sábado, 16 de janeiro de 2010

Que eu não esqueça!

Preciso retomar o assunto.
Após mencionar o terremoto no Haiti, em meu último post, eu disse que, antes de saber da morte da Dona Zilda Arns, minha vida continuava no seu andamento normal.
Hoje, alguns dias depois, preciso dizer que eu não quero que minha vida continue no seu andamento normal.

Hoje é sábado e, em como todo sábado, a revista semanal que eu assino chegou em minha casa.
Claro que a capa e a maior reportagem da revista eram sobre o terremoto no Haiti.
Um dos meus filhos, que é tão sensível, perguntou para mim porque colocavam, na capa da revista, a foto de alguém sofrendo.
Respondi para ele que era para que não nos esquecessemos.

Na revista havia uma foto. Entre tantos fotos de dor, havia uma em especial.
Era a foto de uma menininha. Uma menininha de 2 ou 3 anos. Morta. Jogada na rua. Lá deixada.
Não sobrou ninguém de sua família para chorar por ela.
Enquanto meus filhos dormem rodeados por brinquedos, aquela menininha não teve ninguém para reclamar seu corpo. Ninguém sobrou para chorá-la.

Eu sempre acho que eu ajudo.
Eu contribuo com várias instituições, eu dôo tudo que eu não uso, eu visito e dou carinho a crianças carentes.
A verdade é que eu não faço quase nada.

Porque ao mesmo tempo que eu faço tudo isso, eu também gasto um monte de dinheiro em roupas das quais eu não preciso, em comidas das quais não preciso, em passeios que tornar-se-ão somente fotos, ou lembranças.
Posso não ter culpa da miséria do mundo.
Mas sou responsável por ela, sim!

Eu faço um pouco. Mas eu posso fazer mais, muito mais!
E eu não faço mais porque sou perdulária, porque sou superficial.

Porque penso muito, mas ajo pouco!
Porque não preciso de mais vestidos, e mais sapatos, e mais e mais...

Porque com mais vestidos e mais sapatos, eu só procuro me inserir entre os ricos.
Mas lá não encontro a real realização. Porque lá eu não pertenço.

Minha real realização eu só encontro entre os necessitados, entre aqueles que, por uma pequena ação minha, sorriem um pouco mais.
Mas meu egoísmo, e meu consumismo, por diversas vezes, me fazem esquecer disso.

Tudo o que almejo na minha vida é que, quando eu for uma velha senhora, eu olhe para trás e possa ver que fiz a diferença na vida de várias pessoas.
Não somente na vida de meus filhos mas também na vida de crianças que não eram minhas.

Que eu possa fazer algo no mundo, de tal forma que não existam mais crianças mortas, jogadas na rua, sem que ninguém chore por elas.

Isso é uma utopia, eu sei. Mas se eu conseguir evitar que isso aconteça a uma, apenas uma criança, minha vida já vai ter valido a pena.

Evitar o desperdício da vida. É o que quero.
Respeitar a vida. Celebrar o caráter sagrado da vida.

Que Deus me ajude a ser mais decente. Que Deus me ajude a não me esquecer do exemplo da Dona Zilda Arns.
Que me ajude a fazer mais.
Que me ajude a lembrar que eu não preciso de mais roupa, ou de mais bens. Que me ajude a me envergonhar, quando eu consumir mais.

Porque hoje eu sou quase nada, eu sou quase ninguém.

Um comentário:

Dani disse...

suas palavras são sempre "tocantes", saiba q eu te admiro muitooo!!! Bj