bem o que, mas a verdade é que o menino voltou a ser ele mesmo. Talvez os remédios tenham acabado, talvez tudo tenha se assentado, talvez os santos tenham resolvido perdoá-la, mas a verdade é que a menina, novamente, reconheceu o menino.

"Ele voltou!" - pensou a menina.
Tudo voltou.

O laço, o prazer, o reconhecimento.
Nada havia se perdido.

"O meu amigo voltou" - pensou a menina.

Quem tem, nessa vida, o privilégio de, em dois momentos distintos, encontrar o seu melhor amigo?

Pois a menina teve esse privilégio.
E ela não deixou essa chance escapar.
Não de novo.

Ele realmente voltou. O humor negro dele está lá de volta, e a risada sarcástica, e tudo...e tudo!
Ela está encantada!

E ela não vai deixar ele escapar de novo.

Ela sempre vai vê-lo. Eles agora se vêem sempre.
Ela somente toca a campainha e, quando ele atende, ela diz : "Sou eu".
E ele corre para abrir a porta, rindo...

sábado, 10 de abril de 2010

If man is five, and the devil is six...then God is seven!


Eu tenho a sorte de ter grandes amigas.
Dentre elas, algumas são mais que amigas.
E ainda, dentre essas, uma me foi apresentada como irmã. Ela não nasceu na minha casa, mas a apenas duas casas distante da minha. Eu a conheço desde que ela nasceu e diferente de irmãs de sangue, estamos juntas até hoje porque assim escolhemos. Nenhum laço de sangue nos obrigou a isso, nenhuma festa de família nos une.
Estamos juntas porque queremos.

Essa minha amiga está grávida de seu segundo filho. Eu o chamei de João, sem ao menos saber se era um menino. Agora sei ser um menino, e eu o chamo de João. O João (que eu não sei se terá esse nome) é irmão do Pedro. Eu o quero bem. Eu quero bem ao Pedro. Eu quero bem ao pai do Pedro e do João.
Eu quero bem a todos os que fazem parte da vida dela.

Ontem fiquei sabendo que minha amiga foi internada, por causa de uma infecção. Nada grave, mas ainda assim ela teve que ser internada.
Falei com ela dois dias antes e ela comentou sobre essa possibilidade.
Quando liguei para ela no dia seguinte, a ligação caiu na caixa postal e eu deixei recado. Ela já estava internada e eu não sabia.
Ontem liguei de novo, ela atendeu e me contou que estava no hospital.
Eu disse a ela que iria ao hospital e ela me disse que não precisava.

Antes do dia acabar, fiquei pensando em como somos diferentes.
Se eu estivesse internada, eu teria ligado para ela e feito de tudo para que ela fosse me ver no hospital.
Ela não me ligou e como sempre, disse que ir visitá-la seria uma chateação e que eu não precisava fazer isso.

Ontem foi sexta feira e choveu o dia todo. À noitinha fomos todos visitá-la no hospital. Claro que pegamos um trânsito infernal e demoramos um monte para chegar.

Minha amiga riu, porque tinha certeza que eu iria.
Se eu estivesse internada, ela iria também.

Somos tão diferentes mas caminhamos, durante toda a nossa vida, sobre o mesmo trilho.
Nossas pegadas, muitas vezes, se confundem.

E não havia nada que eu pudesse fazer a não ser ir vê-la. Mesmo não sendo nada grave não pensei, nem por um segundo, em não ir vê-la.

Porque caminhamos sobre o mesmo trilho e quando há nuvens sobre a cabeça dela, há nuvens sobre a minha também.

domingo, 4 de abril de 2010

A calçada do outro lado, a rua de trás.


It´s a long way, it´s a long way...

Muito tempo longe, meio sem tesão de escrever.
É tanta coisa que se passou, e outras tantas que ocorreram só na minha cabeça...outras sobre as quais quis escrever mas simplesmente não escrevi.
Bobagem minha, mas por um momento perdi o tesão. Eu fui fiel à perda dele e não escrevi.

Dona Eugênia morreu e sua morte me fez pensar. Ninguém é o que a gente pensa que ele é, ou ao menos ninguém é só aquilo que a nossa ridícula forma de pensar imagina que ele seja.
Eu fico rotulando as pessoas, e tento fugir de rotulá-las e me pego rotulando-as e rotulando-as e o meu tentar ínfimo não serve de nada.
Pois quando a Dona Eugênia morreu eu presenciei uma cena tão bonita, de um cavalheirismo tão grande, e ao mesmo tempo uma cena de tamanha fragilidade que me emocionou. Dela não me esqueço jamais. E realmente, as pessoas são mais do que simplesmente o que vêmos. Quando as vêmos, usamos olhos rasos.
É necessário aprofundá-los.

Fui para Pira e como sempre, corri em Pirassununga. Busco sempre o conforto (o que é um péssimo hábito meu) e corri pelas ruas conhecidas, onde os cachorros não me perseguem e onde a quilometragem me é conhecida.
Hoje, não sei porque, mudei de trajeto. Fiz um longo caminho, nunca antes feito. E fui tomada por uma energia extra, guardada sei lá onde para ser usada em momentos assim, suponho. E as músicas do meu Ipod tocaram de uma forma diferente, e a mim me pareceu que eram outras músicas.
E nesse trajeto novo encontrei, logo cedo, um amigo que não via há muito tempo.
Ele sorriu e acenou e eu fiz o mesmo. Não o via há anos e a cada vez que eu fazia o mesmo trajeto, eu perdia a chance de vê-lo. Pois hoje, ao aceitar a mudança, eu o vi. E fiquei muito feliz, por vê-lo tão bem. E gritei um "Que legal te ver!" que foi muito genuíno, porque era a pura verdade, o espelho real dos meus sentimentos naquele momento.

Ganhei de um irmão um livro sobre o Caetano Veloso. O livro era dele e não é novo.
Ele me mandou porque me ouviu dizendo que, assim como o Roberto Carlos tem a Hebe Camargo, o Caetano tem a mim. Eu sou a Hebe Camargo do Caetano.
E meu irmão me mandou o livro, e eu o li no final de semana.
O cara é chato, o cara é narcisista, o cara é genial.
O cara fez algo como "Transa", que tira meus pés do chão e nocauteia o meu coração, durante toda a audição. Me sinto assim durante a execução das sete músicas do disco.
Me sinto assim na maioria das vezes que o ouço cantar, na maioria das músicas.
É como se estivesse ouvindo-as pela primeira vez e a cada vez, elas soam diferente.
(...nine out of ten movie stars make me cry, I´m alive!)
Ninguém é só isso, ou só aquilo.

Muitas vezes eu me pego, por puro conforto ou até receio, querendo ser só isso ou só aquilo.
Mas todas as vezes que eu me permito ser algo diferente daquilo que presumi ser, eu me deparo com sensações deliciosas e, internamente, me felicito.

Meu destino pode ser fazer igual.
Mas meu desafio eterno é tentar fazer diferente.
Ver diferente, escrever diferente, amar diferente.
Deixar que o vazio no estômago não me assuste, mas me impulsione.
E talvez assim, ter mais sensações como a que tive hoje. E assim quem sabe eu possa gritar mais vezes, até mesmo para mim mesma : "Que legal te ver".

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Braços abertos



Quando as palavras são desnecessárias...

sábado, 16 de janeiro de 2010

Que eu não esqueça!

Preciso retomar o assunto.
Após mencionar o terremoto no Haiti, em meu último post, eu disse que, antes de saber da morte da Dona Zilda Arns, minha vida continuava no seu andamento normal.
Hoje, alguns dias depois, preciso dizer que eu não quero que minha vida continue no seu andamento normal.

Hoje é sábado e, em como todo sábado, a revista semanal que eu assino chegou em minha casa.
Claro que a capa e a maior reportagem da revista eram sobre o terremoto no Haiti.
Um dos meus filhos, que é tão sensível, perguntou para mim porque colocavam, na capa da revista, a foto de alguém sofrendo.
Respondi para ele que era para que não nos esquecessemos.

Na revista havia uma foto. Entre tantos fotos de dor, havia uma em especial.
Era a foto de uma menininha. Uma menininha de 2 ou 3 anos. Morta. Jogada na rua. Lá deixada.
Não sobrou ninguém de sua família para chorar por ela.
Enquanto meus filhos dormem rodeados por brinquedos, aquela menininha não teve ninguém para reclamar seu corpo. Ninguém sobrou para chorá-la.

Eu sempre acho que eu ajudo.
Eu contribuo com várias instituições, eu dôo tudo que eu não uso, eu visito e dou carinho a crianças carentes.
A verdade é que eu não faço quase nada.

Porque ao mesmo tempo que eu faço tudo isso, eu também gasto um monte de dinheiro em roupas das quais eu não preciso, em comidas das quais não preciso, em passeios que tornar-se-ão somente fotos, ou lembranças.
Posso não ter culpa da miséria do mundo.
Mas sou responsável por ela, sim!

Eu faço um pouco. Mas eu posso fazer mais, muito mais!
E eu não faço mais porque sou perdulária, porque sou superficial.

Porque penso muito, mas ajo pouco!
Porque não preciso de mais vestidos, e mais sapatos, e mais e mais...

Porque com mais vestidos e mais sapatos, eu só procuro me inserir entre os ricos.
Mas lá não encontro a real realização. Porque lá eu não pertenço.

Minha real realização eu só encontro entre os necessitados, entre aqueles que, por uma pequena ação minha, sorriem um pouco mais.
Mas meu egoísmo, e meu consumismo, por diversas vezes, me fazem esquecer disso.

Tudo o que almejo na minha vida é que, quando eu for uma velha senhora, eu olhe para trás e possa ver que fiz a diferença na vida de várias pessoas.
Não somente na vida de meus filhos mas também na vida de crianças que não eram minhas.

Que eu possa fazer algo no mundo, de tal forma que não existam mais crianças mortas, jogadas na rua, sem que ninguém chore por elas.

Isso é uma utopia, eu sei. Mas se eu conseguir evitar que isso aconteça a uma, apenas uma criança, minha vida já vai ter valido a pena.

Evitar o desperdício da vida. É o que quero.
Respeitar a vida. Celebrar o caráter sagrado da vida.

Que Deus me ajude a ser mais decente. Que Deus me ajude a não me esquecer do exemplo da Dona Zilda Arns.
Que me ajude a fazer mais.
Que me ajude a lembrar que eu não preciso de mais roupa, ou de mais bens. Que me ajude a me envergonhar, quando eu consumir mais.

Porque hoje eu sou quase nada, eu sou quase ninguém.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Em mim, ela continua.

Ontem ocorreu um terremoto de grande escala no Haiti. Hoje pela manhã vi a reportagem no jornal e fiquei triste por esse povo já tão sofrido.
Peguei a chave do meu carro, chamei meus filhos e saí para trabalhar. A vida voltou ao normal.

Durante o dia, alguém me disse que a Dona Zilda Arns havia morrido no terremoto do Haiti.

E agora?

Dona Zilda é a fundadora e cabeça chave da Pastoral da Criança. Dona Zilda salvou da inanição e da morte sabe-se lá quantas e quantas crianças por esse Brasil.
Dona Zilda, que só pensava nos outros. Nos filhos dos outros; nas crianças dos outros.
Dona Zilda, que era uma entre milhões.
Quantos são como ela?

Fiquei muito, mas muito triste, porque ela era uma pessoa a quem eu, mesmo à distância, acompanhava. Alguém a quem eu, enormemente, admirava.
Alguém que me serve de exemplo para que um dia, quem sabe, eu consiga fazer, baseada no seu exemplo, um pouquinho do que ela fez para a infância carente e desamparada.

Dona Zilda do carinho fácil.

Quis contar para os meus filhos quem ela era.
Eles me ouviram atentamente.
Os olhos do Joey, como sempre, se encheram de lágrimas.

Mas eu disse a ele que não era caso de chorar.

Quantas pessoas podem ter o privilégio de morrer na causa nas quais sempre acreditaram?
Porque ela estava no Haiti em uma jornada, mais uma vez, humanitária.
Era o que ela fazia.
Ela cuidava da Humanidade.

E tenho certeza que ela vai deixar seguidores. Um pouco em mim sempre fica e tenho certeza que fica muito em milhares de pessoas.

Eu disse aos meus meninos que ela foi tão especial, mas tão especial, que Deus não mandou nenhum de seus anjos esperar por ela na porta do Céu. Ele veio pessoalmente receber a Dona Zilda.

Com tanta gente ruim, e corrupta, e desumana no mundo, como entender que alguém como ela é que morreu?
E alguém me diz : Será que Deus existe?

Pois para mim não há dúvidas. A Dona Zilda era a prova viva da existência de Deus.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Olhos para ver


No pouco que eu sei, percebo que a única forma de permanecermos realmente vivos é se nunca pararmos de realizar.

Os bemóis e os sustenidos

Todo começo de ano faço o que de mais cliché se pode fazer em um começo de ano.
Faço planos para o ano que começa. Planos para retomar o que deixei para trás em algum momento de minha vida, ou para começar a fazer aquilo que sempre quis e nunca fiz.
Todo ano é assim e eu realmente consigo manter alguns desses "tratos" que faço comigo mesma. Não todos, mas alguns.

Estudei piano desde muito pequena. Minha mãe é pianista, por isso é natural que eu tenha começado a estudar piano quando ainda nem sabia ler.
Por vários anos gostei muito das minhas aulas e acho que só abandonei a prática, quando faltava pouco tempo para eu me formar, em função de um professor especialmente exigente com o qual tive aulas, já no curso técnico, que compreende os três últimos anos que precedem a formatura.

Na verdade ele não teve culpa alguma no meu abandono do curso, mas eu não gostava dele e não me sentia confotável com ele. Isso, é claro, aliado ao fato de eu estar no auge da minha adolescência e de ter passado a achar a prática diária e os estudos, e os exames, extremamente chatos.

Gosto muito de piano. De todos os instrumentos, é sem dúvida o meu favorito. Adoro o som do piano e as composições clássicas para ele. Adoro Bach, Chopin, Mozart, Tchaikovsky...adoro cantores que tem no piano seu instrumento principal e que fazem rock usando-se dele.

Lá no fundo, eu me arrependo de não ter me formado, mas mesmo sem o diploma, foram ao menos 9 anos de estudo durante a minha vida, no mínimo.

O fato é que há muito não toco. Ao menos não toco de verdade
E com o piano é assim : por mais que você saiba tocá-lo e saiba ler as partituras, e conheça a teoria, conforme você distancia-se da prática e do estudo, os dedos demoram a obedecer, as articulações doem e o pulso tensiona, quando você resolve voltar a tocar.
E é isso que acontece comigo todas as vezes que resolvo tocar. É difícil, extremamente difícil.
Mas eu sei que basta meu esforço para que a prática, aos poucos, volte.
Como praticamente tudo na vida, depende somente da minha força de vontade.
Adoraria voltar a tocar com a destreza que já toquei um dia.

Pois esse foi o meu plano para esse ano. Voltar realmente ao meu instrumento.
Porque sei que ele é uma bela companhia, para os momentos felizes e para os momentos tristes também.
Porque eu conheço a alegria que ele é capaz de me dar.

Mas vou precisar encarar dedos duros, articulações doloridas, partituras que já foram fáceis e hoje parecem muito difíceis, até chegar novamente à essa alegria.

Ainda não tive coragem de sentar-me à frente do meu teclado.
Mas já coloquei as minhas velhas partituras sobre ele.
Elas estão lá, me esperando.

E eu vou, sei que vou.
E ficarei tão grata a mim mesma, quando achar a tal aegria!

Vou sim.
E escrevo aqui para não me esquecer.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Wondering



Se eu conseguir manter minha boca mais fechada e os meus olhos bem abertos, talvez consiga evitar que a vida apenas passe por mim...

domingo, 3 de janeiro de 2010

...


E quando tudo dá errado, há de se começar tudo de novo...