quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mar Português


Ah, Portugal...
Quanto da minha nostalgia vem de você?


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 14 de maio de 2010


Era uma vez uma menina, em seus 14, 15 anos. Essa menina tinha uma pulseira preta de rebites. Foi seu primeiro acessório "punk", uma pulseira de rebite.
Essa pulseira chamou a atenção de um menino, pouca coisa mais velho. Eles não se conheciam, mas ele a chamava de "a menina da pulseira".
Inevitavelmente, eles se conheceram. Inevitavelmente, tornaram-se amigos. Inevitavelmente, tornaram-se os melhores amigos.

Fizeram de tudo juntos. Descobriram toda a adolescência juntos.
Dentro do Opala bege do menino, eles se divertiram, e ouviram muito rock and roll.
Dentro do Opala bege do menino, fizeram planos, e falaram mal dos outros, e riram e riram.
Dentro do Opala bege do menino eles ganharam o mundo e mais, ganharam um ao outro.
Eles dançaram, e cantaram, e brigaram, e dançaram de novo...

Os anos passaram e eles cresceram. O menino foi viver sua vida em Londres.
A menina foi despedir-se dele no aeroporto.
(...durante muitos anos ela achou que essa teria sido a última vez que ela havia, realmente, o visto).

Ele viveu a vida dele em Londres.
Ela viveu a vida dela em São Paulo.
Muitos anos se passaram.

De repente, ele ficou doente, lá em Londres.
A menina não sabia o que havia acontecido, mas ele ficou doente.
Ele voltou ao Brasil, muito doente.
Ela não sabia o que ele tinha, o amigo dela.
Mas não era mais ele.
Ao menos, assim ela pensou : "Esse não é o meu amigo".

Ela se sentiu egoísta, mas a verdade é que ela se sentiu sozinha.
"Como assim? O seu amigo voltara, mas não era mais ele!"

E ela guardou aquela imagem do aeroporto como sendo a última vez que vira o seu amigo.
E ela alimentou essa imagem e sentiu saudades daquela risada sarcástica do seu amigo.

O menino e a menina se viam de vez em quando mas, a menina não sabia porque, aquele não era mais ele.
E ela, no seu íntimo, se culpava por não estar lá, do lado dele.
Mas simplesmente, para ela, não era mais ele.

Outros anos se passaram.
Alguma coisa aconteceu de novo.
A menina não sabe bem o que, mas a verdade é que o menino voltou a ser ele mesmo. Talvez os remédios tenham acabado, talvez tudo tenha se assentado, talvez os santos tenham resolvido perdoá-la, mas a verdade é que a menina, novamente, reconheceu o menino.

"Ele voltou!" - pensou a menina.
Tudo voltou.

O laço, o prazer, o reconhecimento.
Nada havia se perdido.

"O meu amigo voltou" - pensou a menina.

Quem tem, nessa vida, o privilégio de, em dois momentos distintos, encontrar o seu melhor amigo?

Pois a menina teve esse privilégio.
E ela não deixou essa chance escapar.
Não de novo.

Ele realmente voltou. O humor negro dele está lá de volta, e a risada sarcástica, e tudo...e tudo!
Ela está encantada!

E ela não vai deixar ele escapar de novo.

Ela sempre vai vê-lo. Eles agora se vêem sempre.
Ela somente toca a campainha e, quando ele atende, ela diz : "Sou eu".
E ele corre para abrir a porta, rindo...