quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A fotografia

Eu, mais uma vez, estive em Pirassununga esse final de semana.
Tenho a impressão que, conforme os dias passam, eu me torno cada vez mais, pirassununguense.

Eu, mais uma vez, tive a felicidade de poder estar no lugar que mais amo no mundo e de poder fazer as coisas que mais gosto : desfrutar de meus pais, visitar a Lelê, correr nas ruas amadas, cedinho, ver meus filhos se divertirem no grande quintal de seus avós.

Meus pais tem, na minha casa de Pirassununga (eles dizem que a casa é minha também, então eu acredito e me aposso mesmo!), uma parede repleta de fotografias.
E eu amo fotografias.
A cada vez que vou lá (e eu vou com muita frequência, graças a Deus), tem uma foto nova, adornando a parede de fotografia de meus pais.
Meus pais são pessoas maravilhosas e eu tenho a impressão que eles fizeram essa parede só para meu deleite.

Quando cheguei em Pirassununga, nesse último final de semana, e entrei em casa, notei que havia outra foto, uma foto nova, mas não na parede de fotografias, e sim em outra parede. A foto estava em "destaque".
Cheguei perto para ver e meu coração ficou muito pequeno.
Muito pequeno, apertado, mesmo!

A nova foto mostrava a fachada da casa velha, da qual tanto já falei.
E a foto me hipnotizou.
Não consegui parar de olhá-la.

Que linda ela era, a minha casa velha!
Quantas vezes atravessei seu jardim, correndo, para abrir o portãozinho e entrar no carro do meu namorado.
Quantas vezes esperei meu namorado chegar, sentada no degrau que antecedia a calçada.
Quantas vezes postei-me na sacada, reclamando internamente da monotonia da cidade pequena.

Quantas vezes senti-me orgulhosa, por dizer que eu morava lá...

Porém agora eu pude ver, e não somente imaginar...eu pude ver, realmente eu pude ver o gramado do jardim, a escadinha do terraço, o portão, o portãozinho, a primavera despencando com o peso de tantas flores, a sacada, a rampa da garagem.
Eu pude ver de novo a minha casa...aquela que não existe mais, a não ser dentro de mim.
E desejei ter olhado mais para ela, ter guardado mais cada detalhe, cada pedacinho dela.

E pensando bem, acho que posso entender o porque desse meu sentimento.

Inúmeras vezes me perguntei porque meus irmãos não sentem a saudade que sinto da casa velha (ou se sentem não dizem).
E acho que percebi porque.

Aos 18 anos eu saí de Pirassununga, mas eu nunca deixei Pirassununga, não de verdade.
Por muitos anos, eu voltei todo final de semana, porque meu namorado estava lá.
Depois, eu voltei sempre, se não a cada final de semana, ao menos a cada 15 dias, porque meus pais estavam e estão lá.
E eu gosto de estar lá, mais do que de estar em qualquer outro lugar que não seja a minha casa. E meus pais sempre me dizem que lá também é a minha casa. E eu acredito!

Então, Pirassununga nunca saiu de mim e eu nunca sai de Pirassununga.

Algumas pessoas dizem que são cidadãos do mundo. Acho isso muito bonito e chego a invejar quem consegue não ter raízes.
Mas eu não sou assim.
Eu sou cidadã pirassununguense e isso se reflete no que senti quando vi a fotografia da fachada da minha casa velha.

Eu senti saudades, saudades da minha história, saudades de mim mesma, da minha meninice, da minha juventude tão sem responsabilidades.
Saudades de tanta coisa que não consigo nominar.
Saudades da segurança de ser cuidada, de ser filha.

Senti saudade daquela casa que não existe mais, a não ser dentro de mim.

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