sábado, 10 de abril de 2010

If man is five, and the devil is six...then God is seven!


Eu tenho a sorte de ter grandes amigas.
Dentre elas, algumas são mais que amigas.
E ainda, dentre essas, uma me foi apresentada como irmã. Ela não nasceu na minha casa, mas a apenas duas casas distante da minha. Eu a conheço desde que ela nasceu e diferente de irmãs de sangue, estamos juntas até hoje porque assim escolhemos. Nenhum laço de sangue nos obrigou a isso, nenhuma festa de família nos une.
Estamos juntas porque queremos.

Essa minha amiga está grávida de seu segundo filho. Eu o chamei de João, sem ao menos saber se era um menino. Agora sei ser um menino, e eu o chamo de João. O João (que eu não sei se terá esse nome) é irmão do Pedro. Eu o quero bem. Eu quero bem ao Pedro. Eu quero bem ao pai do Pedro e do João.
Eu quero bem a todos os que fazem parte da vida dela.

Ontem fiquei sabendo que minha amiga foi internada, por causa de uma infecção. Nada grave, mas ainda assim ela teve que ser internada.
Falei com ela dois dias antes e ela comentou sobre essa possibilidade.
Quando liguei para ela no dia seguinte, a ligação caiu na caixa postal e eu deixei recado. Ela já estava internada e eu não sabia.
Ontem liguei de novo, ela atendeu e me contou que estava no hospital.
Eu disse a ela que iria ao hospital e ela me disse que não precisava.

Antes do dia acabar, fiquei pensando em como somos diferentes.
Se eu estivesse internada, eu teria ligado para ela e feito de tudo para que ela fosse me ver no hospital.
Ela não me ligou e como sempre, disse que ir visitá-la seria uma chateação e que eu não precisava fazer isso.

Ontem foi sexta feira e choveu o dia todo. À noitinha fomos todos visitá-la no hospital. Claro que pegamos um trânsito infernal e demoramos um monte para chegar.

Minha amiga riu, porque tinha certeza que eu iria.
Se eu estivesse internada, ela iria também.

Somos tão diferentes mas caminhamos, durante toda a nossa vida, sobre o mesmo trilho.
Nossas pegadas, muitas vezes, se confundem.

E não havia nada que eu pudesse fazer a não ser ir vê-la. Mesmo não sendo nada grave não pensei, nem por um segundo, em não ir vê-la.

Porque caminhamos sobre o mesmo trilho e quando há nuvens sobre a cabeça dela, há nuvens sobre a minha também.

domingo, 4 de abril de 2010

A calçada do outro lado, a rua de trás.


It´s a long way, it´s a long way...

Muito tempo longe, meio sem tesão de escrever.
É tanta coisa que se passou, e outras tantas que ocorreram só na minha cabeça...outras sobre as quais quis escrever mas simplesmente não escrevi.
Bobagem minha, mas por um momento perdi o tesão. Eu fui fiel à perda dele e não escrevi.

Dona Eugênia morreu e sua morte me fez pensar. Ninguém é o que a gente pensa que ele é, ou ao menos ninguém é só aquilo que a nossa ridícula forma de pensar imagina que ele seja.
Eu fico rotulando as pessoas, e tento fugir de rotulá-las e me pego rotulando-as e rotulando-as e o meu tentar ínfimo não serve de nada.
Pois quando a Dona Eugênia morreu eu presenciei uma cena tão bonita, de um cavalheirismo tão grande, e ao mesmo tempo uma cena de tamanha fragilidade que me emocionou. Dela não me esqueço jamais. E realmente, as pessoas são mais do que simplesmente o que vêmos. Quando as vêmos, usamos olhos rasos.
É necessário aprofundá-los.

Fui para Pira e como sempre, corri em Pirassununga. Busco sempre o conforto (o que é um péssimo hábito meu) e corri pelas ruas conhecidas, onde os cachorros não me perseguem e onde a quilometragem me é conhecida.
Hoje, não sei porque, mudei de trajeto. Fiz um longo caminho, nunca antes feito. E fui tomada por uma energia extra, guardada sei lá onde para ser usada em momentos assim, suponho. E as músicas do meu Ipod tocaram de uma forma diferente, e a mim me pareceu que eram outras músicas.
E nesse trajeto novo encontrei, logo cedo, um amigo que não via há muito tempo.
Ele sorriu e acenou e eu fiz o mesmo. Não o via há anos e a cada vez que eu fazia o mesmo trajeto, eu perdia a chance de vê-lo. Pois hoje, ao aceitar a mudança, eu o vi. E fiquei muito feliz, por vê-lo tão bem. E gritei um "Que legal te ver!" que foi muito genuíno, porque era a pura verdade, o espelho real dos meus sentimentos naquele momento.

Ganhei de um irmão um livro sobre o Caetano Veloso. O livro era dele e não é novo.
Ele me mandou porque me ouviu dizendo que, assim como o Roberto Carlos tem a Hebe Camargo, o Caetano tem a mim. Eu sou a Hebe Camargo do Caetano.
E meu irmão me mandou o livro, e eu o li no final de semana.
O cara é chato, o cara é narcisista, o cara é genial.
O cara fez algo como "Transa", que tira meus pés do chão e nocauteia o meu coração, durante toda a audição. Me sinto assim durante a execução das sete músicas do disco.
Me sinto assim na maioria das vezes que o ouço cantar, na maioria das músicas.
É como se estivesse ouvindo-as pela primeira vez e a cada vez, elas soam diferente.
(...nine out of ten movie stars make me cry, I´m alive!)
Ninguém é só isso, ou só aquilo.

Muitas vezes eu me pego, por puro conforto ou até receio, querendo ser só isso ou só aquilo.
Mas todas as vezes que eu me permito ser algo diferente daquilo que presumi ser, eu me deparo com sensações deliciosas e, internamente, me felicito.

Meu destino pode ser fazer igual.
Mas meu desafio eterno é tentar fazer diferente.
Ver diferente, escrever diferente, amar diferente.
Deixar que o vazio no estômago não me assuste, mas me impulsione.
E talvez assim, ter mais sensações como a que tive hoje. E assim quem sabe eu possa gritar mais vezes, até mesmo para mim mesma : "Que legal te ver".