quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Bom dia, Aurora!



"Aurora : deusa do alvorecer na mitologia romana".

Ela se chama Aurora, mas todos a conhecem por Lola ou ainda, para nós, tia Lola.

Minha tia é uma mulher à frente do seu tempo e chego a pensar que à frente de qualquer tempo.
Ela não está mais entre nós, mas alguém me disse que àqueles que amamos e que já partiram devemos nos referir sempre no tempo presente, pois assim, eles se fazem presentes também.
Tia Lola está aqui.

Minha tia foi uma aventura e um mistério para mim quando eu era criança, pois eu a via com muito pouca frequência. Mas todas as vezes que a via, era como se visse algo muito diferente do que eu estava habituada, talvez pela sua desinibição, sua força natural e motriz ou ainda por sua extrema e por vezes desconcertante naturalidade.

Em minha vida adulta, tia Lola tornou-se minha amiga.
Nos aproximamos muito, eu e minha tia, e em consequência, meus filhos e meu marido se aproximaram dela também.
Valor inestimável teve essa aproximação para meus filhos, que puderam conhecer de perto e conviver com essa mulher única.
Valor inestimável para a minha família, nossa família formada por nós quatro.

Conversamos sobre a vida e sobre as nossas vidas que tanto demoraram a se cruzar.
Ela é irmã de meu pai, mas tivemos pouco contato durante grande parte de minha vida.
Na verdade, tive pouco contato com toda a família de meu pai e a razão disso não sei com certeza, mas formo especulações dentro de mim.

Sinto que, com sua partida, foi-se também a possibilidade de conhecer mais dessa família, que é tão minha e que pouco conheço.
Primos, primas, tios que já se foram...Lola era uma ponte para eles, uma possibilidade.
Ela se foi e sinto que essa possibilidade foi com ela.
Mas acreditando naquilo que me foi dito um dia, e no quanto penso nela, a cada pensamento ela se faz presente e essa ponte volta a se materializar.
Que coisa louca a vida é...

Tia Lola é uma senhora em um corpo de menina e uma menina em um corpo de senhora.
Talvez a maior energia com a qual já me deparei.

Comecei a lhe telefonar com frequência e ela simplesmente abriu suas portas para mim.
Almoçamos juntas, conversamos muito, tomamos nossa cerveja por diversas vezes.
E eu tive a oportunidade de lhe dizer que a amava, e o quanto me orgulhava ser sua sobrinha.

Lola é um furacão. Só tenho boas recordações dela e sou grata por termos, eu e ela, trabalhado para sermos íntimas e juntas, derrubarmos um muro invisível que nos separou por tanto tempo.
Agora que ela se foi, posso dizer que eu era sua amiga, e foi o que eu disse aos seus filhos :
"Ela era minha grande amiga".

Aos 96 anos, ela se foi. E em mim fica a sensação que ela foi cedo demais. Porque ela é uma menina, miúda, esperta e ativa.
Tive muito dela. Tive o suficiente para carregá-la comigo e fazê-la presente em minha vida prá sempre.
Ela se fará presente.

E o bilhetinho auto-colante, que eu grudei há muito tempo na minha geladeira, onde está escrito "tia Lola", para lembrar-me sempre de ligar para ela, vai continuar grudado lá.

Grande, amada e admirável tia Lola.
Inesquecível, tia Lola!