quarta-feira, 29 de julho de 2009

Carpe diem

Ter 39 anos e a certeza que ainda nem cheguei lá...
Ver meu Joey fazer o sinal de positivo e dar seu sorrisinho lindo a cada foto que vou tirar dele.
Ver no meu Luigi sinais inequívocos de "criança grande", mas ainda vê-lo, inúmeras vezes, reagir como meu eterno bebê.
Perceber neles os meus olhos, ou os olhos do Klau, ou o humor do meu irmão, ou a obstinação do meu cunhado.
Meus cachos nos cachos do Luigi.
A boca do Klau na boca do Joey.

Ter já alguma serenidade, e por tantas vezes, não ter serenidade alguma.
Fazer planos e saber, na tranquilidade, que nem todos vão se concretizar.
Dormir bem, beber bem, comer bem. E bem acompanhada.
Fazer promessas e escorregar às vezes.
Pedir desculpas, e mais desculpas, e mais e mais...e ser desculpada.

Correr cedinho, com meu Ipod e minhas músicas. Rasgar o vento, correr até doer.
Descobrir novos prazeres.
Fazer planos para um curso de fotografia no futuro.
Fazer planos para cozinhar no final de semana. Escolher as receitas.
Dançar. Dançar na aula, dançar conforme manda a Helô. Descobrir minhas próprias formas, minhas próprias fórmulas.
Descobrir a dança. E dançar!

Fazer amigos.
Retomar antigas e grandes amizades. Ter a certeza que o tempo, para nós, não passou.
Ver minhas amigas.
Ser capaz de ver nas minhas grandes amigas os meus próprios traços.
Após tantos anos, somos como irmãs.
Somos cúmplices e não falhamos.
Somos cúmplices e não falamos. Apenas sabemos.

De repente, ter algo também para ensinar, além de tudo a aprender.
Ser dona do meu nariz.
Ser ouvida.
Ser essencial para alguém.
Não ser a pessoa mais importante do mundo, nem para mim mesma.

Fazer planos de ter uma cachorrinha. Escolher o nome.
Pensar em como o Joey vai ficar feliz.
Pensar na proteção, no carinho, na ternura...para ela também.
Mais alguém na nossa casa.

Ganhar um beijo, ou dois, ou três, quando chego em casa.
Ser a confidente dele.
Confidenciar para ele.
Saber quando ele está de mau humor.
Saber quando eu estou de mau humor.
Rir das percepções.
Não levar as brigas a diante. Só um pouquinho...

Ouvir : "Mamanhê!"

Ir ao cinema, sair para dançar, tomar cerveja com os amigos, tomar vinho lendo o jornal na sexta feira à noite.
Viajar.
Antecipar o verão. Sentir saudade do verão em pleno Julho.
Pegar um bronzeado e usar biquini o dia todo.
Tomar suco bem gelado.
Passar o dia todo no clube.
Passar o dia todo na piscina do meu pai.
Nadar!
Ver o mar!
Respirar!

Encontrar os meus irmãos.
Ser quem eu sou.
Estar com meus pais.

Compartilhar livros.
Baixar músicas. Comprar cds.
Ouvir Bowie, ouvir Prince, ouvir Ramones, ouvir Lou Reed, ouvir Frank Black. Ouvir Caetano.
Ir à um espetáculo da Deborah Colker.

Gostar de trabalhar.
Gostar de acordar cedo e respirar fundo.
Sentir minha musculatura. Sentir-me 100%.
Morar em São Paulo. E adorar!

Ter a sorte de um amor tranquilo. Imprevisível e tranquilo.
Saber-me amada. Saber amar.

O melhor lugar é aqui e é agora.
O melhor lugar é ser feliz.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Terceiro

Sou mãe de dois filhos.
Eles são tudo o que eu tenho.

Sempre quis ser mãe. Nunca me passou pela cabeça não sê-lo. Os dias de nascimento dos meus filhos foram os momentos mais felizes da minha vida.
Não gosto quando eles não estão comigo, preocupo-me e não sossego enquanto eles não estão de volta à onde sempre deveriam estar...sob minha asa.
Meus filhos são como milagres para mim. Agradeço todos os dias a alegria suprema e o privilégio imenso de tê-los.

Após o nascimento do Joey, meu caçula, nunca considerei que meu papel, quanto a "ter filhos", estivesse concluído.
Sempre quis ter mais um.
Sempre achei que 3 é um número bem legal.

Minha vida é bem simples. Não almejo grandes posses, sinceramente.
Moro em uma casa legal, mas sem luxo algum.
O lugar que eu mais amo no mundo é Pirassununga, que fica só a 2 horas de viagem daqui.
Não preciso de nada, além de um bom tênis, para fazer uma das coisas que mais gosto na vida, que é correr.
As minhas aulas de ballet são o único "luxo" que tenho.
A comida que eu mais gosto é arroz e feijão. Qualquer coisa, com eles, para mim está ótimo.
Tenho tudo o que preciso.

Meus filhos vivem assim como eu. Não são crianças cheias de vontade, e quando as tem, eu os desencentivo a tê-las.
Apenas faço questão de que eles estudem em uma escola de 1ª linha.
E eles estudam em uma escola excelente...excelente e muito cara.

Atualmente, não temos condição, aqui em casa, de ter um terceiro filho e manter o mesmo padrão de escola para os meninos. E fazemos questão da excelência do ensino.
Tenho 39 anos e não tenho muito mais tempo para engravidar...portanto, durante um período, achei que teria meus 2 filhos somente, a despeito de ver-me, sempre, como uma mãe de 3 filhos.

No último Dia das Mães fiquei, como sempre, emocionada com as propagandas a respeito do Dia e com as fotos de mães segurando seus bebês. Fiquei triste imaginando que nunca mais seguraria no colo um bebê que fosse meu, justamente eu, cujo colo serviu de cama, inúmeras vezes, para meus filhos (e serve até hoje).

E de repente, tive uma idéia. Acho que a melhor idéia que tive na vida.
Afinal, eu não tenho condições, agora, de ter outro bebê. Mas no futuro terei.
E meu terceiro filho não precisa vir da minha barriga. Ele pode, certamente, vir do meu coração.

E como em um banho quente em um dia de frio extremo, essa idéia tácita invadiu meu pensamento e tornou tudo tranquilo e confortável.
No futuro, quando os meninos estiverem mais crescidos e nossa vida mais estabilizada, meu terceiro filho chegará.
Eu vou achá-lo, com certeza. Vou saber quando ele chegar, e vou buscá-lo, onde ele estiver.
E esse meu colo vai poder matar essa sede imensa...

Não prefiro menina ou menino, branco ou negro...meu bebê já é meu, onde quer que esteja, esperando para, no futuro, nascer.
Gosto de pensar que atualmente ele está no colo da minha vó Maria, no Céu, esperando seu momento de vir para a gente.
Gosto de pensar assim.

Algumas pessoas dizem que eu não vou dar conta de sustentar esse plano; dizem que, com o passar do tempo, à medida que meus meninos crescerem, eu vou ter mais liberdade para cuidar da minha vida e não terei disposição para começar tudo de novo.

Mas isso não vai acontecer.

Sei disso porque não tenho as pretensões que a maioria das pessoas tem.
Eu não quero ter liberdade de ir e vir.
Eu não faço questão de viajar, nem de ir a bons restaurantes, nem de poder dormir até tarde ou sair para dançar.

Meu terceiro filho é muito mais importante que tudo isso.
E eu não vou abrir mão dele.
E minha mãe me disse que eu estou certíssima. E era tudo que eu precisava ouvir.

Agora fico calma e tranquila por saber que tudo está só começando, que à medida que meus meninos crescem, eu só estou, cada vez mais próxima daquele que ainda não conheço, mas já amo.

domingo, 19 de julho de 2009

Canaã na Vila Caiçara

"Comparada aos desertos circundantes, a terra de Canaã era uma terra de fartura, onde havia uvas e outras frutas, azeitonas e mel, daí ter sido vista por Abraão - originário da região do atual Iraque - como a "terra prometida", "onde corre leite e mel".

Eu gosto muito de praia e mar. Sempre gostei. Meu pai também.
Durante toda a minha infância e anteriormente, durante toda a infância dos meus irmãos, tivemos uma casa de praia, mais precisamente na Praia Grande e mais precisamente ainda, na Vila Caiçara.
Íamos sempre que podíamos, o carro lotado de bagagem e obviamente lotado de gente.
Levávamos comida, leite, travesseiros e eu, particularmente, levava a minha imensa vontade de mergulhar naquele marzão.

Naquela época, a Praia Grande não era, de forma alguma, o que é hoje. Poucas casas, ruas de areia e uma vastidão de área vazia, sem pessoas, de frente ao mar.
Naquela época, a viagem por si só era uma grande aventura. Para chegarmos à praia, tínhamos que entrar na cidade de São Paulo, à qual ninguém estava habituado. Meu pai mandava todo mundo calar a boca, desligar o rádio e ler as placas, para que não nos perdêssemos.
E nos perdíamos.

Descíamos a Serra do Mar e, lá pelas tantas meu pai, invariavelmente, dizia : "Ué, acho que os freios não estão funcionando".
Eu amava!

A Praia Grande era nosso destino certo, no verão e no inverno também.
Talvez por isso eu goste tanto de praia, faça calor ou frio. Gosto da umidade grudando na pele, do cheiro da maresia, de pisar na areia e sentir as ondas batendo nas costas.

A Praia Grande era nossa, só nossa.
Nossa e da nossa barraca listrada de vermelho e branco.

Ontem, eu, o Klau e os meninos resolvemos ir para Santos, visitar o Aquário. Descemos pela Anchieta, ao invés de descermos pela Imigrantes.
A pista mais estreita, a proximidade da encosta, me lembrou de alguma forma, das minhas idas à Praia Grande, em minha infância.

Lendo as placas que se sucediam na estrada, perguntei ao Klau se poderíamos passar na Praia Grande para que eu visse, mais uma vez e depois de mais de 15 anos, a nossa antiga casa da praia, que há muito meu pai havia vendido.

Custamos muito a achar a rua, porque eu já não me lembrava ao certo da entrada correta, e estava procurando no lugar errado. Mas perguntando para as pessoas na rua, felizmente citei o nome Vila Caiçara e me informaram que eu deveria seguir adiante, beirando o mar, que chegaria no lugar.
Assim fizemos e após uns 5 quilômetros, avistei a Avenida Maringá, que de avenida não tem nada, sendo uma rua simples.
A rua está agora asfaltada.
O terreno baldio que existia na esquina da minha casa agora abriga uma construção que, ironicamente, já está velha.
Mas a nossa casa está la. Avenida Maringá, 450.
Ela foi reformada pelo meu pai alguns anos antes de ser vendida e está em bom estado de conservação.
E está à venda!

Meus filhos no carro não entendiam porque havíamos desviado de nosso caminho original só para ver a fachada de uma casa.
Acho que tampouco meu marido entendeu. Somos tão diferentes nesse aspecto.
Mas apesar dele não entender, ele sabe dessas minhas necessidades e, mesmo nos perdendo, e tendo que pedir informações na rua, e eu tendo que ligar para meus pais e para minha tia para confirmar o endereço...ele me levou lá.

Enfim, a casa...a casinha da praia.
Desci do carro, tirei fotos, e a umidade grudou novamente na minha pele, e o cheiro da maresia invadiu minhas narinas.
E lembrei-me dos nossos almoços fartos, feitos com a linguiça do sítio, arroz e salada de tomate. Chegávamos da praia esfomeados e nos fartávamos com isso.
Lembrei dos litros e litros de água do mar que engoli, enquanto conversava com quem quer que estivesse ao meu lado, enfrentando as ondas da Praia Grande.
Cheguei a ir para o Hospital, de tanta água do mar que engoli.

E cantei de novo no chuveirinho externo, com porta de madeira pequena.
E comi churros no Centrinho com a Marisa.
E cochilei no sofá de plástico da sala.
E sujei o pé de pixe na areia da praia.
E dormi em beliche.

Na parte superior da fachada da nossa casinha de praia havia uma placa, onde se lia "Canaã".
Pensando hoje, percebo a perfeição desse nome.
Nossa casinha na praia não era grande, ao contrário. Era uma casinha simples, pequena, geminada, onde cabia uma família grande, cheia de crianças.
Nossa casinha na praia não era localizada em praia chique, mas a imensidão de areia que lá existia para corrermos não se encontra em outro lugar.

Canaã quer dizer terra de fartura.
E era isso que tínhamos lá.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Que pena...

Quando muito já foi dito, muito já escrito...fico triste.

Falo para o meu filho que não importa o quanto maluco ele era, não mais.
O quanto não se aceitou, ou o quanto se desbotou...não importa!
Quero dizer para o meu filho que o importante era a música, a voz e a dança...acho que principalmente a dança.
Esqueço de toda a bizarrice...meu filho é pequeno e não quero que se atenha ao superficial, mas sim à dança, à dança dele.

Quero que saiba que aos meus 14 anos, eu gastei todas as minhas meias fazendo moonwalk em todos os lugares... corredores da escola, quintal da minha casa...moonwalk baby!

Quero que saiba que ninguém da minha idade, ninguém no mundo todo, foi indiferente a ele.
Quero evitar que meu filho atenha-se à bizarrice.
Esqueçam o superficial, vamos focar na falta que ele vai fazer.

Eu queria dançar como ele. Aos 14 anos, eu só queria dançar como ele.

Atenção para a arte, ele era um artista, um bailarino. Perfeito.
Respeitem seu talento!

E falam de como estava, de quanto pesava, de seu cabelo, da sua pele, de sua herança, de sua dívida, de seus filhos...
Eu só me interesso por sua dança.
Moonwalk baby!

Quando teremos outro cara como ele? Quantos séculos serão necessários?

O mundo sem ele está estático. O mundo, sem sua dança, está triste.

Keep moonwalking baby.
Moonwalk Michael!