
Era uma vez uma menina, em seus 14, 15 anos. Essa menina tinha uma pulseira preta de rebites. Foi seu primeiro acessório "punk", uma pulseira de rebite.
Essa pulseira chamou a atenção de um menino, pouca coisa mais velho. Eles não se conheciam, mas ele a chamava de "a menina da pulseira".
Inevitavelmente, eles se conheceram. Inevitavelmente, tornaram-se amigos. Inevitavelmente, tornaram-se os melhores amigos.
Fizeram de tudo juntos. Descobriram toda a adolescência juntos.
Dentro do Opala bege do menino, eles se divertiram, e ouviram muito rock and roll.
Dentro do Opala bege do menino, fizeram planos, e falaram mal dos outros, e riram e riram.
Dentro do Opala bege do menino eles ganharam o mundo e mais, ganharam um ao outro.
Eles dançaram, e cantaram, e brigaram, e dançaram de novo...
Os anos passaram e eles cresceram. O menino foi viver sua vida em Londres.
A menina foi despedir-se dele no aeroporto.
(...durante muitos anos ela achou que essa teria sido a última vez que ela havia, realmente, o visto).
Ele viveu a vida dele em Londres.
Ela viveu a vida dela em São Paulo.
Muitos anos se passaram.
De repente, ele ficou doente, lá em Londres.
A menina não sabia o que havia acontecido, mas ele ficou doente.
Ele voltou ao Brasil, muito doente.
Ela não sabia o que ele tinha, o amigo dela.
Mas não era mais ele.
Ao menos, assim ela pensou : "Esse não é o meu amigo".
Ela se sentiu egoísta, mas a verdade é que ela se sentiu sozinha.
"Como assim? O seu amigo voltara, mas não era mais ele!"
E ela guardou aquela imagem do aeroporto como sendo a última vez que vira o seu amigo.
E ela alimentou essa imagem e sentiu saudades daquela risada sarcástica do seu amigo.
O menino e a menina se viam de vez em quando mas, a menina não sabia porque, aquele não era mais ele.
E ela, no seu íntimo, se culpava por não estar lá, do lado dele.
Mas simplesmente, para ela, não era mais ele.
Outros anos se passaram.
Alguma coisa aconteceu de novo.
A menina não sabe bem o que, mas a verdade é que o menino voltou a ser ele mesmo. Talvez os remédios tenham acabado, talvez tudo tenha se assentado, talvez os santos tenham resolvido perdoá-la, mas a verdade é que a menina, novamente, reconheceu o menino.
"Ele voltou!" - pensou a menina.
Tudo voltou.
O laço, o prazer, o reconhecimento.
Nada havia se perdido.
"O meu amigo voltou" - pensou a menina.
Quem tem, nessa vida, o privilégio de, em dois momentos distintos, encontrar o seu melhor amigo?
Pois a menina teve esse privilégio.
E ela não deixou essa chance escapar.
Não de novo.
Ele realmente voltou. O humor negro dele está lá de volta, e a risada sarcástica, e tudo...e tudo!
Ela está encantada!
E ela não vai deixar ele escapar de novo.
Ela sempre vai vê-lo. Eles agora se vêem sempre.
Ela somente toca a campainha e, quando ele atende, ela diz : "Sou eu".
E ele corre para abrir a porta, rindo...