domingo, 29 de novembro de 2009

The ladder

Acordei bem cedo hoje. Os meninos também, mas eu acordei antes que todo mundo.
Na falta do que fazer, em um dia chuvoso que impediu nosso programa de ir correr e andar de bike no Villa Lobos, vim para o computador baixar música.
Como sempre, fiquei oscilando entre baixar coisas novas e minha infinita vontade de voltar a ouvir aquilo que há muito não ouço.

Depois de um certo tempo, digitei Prince no buscador. Volta e meia baixo algo dele, apesar de ter tudo em CD. Quero tê-lo também no meu Ipod.
Se tem algo que reflete quem eu sou, são as músicas dele.

Entre seus grandes sucessos e outros nem tanto, conheço tudo.
E entre tudo o que conheço existe um disco em especial, que me é marcante.
Não é meu disco favorito dele, mas sim o que mais gosto.
Como assim?

O disco data de 1985 e foi lançado logo após o estouro da trilha sonora do filme Purple Rain. Chama-se "Around the world in a day" e seu lançamento foi, lembro-me bem, sem publicidade alguma.
Fui uma das primeiras pessoas a tê-lo, tenho certeza. Mesmo antes do disco ser lançado no Brasil, algum irmão meu conseguiu gravá-lo em uma fita K7 para mim.
Compartilhei suas músicas e minhas impressões com uma amiga em especial, milhares, milhões de vezes.

Era inverno e fazia muito frio em Pirassununga.
Eu contava os minutos para minhas aulas acabarem, chegava em casa e deitava no chão do meu quarto, banhado com a luz do sol do inverno do interior, colocava minha fita K7 no meu rádio, fechava os olhos e era tomada por aquelas músicas, que me levavam a lugares inacreditáveis.
Eu tinha 15 anos e viajei o mundo com aquele disco.
Around the world in a day, sim!

Quando o disco foi lançado no Brasil, eu já sabia cada nuance de suas músicas de cor.
Ganhei-o de algum outro irmão, logo no seu lançamento.

E a capa...milhares de pequenos detalhes, degustados, em infinitos tons de azul.
E finalmente, as letras.
Pequenos trechos que eu não conseguia entender foram-me desvendados em cada audição detalhada.

Foi tão marcante e tão intenso como só se consegue ser aos 15 anos.

É por isso que só temos 15 anos uma única vez na vida.
Meu coração provavelmente não aguentaria tamanha intensidade novamente.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O carrosel

Gostei desse negócio de escrever enquanto ouço música.
Exatamente agora estou ouvindo "Watching the wheels" do Lennon.

Sou muito boa em algumas coisas, não tão boas em outras. É natural.
Sou boa em ter filhos. Literalmente, em tê-los: meus partos são rápidos, naturais e quase indolores.
Acho-me uma boa mãe. Acho que ser mãe é o que sei fazer de melhor no mundo.

Sou boa amiga e sou boa filha.
Nunca abandono meus amigos, e nunca vou abandonar meus pais, da mesma forma que eles nunca me abandonaram.

Sou boa com música e com as palavras.
Tenho um ouvido mega musical. Até eu me surpreendo com a capacidade dele.

Sou muito boa com bebês. Eles gostam de mim e eu sempre, sempre, gosto deles.
Sou boa em cuidar deles.

Sou boa com crianças de maneira geral, principalmente se elas não tem uma mãe chata, que tem medo de mim. As crianças costumam gostar de mim mais do que suas mães gostam, o que não me importa nem um pouco, uma vez que eu também gosto mais delas do que de suas mães.

Sou uma boa tia para as minhas sobrinhas e uma boa irmã para meus irmãos e irmãs.

Acho que sou uma boa mulher para meu marido.

Sou boa com meu passado, com meu presente e com meu futuro. Não exijo muito do meu futuro e nem me cobro muito quanto ao meu passado.
E o meu presente, eu vivo.
Tenho dois corações infantis pulsando aqui do meu lado, todos os dias, então eu só vivo para eles. Eu vou vivendo, e vou fazendo, e vou corrigindo a rota, e vou alimentando esse dois pequenos corações.
E só.

Me preparo para o próximo coração infantil que, em breve, vai morar nessa casa.
Um coração de menina (assim quer o Klauter, e eu aceito). Estamos escolhendo o nome dela e eu já a imagino.
Não vou "pegar" uma bebê para criar. Não vou pegar ninguém. Eu só vou buscá-la, quando ela chegar, porque ela já é minha e não se "pega" aquilo que já é seu.
Eu só tenho que ir buscá-la, e eu vou.
Minha pequena.
Sou boa nisso também.

Sou boa em gostar de gente.
Não costumo julgar, apenas gosto.
E gosto de uma imensidão de gente, uma mar de gente.
E sempre tem gente entrando nesse mar.

Sou boa em dançar, em correr, em amar.
Faço as três atividades com todo o meu coração.

Sou boa em lembrar, sou boa em não esquecer.

Nunca fui boa com plantas.
Apesar de ter sido criada, e ter sido a queridinha de uma mãe muito boa com plantas, eu nunca fui boa com elas.
Talvez por falta de empenho da minha parte, as poucas plantas que tive sempre morreram, mais cedo ou mais tarde, na minha mão.
E se não morreram, sobreviveram por mérito unicamente delas. Foram sobreviventes.

Cresci vendo minha mãe cuidar de seus jardins incrivelmente bonitos e floridos e tenho fincado em mim o cheiro do chão do quintal da minha casa ao ser molhado pela água que minha mãe usava para regar suas plantas.
O jardim da minha mãe sempre foi, e é, um espetáculo.

Comecei a pensar que eu gostaria de deixar um pouco dessa memória também para meus filhos.
Se não um quintal, ao menos uma varanda com flores.

Agora elas estão lá, na minha varanda. Não são mais meramente sobreviventes.
Eu as rego, coloco ou tiro do sol, alimento os passarinhos que invadem a varanda com néctar fresco e assim vou, torcendo para que não morram.

O Klauter trouxe, há algum tempo, um vaso de orquídeas maravilhoso para casa. Enquanto estava florido, o vaso ficou na sala.
Depois foi morar na varanda.

Minha mãe me disse que as orquídeas não gostam de água em excesso e nem de luz do sol direta sobre ela.

O vaso está lá, só com as folhas. Mas não morreu.
Eu cuido dele e o rego com parcimônia (as orquídeas não gostam de água em excesso, lembre-se) e o protejo da luz do sol direta.

Hoje caiu uma chuva muito forte. Fiquei na varanda, enquanto a chuva invadia o chão e molhava meus pés.
À minha direita estava o vaso.
E então, ao olhar para ele, percebi que está cheio, lotado de botões.
Outras orquídeas vão nascer em breve. Várias delas.
Fiquei muito feliz. Pelas flores e por mim.

Aos 39 anos, eu ainda estou crescendo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

He´s still around

Durante os últimos dias, ou semanas, passei por aquilo que defino como "fortes emoções".
Como sempre, as alimentei.

Vi pessoas que não via há anos, tive saudade de tempos que eram bons demais.
Pensei na menina que eu era, e na mulher que sou e de como nós duas ainda somos parecidas, se não quase idênticas.
Ainda sou eu mesma.

A minha saudade sempre dói.

Minha amiga está grávida. Depois de tantos anos, ela engravidou de novo. A minha querida amiga está tão feliz, e é tudo tão novo, de novo, para ela.
Lembro de quando eu morava com ela, na república, e fazíamos faculdade, e tudo era tão descompromissado. Éramos quase malucas, e ríamos...ainda rimos tanto, e ainda somos, juntas, um pouco malucas, e é por isso que gosto tanto dela.
E ela está tão feliz.

Fui ao shopping dia desses e estava tocando, no som ambiente de uma loja, a música dos meus 16 anos. Não é a música típica de se tocar em uma rádio, então foi um presente de Deus para mim : "But the side of you they'll never see, is when you're left alone with the memories, that hold your life together like glue".
Parei o que estava fazendo, fiquei em pé no meio do saguão, fechei os olhos e ouvi. Ouvi até o último acorde; era só o que eu poderia fazer, a música tocava para mim.

Tenho ouvido "Charlotte Sometimes".
É, eu alimento.

Meu amigo me escreveu um email. Quase nunca nos falamos, por algumas razões que fogem ao meu controle, mas ainda assim, somos grandes amigos.
Eu tinha certeza que ele me escreveria e ele me escreveu.
Carinho sempre.
Ainda sou eu mesma.

Meu outro amigo me escreveu outro email, dentre os vários que ele sempre me escreve. E ele me conta que sua filha está engatinhando e que ele está feliz. E que ele está com saudades.
Nos falamos sempre e somos grandes amigos. Os melhores amigos.
Carinho sempre.
Ainda sou eu mesma.

Ontem, um amigo meu morreu.
Eu nem sabia que ele estava doente, acho que foi tudo muito rápido e só fiquei sabendo, assim de sopetão, que ele havia morrido.
Mal digeri a notícia ontem. Sou assim, algumas vezes esse tipo de coisa bate em mim "atrasado".
Só fiquei pensando no meu amigo.

Hoje chorei.
Pensei em quantas lutas do Mike Tyson assistimos juntos. Em quantas cervejas tomamos juntos, em quantas gargalhadas partilhamos.
Ele era um bom amigo, um amigo querido. E sempre me respeitou.
Fez parte da minha vida, durante muitos anos.
Isso não se esquece.

Ele gostava de mim e principalmente, ele gostava do Klauter.
E o Klauter gostava dele, e eu também gostava dele.
E ele gostava da gente.

Vou sentir saudades dele, muito mais do que estou sentindo agora.
Não existem muitas pessoas a quem podemos chamar de amigo, de verdade, nessa vida. Que gostem da gente de verdade.
Que gostem de quem a gente gosta.
Pois ele gostava.

Mais do que gostar de mim, ele gostava de quem eu gosto.
Sou agradecida por isso, porque sei que era de verdade.

A saudade vem das lembranças que temos.
Dos momentos bons que vivemos em algum lugar de nossas vidas.
Esses momentos estão no passado, porém as lembranças estão no presente.
Elas são fruto da recordação presente que temos do passado.
Então as lembranças estão aqui.
As lembranças do meu amigo estão aqui.
Portanto ele está presente.

Meu amigo ainda está por aqui.



(Texto escrito ao som de "This is the day" - The the)