domingo, 8 de fevereiro de 2009

Os Souza

Meu sobrenome é Queiroz e Souza.

Queiroz obviamente vem da minha mãe, vem de uma família de portugueses, vem da minha vó Maria (Carvalho), com quem tive muito contato, que ajudou-me a ser criada, que me deu amor, amor e amor.

Souza vem de meu pai, vem de uma família cheia de mistura, vem da Bahia e de mais outros lugares do interior do estado de São Paulo, traz sangue índio e holandês, vindo da invasão holandesa à Bahia há muito tempo atrás.

Durante bom tempo de minha vida optei por assinar Fabiana Queiroz, porque esse sobrenome é menos comum que Souza, e eu queria assim, diferenciar-me.

Depois que tornei-me adulta, percebi que eu diferenciava-me mesmo sendo Souza, porque trago em minha pele morena e em meu humor sarcástico, muito do sangue deles. Nunca mais deixei de assinar Queiroz e Souza.

Sou a mais nova de uma famíla bastante numerosa, quase uma temporona. Meu pai, como eu, é dos mais novos de uma família muito numerosa também, até mais do que a minha, que também é dele.

Com isso quero dizer que alguns dos irmãos de meu pai já tinham idade avançada quando eu nasci e não me lembro deles. Muito ouvi falar deles, mas alguns acho que não conheci, como meu Tio Fonsinho e de outros pouco me lembro, como meu tio Gero.

De outros lembro-me bem, mas tive pouco contato, como minha tia Talina, minha tia Leda, minha tia Nana ou ainda meu folclórico tio Liro. Não sei ao certo porque tive esse pouco contato, mas tenho algumas teorias sobre isso, mas como teorias, vou mantê-las só comigo.

Fato é que, apesar dos pesares, acabei tendo mais contato com a família de minha mãe que com a família de meu pai, durante minha infância e adolescência.

Meu pai é o cara mais especial do mundo. Sério, não conheço pessoa mais maravilhosa do que ele. Ele é a pessoa mais correta, íntegra e honesta que já conheci, e além de tudo isso, ele é engraçado.

Meu pai tem um senso de humor todo peculiar, um pouco negro, que eu adoro. Meu senso de humor é igualzinho ao dele.

Meu pai tem olhos astutos, espertos e atentos, que vasculham o mundo ao seu redor.

Meu pai foi uma criança pobre, que subiu na vida sem nunca, jamais, pisar ou aproveitar-se de alguém. Ao contrário, se ele teve a oportunidade de ajudar alguém enquanto progredia, ele assim o fez.

Meu pai cuidou dos pobres e necessitados e meu pai cuidou dos idosos abandonados por suas famílias.

Meu pai cuidou dos seus filhos. Meu pai cuida até hoje de seus filhos.

Se ele combinasse algo comigo, eu sabia que, independente do que quer que houvesse, ele honraria o combinado.

A palavra do meu pai vale ouro.

Meu pai é Souza.



Com o passar dos anos, conforme tornei-me mulher e mãe, notei o quanto Souza sou.

Sou emotiva como ele. Eu choro, eu grito, eu amo, eu sofro, eu me preocupo, eu festejo...exatamente como ele. Sou passional como ele.
Vou do céu à terra em questão de segundos, assim como ele.

Há algum tempo, o irmão caçula de meu pai, meu tio Gentil, começou a escrever um livro, exatamente sobre os Souza. Nesse livro ele conta passagens sobre os irmãos dele (e de meu pai), sobre seus pais (meus avós) e sobre seus avós (meus bisavós).

No último final de semana que fui para a casa dos meus pais no interior, tive acesso a esse livro e devorei-o, encantada. Li sobre meus tios que pouco conheci, sobre outros que não conheci. Li sobre meu avô Afonso, de quem lembro-me só um pouco e principalmente, li sobre minha vó Rita, a quem não conheci.

Minha avó Rita morreu quando meu pai tinha só 18 anos.

Minha vó Rita, a quem eu adoraria ter conhecido.

Minha vó Rita, em quem, ao ler o livro do meu tio, pude perceber tanta semelhança comigo.

No amor e abnegação pelos filhos, no trabalho, no nunca parar, na preocupação em estar presente, mesmo que em alma, na vida dos filhos.

Minha vó Rita, que só conheço por uma foto, uma somente, na mesa do escritório do meu pai.

Sei que a leitura desse livro mexeu comigo.

Vi em alguns de meus tios, características de meus irmãos.
Vi na minha vó, características minhas. Nas cartas que ela escrevia aos filhos, conforme eles saíam de casa, pude sentir seu coração acompanhando cada uma dessas cartas, para pousar sobre o peito de seus filhos.

Olho com orgulho para o meu pai, que teve uma infância pobre, mas repleta de amor, com uma mãe divina, a quem procuro imitar na educação de meus filhos. Sei dela pelo que meu pai me conta, emocionado.

Queira Deus que um dia, quando forem adultos, meus filhos falem de mim com essa mesma emoção.

Estive esse final de semana com minha tia Lola, irmã de meu pai, que em seus 93 anos, mantém um brilho nos olhos invejável. Conversei com ela, rimos juntas e servia-a de um copo de cerveja.

Vamos almoçar juntas no final do mês, está combinado. Vou almoçar com a grande Lola.

Minha vó Rita, que eu não conheci, de algum lugar no céu, olha por mim, assim como minha vó Maria, a quem conheci tão bem.
Juntas, nós três, vamos um dia celebrar.

E eu sou Souza, com todo orgulho.