sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O carrosel

Gostei desse negócio de escrever enquanto ouço música.
Exatamente agora estou ouvindo "Watching the wheels" do Lennon.

Sou muito boa em algumas coisas, não tão boas em outras. É natural.
Sou boa em ter filhos. Literalmente, em tê-los: meus partos são rápidos, naturais e quase indolores.
Acho-me uma boa mãe. Acho que ser mãe é o que sei fazer de melhor no mundo.

Sou boa amiga e sou boa filha.
Nunca abandono meus amigos, e nunca vou abandonar meus pais, da mesma forma que eles nunca me abandonaram.

Sou boa com música e com as palavras.
Tenho um ouvido mega musical. Até eu me surpreendo com a capacidade dele.

Sou muito boa com bebês. Eles gostam de mim e eu sempre, sempre, gosto deles.
Sou boa em cuidar deles.

Sou boa com crianças de maneira geral, principalmente se elas não tem uma mãe chata, que tem medo de mim. As crianças costumam gostar de mim mais do que suas mães gostam, o que não me importa nem um pouco, uma vez que eu também gosto mais delas do que de suas mães.

Sou uma boa tia para as minhas sobrinhas e uma boa irmã para meus irmãos e irmãs.

Acho que sou uma boa mulher para meu marido.

Sou boa com meu passado, com meu presente e com meu futuro. Não exijo muito do meu futuro e nem me cobro muito quanto ao meu passado.
E o meu presente, eu vivo.
Tenho dois corações infantis pulsando aqui do meu lado, todos os dias, então eu só vivo para eles. Eu vou vivendo, e vou fazendo, e vou corrigindo a rota, e vou alimentando esse dois pequenos corações.
E só.

Me preparo para o próximo coração infantil que, em breve, vai morar nessa casa.
Um coração de menina (assim quer o Klauter, e eu aceito). Estamos escolhendo o nome dela e eu já a imagino.
Não vou "pegar" uma bebê para criar. Não vou pegar ninguém. Eu só vou buscá-la, quando ela chegar, porque ela já é minha e não se "pega" aquilo que já é seu.
Eu só tenho que ir buscá-la, e eu vou.
Minha pequena.
Sou boa nisso também.

Sou boa em gostar de gente.
Não costumo julgar, apenas gosto.
E gosto de uma imensidão de gente, uma mar de gente.
E sempre tem gente entrando nesse mar.

Sou boa em dançar, em correr, em amar.
Faço as três atividades com todo o meu coração.

Sou boa em lembrar, sou boa em não esquecer.

Nunca fui boa com plantas.
Apesar de ter sido criada, e ter sido a queridinha de uma mãe muito boa com plantas, eu nunca fui boa com elas.
Talvez por falta de empenho da minha parte, as poucas plantas que tive sempre morreram, mais cedo ou mais tarde, na minha mão.
E se não morreram, sobreviveram por mérito unicamente delas. Foram sobreviventes.

Cresci vendo minha mãe cuidar de seus jardins incrivelmente bonitos e floridos e tenho fincado em mim o cheiro do chão do quintal da minha casa ao ser molhado pela água que minha mãe usava para regar suas plantas.
O jardim da minha mãe sempre foi, e é, um espetáculo.

Comecei a pensar que eu gostaria de deixar um pouco dessa memória também para meus filhos.
Se não um quintal, ao menos uma varanda com flores.

Agora elas estão lá, na minha varanda. Não são mais meramente sobreviventes.
Eu as rego, coloco ou tiro do sol, alimento os passarinhos que invadem a varanda com néctar fresco e assim vou, torcendo para que não morram.

O Klauter trouxe, há algum tempo, um vaso de orquídeas maravilhoso para casa. Enquanto estava florido, o vaso ficou na sala.
Depois foi morar na varanda.

Minha mãe me disse que as orquídeas não gostam de água em excesso e nem de luz do sol direta sobre ela.

O vaso está lá, só com as folhas. Mas não morreu.
Eu cuido dele e o rego com parcimônia (as orquídeas não gostam de água em excesso, lembre-se) e o protejo da luz do sol direta.

Hoje caiu uma chuva muito forte. Fiquei na varanda, enquanto a chuva invadia o chão e molhava meus pés.
À minha direita estava o vaso.
E então, ao olhar para ele, percebi que está cheio, lotado de botões.
Outras orquídeas vão nascer em breve. Várias delas.
Fiquei muito feliz. Pelas flores e por mim.

Aos 39 anos, eu ainda estou crescendo.

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