domingo, 18 de outubro de 2009

Marcel...burn it down!

Fui ao cinema.
Ir ao cinema é um mega programa para mim, porque amo tudo o que diz respeito a isso. A escolha do filme, as leituras das críticas que antecedem a escolha do filme, comprar ingressos, a sala escura, os traillers, o filme e o pós filme.
Aquela sensação de ter vivido outra vida, uma outra história, sempre me invade após um bom filme.

Pois então, fui ao cinema.
Fui assistir "Bastardos Inglórios", último filme de Quentin Tarantino.
Porrada!

Vivi realmente, durante as quase três horas de projeção, outra realidade, outras vidas.

O filme é tipicamente Tarantino, cheio de violência e sangue, mas também cheio de situações tragicamente cômicas.
Um mega filme.
Me pegou em cheio, pelo assunto que aborda e pelo ponto de vista sobre o assunto.

Já relatei aqui que fui criada por pais que tem verdadeiro horror aos sistemas totalitários.
Fui criada também em uma família cheia de misturas étnicas, sendo eu uma salada composta por sangue português, mouro, índio, negro e holandês.
Dessa forma, pelo horror ao totalitarismo e por ser eu totalmente miscigenada, reprovo todo e qualquer tipo de preconceito.
Tenho amigos negros, brancos e orientais, ricos e pobres, judeus, católicos, espíritas, agnósticos, homossexuais e heterossexuais.
Tenho amigos, simplesmente.

Sempre que ouço falar de alguma ação preconceituosa, ela parece-me totalmente estúpida.
As ações preconceituosas me causam repulsa e me policio para nunca, mesmo que inconscientemente, cometê-las.

O filme de Tarantino se passa no Terceiro Reich, na época da dominação nazista na Europa.
Os Bastardos Inglórios eram um grupo de pessoas que combatia o nazismo, exatamente da mesma forma que o nazismo tentava se projetar, ou seja, através da violência absoluta.
De uma forma emblemática, Tarantino mostra o que a maioria de nós sempre quis ver, o movimento nazista ser combatido com seu próprio veneno composto de terror, violência e maldade.
E o filme é isso, a vingança judia tomando corpo e chegando ao sucesso.
O doce sabor da vingança.

Parece-me contraditório, da minha parte, ter tido tanto prazer em ver essa vingança, ainda que somente em um filme.
A vingança foi soberbamente violenta e eu, sendo contrária ao totalitarismo, devo colocar-me contra os atos violentos também.
Mas, pelo horror que o nazismo sempre me causou e ainda, como um reconhecimento às minhas amigas judias, devo assumir que adorei ver tal vingança.

O melhor seria que o Terceiro Reich nunca tivesse ocorrido.
Mas, já que ele ocorreu e eu nada posso fazer para mudar a história, repito com prazer :

"Marcel...burn it down!"

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