segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Shiny Happy People...

Eu gosto muito de música. Acho que, depois dos meus filhos, marido e família (incluem-se aí os familiares de sangue ou não), música é a coisa mais importante da minha vida.
E eu gosto especialmente de rock and roll. Adoro, de verdade.

Nasci de uma mãe pianista e de um pai assobiador. Todo mundo em casa tem um ouvido muito musical. Todos nós estudamos música. Todos nós crescemos vendo a minha mãe tocar piano e todos nós, querendo ou não, aprendemos a tocar piano.

Tenho uma memória muito musical.

Sei que algumas pessoas, através de cheiros, lembram-se de lugares ou pessoas. Outras ainda lembram-se de momentos especiais através de sabores. Eu não.
A música é que me chama as lembranças. É pela música que me recordo dos momentos mais marcantes, ou simples, ou emocionantes da minha vida.
Pelo assobio do meu pai, ou por uma singela melodia que ele costuma ainda cantarolar, lembro-me da minha infância, de quando eu nadava com ele na piscina de casa no final das tardes quentes de verão em Pirassununga.
O tango também me lembra do meu pai.

O som do piano faz meu pensamento ser invadido pelo rosto da minha mãe. Onde quer que eu esteja, se ouço o som do piano, minha mãe se faz presente.
Um música chamada Flor da Paisagem me lembra da minha mãe. Ne me quitte pas, com a Nina Simone, me lembra da minha mãe.

Talking Heads me lembra de um determinado irmão, Lou Reed me lembra de outro. David Bowie me lembra de mim mesma, assim como Prince.
Algumas músicas brasileiras me lembram das minhas aulas de música no colégio, todas as segundas feiras, logo cedo, ao redor do piano da minha professora.

Ramones me lembra do meu marido. Nosso namoro, nosso casamento, nossos filhos e claro, nosso caçula, que carrega com orgulho o nome de Joey.

De uns tempos para cá, passei a ouvir muito REM. Sempre gostei bastante, mas não era das minhas bandas favoritas. Porém, certamente influenciada por uma amiga-irmã (daquelas que não é de sangue, mas é de alma), passei a ouvir cada vez mais. E melhor, passei a ouvir muito quando estava com ela, tomando uma cerveja, enquanto nossos filhos brincavam. Colocávamos o DVD e ouvíamos e assistíamos ao DVD como a um show em tempo real.
Fizemos isso inúmeras vezes e era cada vez melhor.

Um dia, esse ano, ficamos sabendo que a banda viria para o Brasil. E claro, arranjamos tudo para assistir ao show, do melhor lugar da platéia. Nos preparamos, nos aquecemos, nos instigamos e lá fomos nós.
E que show...que show!
Todo mundo que lá estava pode assistir a um show de altíssima qualidade, banda competente, repertório perfeito. Todas as críticas no dia seguinte classificaram o espetáculo como ótimo, com justiça.

Mas nada disso foi importante. O importante foi o momento que nós, eu e a minha amiga, partilhamos. Ninguém mais poderia entender o que passava pela nossa cabeça naquela hora. Foi como um selo sobre nossos 36 anos de amizade.

E no dia seguinte ela me ligou e disse que estava muito feliz. E disse ainda que, de madrugada, foi acordada por algumas pessoas que provavelmente também estavam no show e que cantavam, na rua, uma música do REM. E ela me disse, de novo, que estava feliz...
E se a minha amiga está feliz, eu também estou feliz.

E o REM veio se juntar à minha vasta memória musical. Porque, a despeito das letras politizadas da banda, e da postura engajada do vocalista, REM vai me lembrar, para sempre, da minha amiga e da nossa amizade.

Um comentário:

Anônimo disse...

"It´s a god-awfull small affair/ To the girl with mousy hair/ but her mummy is yellin "NO"/ And her daddy has told her to go/ But her friend is nowhere to be seen/ Now she walks through..."etc