domingo, 20 de dezembro de 2009

Ninguém é uma ilha...

"Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si só.
Se um pequeno torrão de terra, carregado pelo mar, deixa menor a Europa, também a morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à Humanidade"
John Donne

Tenho pensado bastante.
Pensado no caminho que minha vida tomou, e no quanto participei disso.
Pensado no quanto sonhei para mim e no quanto, apesar de não parecer, eu capitulo.

"Eu queria escrever um livro, eu queria compor uma música."

Dizem que no decorrer da vida, você deve plantar uma árvore e escrever um livro.
Plantei duas sementes nessa vida, duas árvores floridas, dois flamboyants de sombra gigante...e ainda não parei.
Escrevendo estou sempre. Se um dia esses escritos terão capa, não sei.
Nem sei se alguém quer lê-los. Escrevo para mim e quem sabe, para meus pais.
E quando eu não mais estiver por aqui, terei escrito para meus filhos.
Para o Lui, para o Joey e para aquela que está por vir.

Preocupo-me com o que me circunda e com o que eu mostro ser.

Hoje não foi um dia bom.
Tinha tudo para ter sido, mas não foi.
Mas também não foi um dia ruim.
Maluco isso, mas apesar de eu ter até chorado (de raiva!), não foi um dia ruim.
Porque, no meu choro, meus filhos cuidaram de mim.
Eles me acariciaram e ficaram, mais uma vez, do meu lado.
Então acho que não estou fazendo um mal trabalho.

Um dia vou envelhecer. Sou muito nova ainda para pensar sobre isso, mas um dia isso vai começar a acontecer.
Minimamente isso já vem ocorrendo, mas nesse estágio, o envelhecer é altamente relativo, porque só me torna mais sábia, mais segura, mais tranquila e mais bonita.
Um dia, esse envelhecer há de tornar-me mais lenta, mais pensativa, mais velha realmente.

Uma flor branca para minha vó, para a Mina e para a Dindinha.
Uma flor branca para a Marisa.
Um adeus para o Seu Jaime.

Só não quero faltar para alguém.
Quero ter dado a quem eu amo, absolutamente tudo o que eu poderia ter dado enquanto estava viva.
E quando eu passar a viver em outro espaço, em outro céu, só quero ter a tranquilidade de esperar por aqueles a quem eu amo de verdade, sabendo que eles continuaram a viver plenamente, a despeito de minha ausência.

Eu sou só uma mãe. É tudo o que eu quero ser, e tudo o que serei.
E meus filhos cuidam de mim, da mesma forma que eu cuido deles.
Pequenas mãos, me acariciando.

Não estou mais em primeiro lugar.
É uma experiência inigualável saber que você é capaz de dar a sua vida, facilmente, e sem hesitar, por outras pessoas.
Saber que você morreria, sem pensar duas vezes, por outras pessoas, que no fundo, são a melhor parte de você mesma.
Por eles preciso perdoar.

E os psicólogos dirão que isso não é saudável. E os terapeutas dirão que isso não é correto. E os psicanalistas tentarão descobrir algo nas entrelinhas.
Mas a verdade é que, a partir do momento que pari pela primeira vez, minha própria felicidade, da forma como costumava ser, é de menor valia.
Minha felicidade é a felicidade dessas duas pequenas almas que moram comigo.
Por elas, eu perdôo qualquer coisa.
Relevo qualquer coisa, para tornar suas vidas mais coloridas.

Mas o mais importante, além de perdoar, é esquecer.
Ainda sou uma aprendiz na arte do esquecimento.
Jamais esqueço...jamais!
Mas sou boa em perdoar.
E vou aprendendo afinal, estou só começando.

Ninguém é uma ilha.
Eu, certamente, não sou. Tenho dois braços fortes, feitos de terra firme, meus filhos, a me prender.
E meu coração, graças a eles, passa a ser um continente.

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