domingo, 27 de março de 2011

Pessoas que abraçam



Apesar de admirar quem seja, eu particularmente não sou muito afeita a "programas diferentes". E eu detesto isso em mim.
Entenda-se por programas diferentes aquilo tudo que eu nunca fiz. Inicialmente retraio-me, fecho a cara e quando o tal programa torna-se inevitável, eu vou relaxando aos poucos e depois adoro!
Geralmente é isso o que acontece. E sou sempre impelida a fazer algo assim porque sou casada com uma pessoa que, nesse aspecto, é totalmente diferente de mim. Sendo assim, ele sempre obriga-me a fazer algo diferente. Minha primeira reação é odiá-lo por isso. Mas depois sempre, em silêncio, agradeço.

Certa vez li uma reportagem explicando que, conforme envelhecemos, temos a impressão de que o tempo passa cada vez mais rápido unicamente porque fazemos coisas diferentes com cada vez menos frequência. Isso faz todo sentido.
Uma vez que temos a tendência (eu, em especial) de repetirmos as mesmas ações (os mesmos caminhos, mesmos programas, mesmas pessoas, mesmos tudo) o cérebro não mais capta aquilo como "novidade". E é justamente o "novo", o "diferente" que faz com que o tempo seja percebido como algo de valor.
Dessa forma, se passamos um final de semana dentro de nossa "rotina", parece que aquele final de semana voou. Porém, se fizermos programas diferentes, aqueles dois dias parecem ter passado de forma muito distinta, pois o tempo foi valorizado e o cérebro, desafiado.

Ontem fui posta a prova em uma tarde diferente. Fui conhecer um grupo de pessoas que sentam-se em roda, e simplesmente conversam. A atividade de ontem era dirigida a pais e suas crianças, propondo a atividade de "escutar com atenção".
Para isso, fez-se um trabalho conjunto de criarmos, segundo a tradição indígena, em um pedaço de madeira, um pau que representasse o direito de falar (e de ser escutado). Adulto ou criança, quem estivesse de posse do tal pedaço de pau (o qual foi enfeitado por todos) tinha o direito de falar, de ser ouvido e de não ser interrompido.
Inicialmente pensei : que bando de hippies é esse? Isso não é prá mim, soa lisérgico demais e eu, sinceramente, não sou uma pessoa das mais lisérgicas.
E depois pensei : eu vou matar o Klauter (meu marido, aquele que me obriga a esse tipo de atividade).

Porém a coisa caminhou de uma forma tão legal, tão agradável, tão sutilmente acolhedora e natural, que saí de lá, horas depois, pensando que aquelas pessoas que eu havia acabado de conhecer tem algo a me ensinar. E que eu queria voltar.
São pessoas que abraçam.

E claro, fica mais uma vez para mim a lição que o "fazer diferente" estimula partes de mim que eu normalmente não trabalho e que portanto, estou em constante possibilidade evolutiva.
Não é porque meu corpo parou de crescer depois da adolescência, que minha mente deve parar também.
E o "fazer diferente" é o que possibilita esse crescimento.

Estamos nos deparando com possibilidades de crescimento diariamente. O desafio é enxergá-las e aceitá-las.

Há de se aprender, sempre.